Daniel Campos

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Encontrados 86 textos. Exibindo página 1 de 9.

Fábrica de rótulos

Apenas uma questão de tempo. Sem maiores cerimônias, conheceremos através dos noticiários televisivos, das capas de jornais, do burburinho das ruas,..., o primeiro clone humano. Alguns irão estourar champanhe, outros ranger os dentes e outros, simplesmente, calar-se-ão. Como proibir experiências científicas, quando a bomba atômica foi "testada" em uma cidade que não era fantasma. Querendo ou não, o clone humano está a caminho.

Não vou discutir o assunto tendo a visão presa às correntes clássicas. Peço licença aos papas e aos cientistas. Abram alas para a polêmica. O fruto proibido ou a glória? Tentarei me despir dos conceitos preestabelecidos e tanger a discussão para o lado que me atrai - o lado humano. ...
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14/12/2010 - Fábrica de sonhos

Eu escrevo como uma sina, como uma missão, como um milagre contínuo. São muitas personagens me habitando, querendo sair a todo instante das minhas entranhas por meio das minhas mãos. Mãos que escrevem, mãos que digitam, mãos que esboçam o ar. São tantas histórias misturadas, aglomeradas, guardadas pelo meu eu. Personagens de tramas diferentes vão se flertando, se perdendo, se achando, se dando e se matando pelas minhas linhas internas.

No meu íntimo há um mundo mágico, habitado por mocinhas e vilões, por heróis e bandidas, por seres desta e de outras dimensões. Alimento todos eles diariamente, independentemente se reais ou imaginários. Afeiçôo-me a todos eles em intensidades e formatos distintos de afeto. Eles dependem de mim e eu deles. Não os controlo, apenas os cultivo. Eles são parte de uma grande fábrica de sonhos. ...
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01/02/2016 - Fabulante

Como que saída dos cogumelos, com olhos de marmelo e cabelos amarelos, ela apareceu com um colar de joaninhas chorando por ter nascido sozinha. E, seguindo borboletas, coloridas e bem-feitas, foi logo engatinhando, e andando e tropeçando nas folhas caídas das árvores da vida que preenchiam o bosque encantado, que ficava entre o futuro e o passado. Ela conversava com os esquilos, respondia aos grilos, falava com os sabiás, comia ingá, jatobá, araçá... E ela foi crescendo e se desenvolvendo rapidamente, como se fosse mágica, ora criando asas e penas ora nadadeiras e escamas. Brilhava igual vagalume e cantava igual pássaro em dia santo. Tinha um encanto e uma predileção por fazer de qualquer lugar sua cama, sua casa. Sabia conquistar e se aninhar como ninguém. Quando menos se percebia, já fazia parte de outro alguém.


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09/07/2014 - Faça de mim seu palco

Caminha pelas minhas planícies com seus pés de bailarina. Toca meus pontos cardeais com suas pontas numa intimidade que faz a trilha dos casais. Deixa meus pontos nervosos entregarem-se aos seus volteios luminosos, deixando-me perdido na penumbra dos nossos contrastes. Musica minhas partituras ainda não reveladas, dando asas aos gnomos que flertam dentro de suas impossibilitudes as mais nobres fadas que residem em nossos paralelos. Permita que eu me perca pelas fitas das suas sapatilhas. Mareia com seus esmaltes as minhas ilhas. Espalha o perfume de suas raízes aéreas em meus jardins suspensos. Planta seus pés nos meus contrapés. Baila pelas minhas espinhas numa coreografia tão sua quão minha. Que entre um e outro plié meus lábios achem seus pés.


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05/11/2014 - Faça tudo de novo

Faça minha barba. Corta minha unha. Escolha a minha roupa. Espere-me pra comer. Use meu perfume predileto. Leia meus versos. Massageie meu corpo. Ouça minhas dores. Divida o chuveiro comigo. Pergunte como estou. Envie-me quebras de rotina. Sonhe meus sonhos. Se entregue ao meu destino. Prova da minha fé. Toma-me de amor. Chama-me de seu. Sinta ciúme. Ofereça-me o melhor pedaço da sua vida. Casa comigo todos os dias. Peça colo e dê colo na mesma intensidade. Queria estar comigo. Não esconda o choro. Esteja sempre pronta pra viajar nas minhas viagens. Encoraja-me. Leva-me para você.


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29/07/2014 - Faça-te rainha

E veio um anjo, certamente o mais apaixonado que já cruzou esses céus, proclamando a uma menina digna de ser amada até no nome: e faça-te rainha. Mais dia menos dia toda princesa é corada soberana de seu reino. E esse coroamento não é questão de idade ou privilégios, mas de conquista. E essa menina conquistou para si um amor encantado desses que nascem de mil em mil anos. Um amor capaz de abrir mão de tudo, inclusive das suas necessidades mais básicas, para servir a essa menina de sangue azul turquesa. Um amor que vai além da compreensão humana e rende todos os seus territórios, valores e tesouros a essa mulher. O anjo se dobra à beleza e ao poder de conquista dessa mulher beijando seu pés enquanto reproclama: faça-te rainha, com direito a mantos, ouros, estrelas e diamantes.


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31/01/2012 - Faces marrons

Toda estrela tem duas faces, uma clara e outra escura. No entanto, as duas faces de Alcione são marrons. Cantando no ambiente intimista da sala de sua casa ou na quadra da Estação Primeira de Mangueira ela é simples e unicamente marrom em todas as suas faces. Soberana em todos os palcos, sua voz embala sonhos, atiça emoções, cria asas nos corpos mais céticos. Aos quarenta anos de carreira, a diva, para delírio dos apaixonados por uma música de excelência, usa e abusa de suas duas faces.
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15/01/2011 - Falações sobre o amor

Éramos dois apaixonados entreolhados. Ambos amantes, convictos do mesmo fluido poético que alimenta o coração. Em longo flerte, entre afinidades e divergências casuais, ouvimos nossas vozes em uníssono: por que é que a saudade nasce antes e morre depois de um grande amor? Concluímos, resignados: que é o amor é utopia, quem falar o contrário pode ser apedrejado. Afinal, ninguém pode dizer que viveu o pleno de um amor sem antes ter seu amor de amar terminado. E amor que termina não é amor.
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28/08/2013 - Falando e falando de amor

Cruza a rua falando de amor. Aria as panelas falando de amor. Grita, murmura ou assovia falando de amor. Digita seu texto falando de amor. Acenda velas falando de amor. Vista-se e dispa-se falando de amor. Toma café falando de amor. Deita na cama falando de amor. Pague contas falando de amor. Arruma a casa falando de amor. Molhe as plantas falando de amor. Converse com o cachorro falando de amor. Tome banho falando de amor. Perfume-se falando de amor. Ande de um lado e do outro falando de amor. Abrace, beije e morda falando de amor....
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Falatório

O sol ardia e gemia e subia e caia em nossos corpos febris. Um falatório sobre qualquer coisa que não fosse o sol. Ninguém esperava pela lua. Falava-se em mercado, em pesquisa, em credibilidade, só não se falava mesmo das coisas simples da vida. Uma sensação de falta de ar, embora alguns ventiladores ousassem imitar um vento que não existia. Uma gente se aglomerava e se confundia. Parecia que seus passos tinham as mesmas expressões e o mesmo desenho daquele sonho em rascunho. As flores secas queriam dizer algo que não se entendia. As luzes frias embaçavam os olhos que já acostumavam a não ver muito além. ...
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