Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 3 de 27.

25/03/2016 - Silêncio e prece

Nesta sexta, o silêncio navega gigante pelo mar. Nem vento há. Nem brisa resta. As tempestades se dissolveram e dos olhos de sol só ficou uma fresta. Nesta sexta, besta de quem fala, de quem faz galhardia, de quem faz festejo. O dia de hoje é de prece, intimidade e cortejo. Hoje a alegria é respeitosa e a viola miúda e sestrosa. Nesta sexta, há uma imensa vontade de se aquietar, de se aninhar nos braços da quietude. Nesta sexta, ficar-me-ei mais calado do que já pude. E não calado de boca, de garganta, mas de coração. É dia de sossegar os pensamentos, de acalmar os sentimentos. Dia de controlar as emoções, de ponderar o sim e o não. Dia recluso. Sexta donde há a recomendação para não se cometer nenhum tipo de abuso. Dia inconcluso, que se repete ano a ano, para ver se aprendemos um dia a partir dos nossos enganos. Dia de silêncio e prece. O silêncio, como já diziam os sábios espíritos, o silêncio é uma prece. ...
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22/03/2016 - Sonho é sonho

Sonhar é fundamental, porém é preciso ter muito cuidado com o sonho. O sonho existe para nos inspirar nas horas mais difíceis, motivar nossos passos e construções, alimentar nossas almas, pois nem só de pão vive o homem. Porém, temos, no egoísmo, na ganância, na falta de limites da nossa humanidade, a equivocada impressão de que devemos fazer de tudo para transformar um sonho em realidade. No entanto, um sonho deve ser apenas um sonho. Tentar, a qualquer custo, concretizar um sonho implica em uma série de riscos fazendo do sonho um pesadelo. Portanto, tenha consciência de que há amores, projetos, trabalhos que devem continuar existindo para sempre enquanto sonho, cumprindo esse papel em nossa trajetória de inspirar, motivar, alimentar nossas almas. Ao alterar a natureza do sonho, que foi feito para ser sonho, querendo que ele exista de outra forma e em outro meio, causamos distorções, deturpações, reconfigurações no DNA do que sonhamos, de modo que o que se vive a partir de então não é o que um dia se sonhou. E daí não adianta correr ou se arrepender, tampouco culpar o sonho, pois o sonho deixou de existir quando você o tirou da concepção de sonho, abstrato em sua concretude, para torná-lo concreto em sua mais completa abstração.


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03/02/2016 - Santo umbu

Quando a meninada passou debaixo do pé de umbu, a menina ajoelhou de fé e o menino ficou nu. Como é que é, umbu? Umbu é a árvore sagrada do sertão, desperta reza e paixão. Umbuzeiro é ninheiro de ave, árvore que dá de beber, espécie que na hora da sede vale mais do que dinheiro. Umbuzeiro é de rede, com sua copa de guarda-chuva aninha mais do que parede. Se veste de branco, como noiva do cerrado, e se dá para as abelhas num amor melado. Tatu se refestela na raiz do umbuzeiro. Inhambu vem pelo cheiro. O fruto amarelo é doce, azedo, doce, azedo, doce, azedo e chega de lero-lero. Quando a meninada passou debaixo do pé de umbu, o menino atiçou de fé e a menina ficou de olhar nu....
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22/01/2016 - Saideira

O tempo fechou e ela não voltou para casa. Saiu de bar em bar, de boca em boca, fazendo papel de louca. Banalizou as conjugações do verbo amar e numa saideira amou mais do que muitos em uma vida inteira. Amou sem dor nem choro, mas quebrando todo o decoro possível. E se julgando infalível não avisou ou prestou conta dos casamentos e separações que foram acontecendo de repente bem debaixo do nariz da lua. E era vulgaridade demais para haver qualquer saudade. E as lembranças ficaram vazias, como gavetas sem memória. Tudo foi feito com a desculpa da bebedeira, mas todo mundo neste mundo sabe para que e para quem acendem um fogueira, bem como dos riscos de se queimar. E ela foi de braço em braço, de grito em grito, de catarse em catarse sem se preocupar com possíveis danos ou reparações. Quando acordou estava vestida apenas por quintas intenções, literalmente perdida entre razões e paixões tão inconsequentes quão inexistentes.


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18/01/2016 - Silêncio, samba e amor

Silêncio. Ninguém bate tambor. O surdo ficou mudo. O piano fechou. O conjunto de cordas do violão arrebentou. Silenciou-se tudo. O riso, a flor e o amor. A banda se calou quando o cortejo passou levando o corpo da saudade que ainda arde em silêncio em nossos peitos, com todo respeito, de um quê perfeito que se eternizou. O sentimento chorou em silêncio. O vento nos embalou em silêncio. O firmamento desmoronou em silêncio. E a paradinha da bateria da escola dos corações apaixonados durou mais tempo do que se imaginou.


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30/12/2015 - Sinhá Telvina

Na casa de sinhá Telvina, café acompanha pão com torresmo. Tem bolo saindo do forno toda hora. Comida farta no prato servida quentinha e sempre numa medida maior que a fome. Sinhá Telvina conhece nosso gosto pelo nome. É bacalhau com batata, leitoa pururuca, polenta amarelinha, carne moída soltinha, maionese com limão, croquete, kibe e asinha, quitutes de rei e de rainha. Sinha Telvina gosta de cozinhar e que todo mundo coma de se fartar. Empurra comida, dona Telvina, goela abaixo pra engordar o amor, pra alimentar o sonhador, pra cevar a vida que ela quer por perto com todo afeto. Na casa de sinhá Telvina tem doce da roça, mais do que qualquer um possa comer. Tem doce de abóbora de fiapo, tem doce de pêssego de tacho, tem doce de mamão na cal que foi inventado entre as aldeias e os navios de Portugal. Na casa de sinhá Telvina tem fruta madura e paixão que dura a vida inteira, dentro e fora da geladeira. Na casa de sinhá Telvina fogão não tem descanso e a famosa campainha, que fica na boca da gente, como sino da capelinha, balança toda hora anunciando que o trem da comilança vai passando... Feliz da vida, sinhá Telvina vai cozinhando e amando a gente, que na cozinha vai pelos sabores, temperos e lembranças... Viajando.


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30/10/2015 - Sendo assim

Eu sou aquele que acredita no amor despido de qualquer interesse, no amor maior, no amor que cura, transforma, edifica. E assim amo intensa e verdadeiramente. Tenho começo, mas não tenho fim. Sou feito de mato, de água de mina, de caminhos de terra batida. Preciso de chuva para brotar, florar, madurar. Falo sozinho. Ando com a cabeça nas estrelas. Escuto sempre o que o vento tem para dizer; E quando ele não vem eu o chamo com assovios que não sei. Protejo as árvores como se defendesse a minha família. Não sou de voltar por onde já deixei rastros, mas meu orgulho não me impede de nada. Sou da lua. Sou cíclico e continuo. Cavalgo em pensamentos que me levam pra longe. Tenho raízes, mas também tenho folhas que vão pelo mundo independentemente se carregadas por uma ventania ou ligeiramente enroscadas nos cabelos da mulher que passa. Sou crônica, conto, verso, poema, prosa, romance. Sou texto, pretexto e contexto. Tenho um coração-lamparina que clareia, alumia, relampeia e até incendia. No passado, já fui pássaro. No futuro, já fui homem. Hoje sou menino e escondo minhas asas. Sou branco, preto, mulato, caboclo. Tenho índios e pretos velhos dentro e fora de mim, que me guiam por aqui e ali e ainda a acolá. Estou entre o céu e a terra. Sou medianeiro. Sou jaguar. Amor incondicional, humildade e tolerância são minhas bandeiras. Caminho deixando marcas. Caminho tentando consertar o ontem. Guardo em mim várias vidas, mas tenho a consciência de que esta pode ser a última. Aproveito, portanto, de tudo, com tudo, no tudo. Por mais que a estrada seja longa, tortuosa, íngreme eu sei que atalhos não me são mais permitidos. Não tenho vergonha de chorar. Não nego o que sou. Não fujo do que eu quero. Lanço-me ao mundo como um punhado de semente. Sou dado ao profundo, mas é no raso que labuto e aprendo. Eu não me vendo por nada. Não sou santo, mas uma tentativa constante de ser aqui e agora o que não dei conta de ser lá atrás. Tenho em mim uma centelha de deus, mas sou humano. Busco a todo instante perdoar e me perdoar. Só não perdoo uma colher bem farta de doce de abóbora ou de um pé pretinho de jabuticaba. Não tenho medo de fantasma, de assombração, somente do que eu podia ter feito e não fiz. Sou melódico, sentimental, passional, pródigo quando o assunto é paixão. Apaixono-me perdidamente a ponto de eu me perder por completo. Perder o chão. Perder o juízo. Perder a cabeça. Perder o rumo. Perder o eixo. Porém, é no amor que me encontro e me reencontro e torno a me encontrar quantas vezes por preciso. Sou mais de escrever do que de falar. Sou daqueles que vivem o que só existe no faz-de-conta. Sou encantado por natureza. Emociono-me com porteiras, trilhos, mares, constelações, enfim, caminhos que me levam. Eu tenho meu livre-arbítrio, mas não ando só. Sei que sempre está por perto quem me quer bem e também quem me quer mal. Sou o fiel da balança. Tudo depende dos meus atos, da minha conduta, da minha vibração. Não enjeito trabalho. Se puder eu faço. Eu me coloco à mercê da espiritualidade maior. Estou a serviço do amor. Tenho ainda muito a aprender, a fazer, a desenvolver. Sou só um grão de poeira no visível do universo invisível. Em minha mudança diária quero levar cada vez menos malas, sacolas, caixas... Só me importa a bagagem interior. O corpo é só uma casca. Meus erros reconhecidos adubam meu território para que a próxima safra seja (ainda) mais proveitosa. Não há oportunidade a ser perdida. Tudo é pelos outros e pelos outros sou por mim. Cuido da minha fé em deus, em meus mentores, em mim, em meus conhecidos e desconhecidos... Fé no hoje, no amor, no auxílio, na transformação, na cura, no perdão, no que está por vir. Não mais brigo com o tempo, pelo contrário, deixo o tempo me temporizar ao seu modo. Estou com corpo, alma e espírito tentando pagar minhas dívidas, aprender a amar de verdade e ser o que eu não fui em outras experiências. Sou um caminhador. Sou um trabalhador. Sou um sonhador tentando fazer um ou outro sonho vingar. Sou imortal. Tenho começo, mas não tenho fim. E sabendo que tudo passa, tenho que praticar o desapego, por mais que isso me doa. É preciso desapegar, inclusive de mim, pois o que terminou de escrever o texto já deve ser um tanto melhor em relação ao que começou.


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29/10/2015 - Sementes ao vento

Eu não tenho medo da morte. Não acredito em azar, mas me considero um sujeito de sorte. Eu não nego o que fiz tentando ser feliz. Não sou santo e nem quero ser, ao meu ver basta manter o encanto. E no encanto me agiganto tocando a lua, libertando a alma que flutua cá dentro em mim. Não exijo demais, apenas o direito de não acreditar no fim. No fim do mundo. No fim das coisas. No fim da vida. Eu não sou profundo, mas vou a fundo. Eu sou giz riscando a lousa. Eu sou a lida do sentimento. E sentimentos são pra sempre. Portanto, faça do seu amor sementes ao vento.


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28/10/2015 - Sete em um

Eu tenho sete vidas, mas um só espírito. Eu tenho sete chegadas, mas uma só partida. Eu tenho sete linhas, mas uma só verdade. Eu tenho sete céus, mas uma só lua. Eu tenho sete ondas, mas um só mar. Eu tenho sete quedas, mas um só chão. Eu tenho sete pecados capitais, mas um só perdão interior. Eu tenho sete virtudes divinas, mas uma só humanidade. Eu tenho sete notas, mas uma só melodia. Eu tenho sete cores, mas um só arco-íris. Eu tenho sete chackras, mas um só corpo. Eu tenho sete dias, mas uma só semana. Eu tenho sete anões, mas uma só branca de neve. Eu tenho sete possibilidades, mas só uma escolha. Eu tenho sete raios, mas só uma tempestade. Eu tenho sete paixões, mas só um amor. Eu tenho sete casas, mas só uma morada. Eu tenho sete reinos, mas um só povo. Eu tenho sete curvas, mas só uma estrada. Eu tenho sete flechas, mas só um arco.


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17/10/2015 - Só isso quem aquilo

Só é grato à luz quem já chorou no escuro. Só dá valor a uma conversa quem já falou sozinho. Só sabe o que é ser feliz quem já experimentou da tristeza. Só acerta quem erra. Só levanta quem um dia já tombou. Só sabe a diferença entre o bem e o mal quem hoje não é igual ao que foi ontem, anteontem, trasanteontem. Só insiste nas sombras quem não se entrega ao sol. Só teima no errado quem não dá ouvido ao coração. Só não se dá quem tem medo de se perder. Só não chora quem tem lágrima de pedra. Só sabe a saudade quem já está longe. Só não ajuda quem nunca precisou. Só não faz a lição quem não quer aprender. Só quem se liberta do passado segue em frente. Só sofre além da conta quem consigo mesmo apronta. Só tem caminho amarrado quem não sabe desdar nó. Só não perdoa quem nunca pediu perdão. Só não vive quem não sabe amar.


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