Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 21 de 27.

27/03/2010 - Sassá e Tieta

Quando chega por volta das seis horas da manhã, no fundo da campina, um cocoricar ajuda a descortinar o negro manto da noite. O sol vai clareando aos poucos os poucos já de pé enquanto aquele galo pequeno, mas bastante invocado, dá seu recado cocoricando insistentemente. Como Peter Pan, ele não vai crescer mais. Só que ao contrário do menino das histórias infantis, Sassá Mutema não voa. Dá uns pulinhos, mas não chega a bicar os céus. Mas para que tanta cantoria?

Para anunciar o novo dia? Para despertar os dorminhocos? Para fazer bonito para Tieta? Tieta? Tieta é a galinha por qual Sassá suspira e canta apaixonado. Ela é negra, toda arrumada nas penas. Ele, meio índio, vai do azulado ao branco em seus poucos centímetros de altura. Desde que chegou ao quintal lá de casa, o casal de garnisé deu início a um encontro de telenovelas. Com a licença de Lauro César Muniz e Aguinaldo Silva, Sassá e Tieta, entre bicos e esporas, vão enredando seu romance....
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18/03/2010 - Sem maestro, a orquestra se cala

Hoje o galo de peito vermelho não encontrou motivo algum para cantar. Ao contrário de subir na cerca e cocoricar forte sua melodia caipira, abaixou a cabeça e silenciou. Seguindo seu exemplo, as galinhas carijós não vão botar ovo algum ao longo do dia. Brenda, aquela cachorra preta que o seguia pelo sítio afora, sequer se levantou. Os canários da terra e do reino, descendentes daqueles que ele capturava em arapucas de menino, não estralaram ao amanhecer do dia.

A barulhenta máquina de fazer fubá também ficou quieta em seu canto. Nem mesmo os tratores quiseram papo, ficaram mudos e com faróis baixos. Ao contrário de apitar, o trem que corta o sítio ao meio há mais de quarenta anos, soluçou. Os mais de mil pés de abacate se curvaram em sinal de reverência. A terra sangrou de dor ficando ainda mais vermelha. As águas correntes que alimentam o lago pararam de correr. As tilápias, tão cobiçadas por ele, não saíram de suas tocas....
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25/02/2010 - Sem inspiração

Desta vez o papel em branco não me diz nada. Completamente nu de linhas e palavras, cala-se como um paredão de concreto branco. Os olhos chegam a doer olhando para ele. As mãos o percorrem de ponta a ponta, mas não conseguem colocar letra alguma ali. A folha pesa na cabeça do escritor, que pressionado se esvazia de qualquer inspiração. Coloca a imaginação para funcionar, remexe livros antigos, busca recortes, espia pela janela, mas não há nada que o motive a desfazer aquela branquidão.
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16/02/2010 - Sumiço de mulher

É um pássaro no céu, é um vintém na mão, é uma folha de papel ao chão dizendo seu nome, seu nome, seu nome... Hoje eu acordei com fome de você e no primeiro reboliço sai pelas ruas tentando encontrar o porquê de seu sumiço. Será feitiço o que a levou? Será um bicho o que a pegou? Será que foi apanhada feito flor? Seja lá o que for, voou, voou, voou... E o beijo derradeiro segue em cortejo pela boca vazia, pela alma vazia, pela casa vazia...

Rolou pedra, desceu chuva e a lua pousou de viúva. O mundo virou de pernas para o ar e eu, aqui e ali, querendo lhe encontrar. Procurei pelas vitrines, pelas janelas dos arranha-céus, pela fenda de biquíni, por debaixo dos véus da cidade. E só encontrei, ai que maldade, as linhas da saudade. Por onde anda você? Será que se enfiou em algum buquê? Por onde anda você, que ninguém vê? ...
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06/02/2010 - Se algum dia na vida você precisar

Se algum dia na vida você precisar, feche os olhos e ela prontamente virá ao seu socorro. Ela é mãe e consegue escutar até o dobrar de um cílio de seu filho. Não tenha medo, pois é sempre cedo para conhecê-la e tê-la como espada, como escudo, como coisa maior do mundo. Ela é rainha, mas sabe servir e ajudar. Por isso, se algum dia na vida você precisar, escolha um dos tantos nomes que ela tem e a chame como nunca dantes chamou ninguém.

Se algum dia na vida você precisar, estenda a mão e ela, que já anda ao seu lado, irá conduzir os seus passos. Não precisa oferecer nada material ou fazer promessas mirabolantes para ela lhe fazer parar de sofrer. Ela, como mãe do acalanto, faz de tudo para não ver o pranto de um filho seu. Se algum dia na vida você precisar e autorizar sua vinda, ela vai lhe encontrar independentemente de lugar, hora e situação. ...
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09/01/2010 - Suspiro de Neruda

Antes do último suspiro, fez o último dos últimos pedidos. Queria ouvir novamente um poema de Neruda. Ora, veja se isso é hora de se preocupar com um poeta chileno. Podia ter pedido um legítimo escocês 20 anos, um chocolate suíço, um charuto cubano... A enfermaria virou uma confusão. Nenhuma das enfermeiras saberia declamar o tal poema que falava de amor, de juventude, de liberdade... O anestesista não gostava de poesia, o cirurgião só lia literatura inglesa e a médica chefe não quis mais saber dessas manifestações artísticas românticas depois que teve seu noivado desfeito. ...
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07/01/2010 - Sem papo

Eu não quero falar, ver, tampouco saber de você. Que você suma do mapa geográfico, político, astral. Que você desapareça sem deixar endereço, telefone e sequer ponto final. Que você enlouqueça, desapareça, vire às avessas que eu não ligo. Aliás, maldigo você do primeiro ao último instante. Que duvide, que revide, que olvide, mas se mantenha distante. Não me importo com o que faça, com o que seja, onde esteja. Vá com os diabos porque Deus está de férias. Ao menos, de férias para você.

Não me aborde mais. Não me escreva mais. Não me pense mais. Não insista mais em mim. Já estou para lá das fronteiras da delicadeza. Daqui por diante meu comportamento pode não ter a mesma nobreza. Invente outro caminho desde que ele não cruze com o meu. Faça qualquer coisa desde que não interfira em meus dias. Tome chá de sumiço, vire-se em seu reboliço, tome rumo num feitiço... mas sai daqui, daqui de perto, de perto de mim. Entenda de uma vez: é o fim. ...
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04/01/2010 - Subir no telhado

Ela tinha vontade de subir no telhado. Mas isso não era coisa de menina. Ainda mais de uma menina de onze anos. Tinha que ter desejos menos perigosos, como uma boneca nova. No entanto, ela insistia na história do telhado seja com o pai, com a mãe, com a irmã, com a avó, com o tio, com a faxineira, com a professora. Chegaram a marcar uma consulta em um psicólogo infantil, mas, em razão do pai achar essa imersão na psicologia perigosa demais, a menina não precisou falar de sua vida para um profissional que tinha grandes chances de jamais ter subido em um telhado....
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28/12/2009 - Sem perguntas

Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas. Agora precisamos entrar em acordo se queremos saber para onde vamos, quem somos, o que sentimos ou se vamos viver tudo isso sem perguntas. Afinal, as respostas surgem naturalmente, não precisam ser provocadas ou pré-fabricadas. Questionários só desgastam, estressam, violentam todo e qualquer relacionamento. Amor não é vestibular, mas vale uma dica: pressuposto de amar é não desconfiar.

Nenhuma pergunta acontece por acontecer. Todas têm segundas intenções e a maioria, um quê de veneno. Quem pergunta, duvida. E dúvida é o combustível perfeito para a derrocada de qualquer relação a dois. O vírus da incerteza, em termos de estragos, é pior do que o ato em si. Se existe um codinome para demônios, sem dúvida é “dúvida”. Então, pra que interrogar? Não basta viver um amor, será preciso sabê-lo? Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas disfarçado de buraco negro, pronto a sugar os amantes....
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23/12/2009 - Senhora dos amores

Pelo amor de quem nos tem amor, piedade dos que amam e amam demais, ò senhora dos amores. Eu, filho amoral, peço clemência nos autos da solidão mais que carnal. Socorrei-nos dos demônios da ingratidão e de toda aflição conjugal. Não permita, por favor, ò senhora dos apaixonados, que a humanidade sofra a dor e as dores da saudade. Que suas graças intercedam por nós, amantes convictos, não nos deixando aflitos com nossos corações em carne viva. Priva-nos do medo incisivo e do desamparo afetivo a partir do mais bonito conceito que há: o amor sabiá, que assovia em nossos ouvidos com a fúria dos cupidos. ...
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