Daniel Campos

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21/10/2012 - Doutora Josefina não pode cair

A mão branca empunha o chicote e lá vem mais uma chibatada nessa mulher que já tem o couro marcado por tantos golpes, traições, injustiças, preconceitos... Estalos e gritos... Negros de pele, de raiz e de coração chorem e lutem por essa mulher que é feita de fibra, da lida e do amor aos seus. Maranhense do interior, filha de quebradeira de coco-babaçu, conheceu de muito perto a fome, a miséria, o racismo. Aos seis anos de idade, antes dos cadernos e livros, suas mãos pegaram em vassouras, rodos, ferros de passar, panelas...

Como podem levar para o tronco uma negra que, para sobreviver, aos oito anos foi separada da mãe para trabalhar em casa de família no Rio de Janeiro? Deixou o Maranhão, mas levou consigo o povoado Manoel Bravo, que a viu nascer, mas não teve tempo de vê-la crescer. O espírito de seus ancestrais sempre lhe deram força, luz e proteção. Tudo o que fez e faz sempre foi para dar orgulho a sua gente. Mais do que uma semente de babaçu, a negra foi semente de esperança. Com trabalho e estudo, a negra virou doutora na capital do país.

Josefina Serra dos Santos, professora do que é e do que quer a negritude. Josefina Serra dos Santos, advogada dos que não tem terra, dos que não tem teto, dos que não tem renda... Josefina Serra dos Santos, militante dos que não tem vergonha de ser negro, de ser quilombola, de ser excluído... Josefina Serra dos Santos, petista da base e das estrelas que não beija a mão de cacique algum. Josefina Serra dos Santos, símbolo da liberdade, da superação, da lealdade... Josefina Serra dos Santos, EX-secretária de Igualdade Racial do Distrito Federal...

O retrato vivo da negritude brasileira foi exonerado sem mais nem menos. Politicagem?! Perseguição?! Falta de apadrinhamento?! Será que a Lei Áurea perdeu a validade? Querem mandar doutora Josefina de volta para o fogão, para o tanque, para o pano de chão. No país do racismo disfarçado, maquiado, velado, o negro que não se curva ao coronel tem de ficar na senzala. E doutora Josefina não vai rasgar seus ideais ou esquecer sua gente ou pintar sua pele para ocupar um posto de sinhazinha.

Ogum e Obá, orixás da guerra, orixás guerreiros, valei por essa negra que tem axé da cabeça aos pés. Doutora Josefina é mulher forjada a ferro e fogo como espada de Ogum, que contra sua lâmina não se levante mal algum. Doutora Josefina é resistente, não quebra nem deixa quebrar, como escudo de Obá. Pelos tambores do Maranhão, que essa negra seja liberta de tanta sofreguidão. Porque com Doutora Josefina vem uma multidão de negros e não negros lutando por Justiça de fato e de direito, Kaô Kabecilê Xangô, por uma abolição de verdade, por um país liberto da crueldade do preconceito.

Doutora Josefina não pode ser descartada como se fosse a carne mais barata do mercado. A história de Doutora Josefina não pode ser ignorada. Doutora Josefina não pode ser exonerada. O grito da negritude não pode ser calado. O sonho dos negros não pode ser censurado. As ações de Doutora Josefina não podem ser esquecidas. A mulher que sempre encheu a boca para falar que sua vida é a luta por uma alforria coletiva não pode ser vencida. Doutora Josefina não pode ser proibida de trabalhar, de denunciar, de sonhar...

Pelos negros e não negros, Doutora Josefina não pode cair, Doutora Josefina precisa ficar.


Comentários

27/10/2013, por Caetana dos Santos:

SOU JOSEFINA SERRA,pois pela sua luta,a sua resistencia,sua perseverança,tornou-se ICONE BRASILIENSE E MERECE todo o amor e respeito! Viva Dra. JÔ SERRA!

05/12/2016, por luiz victorio das neves:

estou muito feliz de ver uma pessoa de fibra e muita garra de vim de um estado muito pobre que ela e que as pessoas que sao ricos querem mais e nao ligam para os pobres mais vc deu uma volta por cima e procure sempre ajudar os mais nescesitado um grande abraço e que Deus lhe proteja que esses guardinhas que lhe abordaram vai pagar por tudo isso que foi feito com vc


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