Daniel Campos

Poesias

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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 213 de 248.

Soneto da mulher amada

A mulher de amor tem olhos de ilha
Um buquê azul de segredos guardado
E quebra o mar do medo em sua quilha
Exalando o perfume do pecado.

A mulher de amor tem boca versada
Embora não diga um verso sequer
No teu céu a migração da passarada
Que semeia suas sementes de mulher.

Há uma pedra, um abismo e uma parede
No meio do caminho do amor que laça
E enlaça o sonho em fiadas de sua rede

Mulher que transpira instinto intuição...
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Soneto da partida

Pobre daquela alma que, só, morreste
Entoem a ela a elegia ainda da janela
Mas mais mísera aquela que ficaste
Velando o choro vermelho da vela

Uma se espalhava por toda estrada
Perdendo-se no desejo dos mórbidos
Enquanto outra observava desolada
A quebra dos fios dos destinos sórdidos

Ainda arde a chama fraca da esperança
Mas a morte vem assopra e não atrasa
E rasga em unhas negras a bonança

Luto. Piedade da alma que partiste...
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Soneto da plenitude

Somos toda a certeza da incerteza
O grito que não se consegue ouvir
Nossos olhos contêm uma tristeza
Mesmo quando nos pomos a sorrir.

Só vivemos quando nos dão lembranças
Nessas andanças surge a epidemia
Da saudade sul que infesta à esperança
Que existiu em nosso horizonte um dia.

O eterno nos entrega ao desespero
Na espera de um encontro derradeiro
Que se desencontra da própria vida.

Presos nas nuas correntes que tecemos...
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Soneto da primavera

Ó primavera porque veio tão torta
Entregara aos pássaros roxas flores
Mas não foi capaz de trazer de volta
Para meu corpo, o amor dos meus amores

Primavera passou e se foi sozinha
Deixando toda a saudade que há
Nas mãos da solidão que é rainha
Da sementeira do choro que já

Brota em mim. Ó primavera vá embora
De uma vez e leva o sal de quem chora
Para florir outros meridianos

Pode ir, ó primavera dos enganos...
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Soneto da receita de um amor

De repente faz do todo o seu instante
Esqueça todo espaço toda a idade
Esqueça a boca que diz o dia adiante
E expulsa do corpo a última saudade.

Inverta a ordem entre emoção e razão
Quebra sem piedade qualquer doutrina
Tranca o medo no mais fundo porão
E, suicida, joga-se à própria sina

Fira a língua em pólen de primavera
E o sexo nas estrelas da quimera
Enquanto da poesia bebe os venenos

Só e somente quando a alma se por nua...
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Soneto da roseira

Do lado de lá daquela cancela
Tem um canteiro de rosa branca
E até uma penca de lua de novela
E um sonho bem medroso que se tranca.

Dizem por ai que a rosa é milagrosa
Que cura qualquer mal de sentimento
Essa é a história da moça amorosa
Que aprendeu a falar na língua do vento

Reza a lenda que um louco sinhozinho
Tomado pelo lampejo do incesto
Sangrou sua própria filha num só gesto

Beijou-a e a tomou e a enterrou pelo caminho...
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Soneto da saudade vermelha

Tenho saudade do sítio vermelho
Onde o mato tinha cor de batom
E um casal de tico-fogo era o tom
Pela sementeira em fios de cabelo.

Saudade ardente em brasa do perfume
Da garça fumaça de um fogão a lenha
Da boca de amora e da noite prenha
Deixando o sol corado de ciúme.

Saudade da fogueira de São João
Do cachorro ruivo e da comichão
Que subia de vergonha na menina

Que se pintava no espelho do lago...
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Soneto da sereia

A tristeza não é uma rima qualquer
Não é somente um chorar em desalinho
À procura de um gesto de carinho
Que se consola no que assim disser.

A beleza é uma doutrina perfeita
Que vive, mas vive só porque é triste
E assim acredita que é o feio que existe
No reflexo que em seu espelho se deita.

Inconformada, vive a procurar
Outras belezas que valham seu dia
Se aventurando a cada sentimento.

São tantas buscas em um só momento...
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Soneto da superstição

Pula o muro, quebra o galho da arruda
Arranca sete folhas de guiné
De comigo-ninguém-pode e se cuida
Porque o mal do amor não chega a pé

Ah! A tristeza cavalga nua e a pelo
No lombo arisco de um corcel selvagem
À tua procura. Pois faça o teu apelo
Porque a dor vai deixar de ser miragem

Reza com fé pro teu santo mais forte
Acenda uma vela para sua sorte
E se esconda lá debaixo da cama

Não adianta gritar implorar rogar...
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Soneto da volta

Volta sua cadeira ainda está sozinha
Tudo enfim e por fim já se acabou
Quando como uma singela andorinha
Abriu as asas e ao céu se lançou

No meio da minha estrada nasceu flor
Floresceu outro mundo e logo murchou
Roubou o perfume, deixou-me sem cor
Quando dentre espinhos me abandonou

Pensei em mais uma de suas brincadeiras
Mas foi a derradeira de suas rasteiras
Tombando para sempre os sonhos meus

Hoje desejo olhar seu corpo longe...
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