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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 303 de 320.
Estado de emergência
Lá, deve haver aquele cachorro que anda com os olhos baixos e as costelas quase perfurando a pele. Lá, deve haver aqueles que andam com latas na cabeça, o dia todo, a procura de um pouco d?água. Lá, deve haver aquelas mães que velam seus filhos ainda bebês. Lá, deve haver aquela menina que sonha com romances nunca lidos (os olhos não sabem ler essas coisas). Lá, deve haver aquelas noites que se tornam ásperas como as mãos que lidam com a terra. Lá, deve haver aquela vontade de não se ter a hora do café, do almoço, do jantar, por não se ter o que comer. Lá, deve haver aquele homem que revira a poeira da terra com os pés, aliás, aquele homem não deve ser nem mais homem, deve ser poeira. Lá, deve haver aquela cabra que quando grita não se sabe se é de dor ou de tristeza. Lá deve haver aquela roça de milho que secou antes das espigas. Lá, deve haver aquele menino que corre com a barriga cheia de vermes. Lá, deve haver aquele rio onde correm as rachaduras da terra. Lá, deve haver aquela senhora que ascende uma vela à imagem de um santo, assim como faziam sua mãe, sua avó, sua bisavó e reza as mesmas rezas. ...
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Eu amo che guevara
Vestia vermelho. Mas não era um vestido vermelho de noite, tampouco uma lingerie vermelha de uma hora especial, muito menos um blazer para o trabalho. Era uma camiseta surrada contendo alguns dizeres que, na verdade, era um grito de guerra. E mais, era uma camiseta de hora qualquer. E a mesma camiseta usada por ela, vestia dúzias de homens que levavam em seu rosto a barba ainda por fazer. Para completar a brutalidade da veste, como uma flor que, mesmo sem querer desabrocha entre as pedras, vestia calça jeans e tênis. Nada combinava, nada rimava, nada se casava no visual daquela mulher que queria ser pedra e nascera flor. ...
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Eu e a roda-viva
Com todo o respeito e humildade necessários ouso professar: tem dias em que me sinto, tal Chico Buarque, "como quem partiu ou morreu". Dia em que me arrependo de amanhecer. Todos podem sorrir ao meu redor, mas acho isso tudo "um porre". Na cama, em casa, na rua, nenhum lugar me parece bom, uma angústia interior me percorre numa ânsia que me sufoca. Uma situação de incômodo me encurrala, não sei se o mundo me incomoda ou se eu incomodo o mundo.
As companhias pessoais ou materiais (os livros, os discos, os jornais,...) não me satisfazem. É uma sensação estranha de um desespero remoído, uma agonia que me obriga a fugir de tudo e de todos. Então, sem mais razões, encontro-me num canto, distante e solitário, onde eu posso me encontrar comigo mesmo, sem influências externas....
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Eu prometo
Há quem prometa a lua e nem mesmo alcança as estrelas. Há quem prometa tomar jeito e continua igual ou até pior. Há quem prometa o céu e nem acredita em Deus. Há quem prometa voltar e nunca mais volta, sequer para dar uma desculpa. Há quem prometa parar de fazer promessas e nem desconfia de que a vida não existe ou, ao menos, não tem graça, se vivida sem promessas.
A promessa pode se dar aos murmúrios ou até mesmo na frente das câmeras de televisão. Promessas nascem em todo lugar. Algumas são ensaiadas, outras de improviso. O ato de prometer não é exclusivo de um ou de outro, todos prometem, cada um a sua maneira. Todavia, é preciso mais do que sorte para fazer a promessa parecer irresistível....
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Eu quero lhe falar o meu amor
Eu quero lhe falar o meu amor, mas esqueci o texto. Eu quero falar o meu amor, mas não sei se os nós irão permitir. Eu quero lhe falar o meu amor, mas é preciso saber a dor que isso irá causar. Eu quero lhe falar o meu amor, mas e se eu falar errado? Eu quero lhe falar o meu amor, mas as palavras devem ser bonitas. Eu quero lhe falar o meu amor, mas e se o dia amanhecer nublado? Eu quero lhe falar o meu amor, mas eu não sei qual o horário adequado. Eu quero lhe falar o meu amor, mas eu precisava de flores, música, cenário. ...
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Eu quero uma casa no campo
O dia, da minha janela, amanheceu nublado. Embora ainda não haja enxurrada, já aflora das nuvens mais fagueiras o cheiro da chuva. Um cheiro esquecido, adormecido, perdido. Os pedaços de prédios que vejo daqui estão todos com suas janelas fechadas e assim se mostram ainda mais brutos como grandes totens emburrados. Não há ninguém debruçado nas sacadas, soltando maranhão da janela, mordiscando maçãs do amor no parapeito, tampouco fazendo caretas nos vidros temperados numa falta de sal e açúcar. No caminho de pedra, que serpenteia sob as minhas vistas, não passa ninguém. Os atletas, os trabalhadores, os foliões, os pedintes, os apaixonados, os sonhadores, os ladrões, os cachorros de coleira e os carrinhos de bebê devem estar internados dentro de casa por conta do "tempo feio", como gostam de dizer por ai em dias como o de hoje....
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Fábrica de rótulos
Apenas uma questão de tempo. Sem maiores cerimônias, conheceremos através dos noticiários televisivos, das capas de jornais, do burburinho das ruas,..., o primeiro clone humano. Alguns irão estourar champanhe, outros ranger os dentes e outros, simplesmente, calar-se-ão. Como proibir experiências científicas, quando a bomba atômica foi "testada" em uma cidade que não era fantasma. Querendo ou não, o clone humano está a caminho.
Não vou discutir o assunto tendo a visão presa às correntes clássicas. Peço licença aos papas e aos cientistas. Abram alas para a polêmica. O fruto proibido ou a glória? Tentarei me despir dos conceitos preestabelecidos e tanger a discussão para o lado que me atrai - o lado humano. ...
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Falatório
O sol ardia e gemia e subia e caia em nossos corpos febris. Um falatório sobre qualquer coisa que não fosse o sol. Ninguém esperava pela lua. Falava-se em mercado, em pesquisa, em credibilidade, só não se falava mesmo das coisas simples da vida. Uma sensação de falta de ar, embora alguns ventiladores ousassem imitar um vento que não existia. Uma gente se aglomerava e se confundia. Parecia que seus passos tinham as mesmas expressões e o mesmo desenho daquele sonho em rascunho. As flores secas queriam dizer algo que não se entendia. As luzes frias embaçavam os olhos que já acostumavam a não ver muito além. ...
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Faz-de-conta nº 2
Queria que chovesse chocolate e que a enxurrada me levasse num barco de papel. Queria que telefone celular cantasse como passarinho, num tom miudinho. Queria que jornal fosse feito de historinhas de ninar. Queria que o trabalho fosse só pra gente grande (e que essa gente grande trabalhasse no que queria ser quando crescesse). Queria que carro tivesse asas e que avião chegasse até os anéis de Saturno. Queria que existisse perfume de bolo de fubá com café de coador de pano.
Queria que toda casa fosse construída nos galhos da árvore e que os cachorros dessem cambalhotas como no cinema. Queria que a vida fosse cor de rosa, azul, verde... e não essa coisa cinzenta que anda por ai. Queria que os heróis e as mocinhas saíssem dos livros e fossem viver seus romances lá na praça. Queria que a fome não passasse de mais uma das tantas abstrações que habitam os discursos políticos. Queria que os gansos passassem no meio da rua, só pra acalmar o trânsito. ...
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Fez-se o colapso
A crise de energia que assola o Brasil é um tema gasto, porém temas só se desgastam quando fazem parte constante do nosso cotidiano e este precisa ser retratado. Falar de apagão é traçar um caminho que leva à mesmice, todavia há sempre um jeito novo para tratar "coisas velhas". É como se várias bocas contassem a mesma história, esta, entretanto, ganha um sabor diferente em cada boca.
Apagão? Pairam dúvidas e suposições enquanto a verdade permanece escondida. Desde o momento em que a crise no setor energético passou a ser mencionada, fez-se o apagão. Ele, infelizmente, ganhou vida própria em nossa realidade. Deixou de ser hipótese para se tornar um corpo concreto. Um corpo feito de watts, racionamento e mistério....
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