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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 214 de 248.
Soneto da volta nº 2
Quando ela vier, que venha poente e calma
Em uma passada branda e ainda leve
E tímida vá se despindo da alma
Como lingeries de uma mesma pele.
Quando ela vier, que venha lua e calada
Deixando à mostra todos os seus eus
Eu quero senti-la a cada quimera
Suas músicas, seus cálices, seus breus.
Quando ela vier, que venha pelas costas
Com lábios de ardume e olhos calados
E azul, dependure-se nas encostas
De tantos sóis, de ciúme, mal traçados...
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Soneto das duas mulheres
Mulheres encapuzadas me envolvem
Em dois vultos que não dizem adeus
Não mostram os rostos que de azul cobrem
Só bendizem que são espécies de deus
A primeira raia sob a luz do dia
Tem uma fina penugem dourada
E dança feito uma criatura alada
Enquanto em meu ouvido sopra poesia
A segunda uiva e geme tentação
Cai em pontas da estrela negra da noite
E tem na pele a flor da inquietação
As duas me trilham em linhas da sorte...
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Soneto das flechas
Não sei de onde vim nem para onde vou
Se nasci da pedra ou do parto em flor
Eu só sei que o deus do verso ordenou
Desce e cumpre a sina de rimador
Quando tudo parecia professado
Por detrás das barbas daquele deus
Veio um sacana cupido excomungado
E bem me flechou de amor e de adeus
Condenado a uma vida de desejo
E do amor que se busca e não se encontra
Posto que está sempre de malas prontas
Nesse ritmo, rimo o mundo e versejo...
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Soneto das lembranças
Lembro-te num sorriso sem idade
Na sangria que contava coisas tuas
Como as fantasias de tantas cidades
Escorregassem em tuas costas nuas.
Lembro-te ainda em flores, mais tarde em pranto
Quando era o meu silêncio meu consolo
Lembro-te quando ficava num canto
Em pensamentos e me achavas tolo
Lembro-te assustada, teatro de olhares
Lembro-te indizivelmente em lugares
Lembro-te inteira lépida e infinita
Num juramento prometi a minh?alma...
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Soneto das moendas
Moa-me nos dentes rentes das moendas
Olhos de ferro e prenda minha vida
Nas fendas desta tua seita proibida
Coloca-me em teu altar como oferenda
Aos deuses que acreditam em milagre
Ah! Me cega me veda e me navega
Vira o meu mar em teu ruge e me entrega
À cruz dos teus seios, multiplica os bagres
E enfrenta o demônio que mora dentro
Do peito. Demônio do sentimento
Alheio que não controla e te devora
Num câncer de dor, insônias e tonturas...
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Soneto das nozes
Ouça: quando o tempo ecoar em si as vozes
De que já é tarde demais para o amor
Vai, se revira ao avesso do criador
É hora de quebrar as duras nozes
Da clausura a qual você se internou
E adoeceu na coisa amada de ira
Por amar mais do que ainda lhe restou
No desfiado emaranhado da lira
Dos dias que não lhe deixaram em paz
Paixões brutais e demais que vão e voltam
Como temporais de tempos atrás
Que jazem no chão de paixões patéticas...
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Soneto das sete
De repente, múmias e faraós
Sonhei-te em pirâmides de Gizé
Acordei no estralo dos rouxinóis
E corri ao farol de alexandria a pé
Subi ao Mausoléu de Halicarnasso
Procurei pelo colosso de Rodes
Enfrentando os soldados de Herodes
E do nosso amor, fiz estardalhaço.
No templo de ártemis, virei caça
Para ver-te nascer suspensa em flor
Babilônica num jardim que passa
Passei por matilhas ilhas e trilhas
Aos pés da estátua de Zeus, sonhador...
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Soneto das vezes
Talvez se fossem outros os profetas
Haveria um por que para as suas visões
Guardadas como se fossem secretas
Como se crêssemos em previsões.
Nós cansamos de esperar o passado
Passar. Passamos sem acontecer
O tempo dos relógios foi violado
Obrigaram-nos a nos esquecer.
Podíamos nos dar outra tentativa
Mas os sonhadores não mais aprontam
E a ilusão deixou de ser sensitiva.
As linhas da vida do equilibrista...
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Soneto de amares
Se é para amar, que ame sem maior demora
Com todas as doses de um juízo ausente
Como um ateu que encontra um deus e ora
E fiel se entrega nu e copiosamente.
Se é para amar, que não sofra demais
Que em primeiro lugar perdoe a si mesmo
Não se importa se tanto tempo faz
Posto que no amor, timoneiro vai a esmo.
Se é para amar, que o faça de áurea intensa
Não se enrede pelo que o mundo pensa
Dimensiona as medidas do seu amor....
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Soneto de anjos e demônios
A chuva chovia e molhava o jardim
Do medo onde o lírio de são josé
Colhido pelas mãos de um querubim
Era oferecido para outros pés.
Pés de santa e senhora dos pecados
Pés daquela que um dia beijou o demônio
Noutro, se arrependeu. Tempo passado,
Hoje é a rima no deuteronômio
Mais diabólica, converte e seduz
Criaturas das trevas e anjos de luz
Como o querubim que se acha cupido
De si mesmo e bíblico segue a esmo...
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