Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 301 de 320.

Dama de azul

E do teatro vazio nasce uma dama de azul. Do silêncio da espera, faz-se o desespero. Da claridade em breu, surge o azul. Um spot de luz, feito um assassino, segue aquele corpo como se seguisse sua próxima vítima. Um corpo envolvido de azul. Uma blusa azul deixava os braços expostos, insinuava a leveza do colo e até desvendava um pouco das costas daquela criatura sem nome. Os mistérios e as memórias presentes à flor da pele fresca.

Do nervosismo, encena-se o drama. Das mãos aflitas, dá-se o consolo inesperado. Uma saia azul desnuda com extrema sutileza as pernas nunca dantes vistas de tal maneira. As sombras, os traços, a geometria inspiram olhares. Da face umedecida pelo suor frio do medo, unge-se a compreensão (não que ainda não a compreendesse, mas agora ela está com os sentimentos em carne viva; sentimentos que afloram como criaturas nuas em alma frente a minha palidez de palavras). ...
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Dama dos mortos

Entre túmulos e cruzes, ela caminha. Não é velório, enterro ou aniversário de óbito de algum parente, amigo, namorado. Como ontem, anteontem e trasanteontem também não o foi. Não é gótica. Não se veste de negro, mas gosta de ficar por ali, lendo a poesia fúnebre das lápides frias. Gosta de ficar perambulando e cheirando o perfume fúnebre das flores fúnebres. Em sua maioria, crisântemos brancos, roxos, amarelos. No seu suor, o cheiro de cravo de defunto escorria pelo seu corpo não menos gélido.
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Deita

Deita. Deita de bruços, com as pernas cruzadas, e com um livro nas mãos, como uma adolescente que sonha com príncipes vindos em cavalos brancos. Deita e tem em seu corpo sete cores deitadas. Deita e transatlânticos jogam suas ancoras naquele mar de pele. Deita e os desejos dos sonhadores mergulham a sete palmos. Deita e parece ser imbatível. Deita e ganha elasticidade. Deita e se distende. Deita e se contorce. Deita e nos entorta. Deita e um atirador lança facas em torno de seu corpo. Deita e muda o trajeto das estrelas cadentes. Deita e os sonhos se levantam e caminham pela casa como sonâmbulos. Deita e o longe se amansa. Deita e os desejos submergem em seu corpo como areia movediça. Deita e os olhos se fecham em copas. Deita e os anjos caem. Deita e o corpo lateja. Deita e a boca e abre como uma flor carnívora. Deita e há quem diga que morreu e há quem diga que acabar de nascer. Deita e as nuvens se agitam para uma chuva de algodão doce. Deita e os trens descarrilam. Deitam e as rodas gigantes saem rodando pelas ruas da cidade baixa. Deita e o lençol muda de cor, de textura, de temperatura. ...
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Depois do apocalipse

Leões e lobos passeariam pelas principais avenidas da cidade como cidadãos comuns. Árvores romperiam à cerâmica e cresceriam dentro de nossas casas e ganhariam os ninhos das aves mais inusitadas. Sapos e jacarés infestariam as lagoas dos parques municipais. Monumentos, como o Cristo Redentor, seriam cobertos por alguma vegetação mais forte ou se esfarelariam como biscoitos nas mãos de uma criança. Os rostos dos presidentes dos Estados Unidos esculpidas em Rushmore seriam apagados. Caros leitores, não se assustem, afinal essas cenas não são do apocalipse. Elas são de depois do apocalipse....
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Desculpas

Peço desculpas. Desculpas por lhe amar demais. Desculpas por esse sentimento extravasado. Juro que o tentei controlar, mas foi tudo em vão, a situação fugiu das minhas mãos. Desculpas por ter trocado a minha vida pela sua vida. Desculpas pelos tantos olhares divagantes que lhe lancei sem sequer perceber. Desculpas pelas vezes em que velei a sua imagem no silêncio da insônia noturna. Desculpas por achar que em algum momento eu tinha razão. Desculpas por fazer da nossa amizade algo que você não tinha conhecimento. Desculpas pelos lábios que em sonhos deslizavam em sua boca. Desculpas pelos sonhos, que foram tantos, mais que tantos. ...
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Dezembro mogimiriano

Dezembro. Ando pelas ruas de Mogi-Mirim. O trânsito ainda me causa estranheza, mas, quiseram assim. A cidade se enfeita timidamente. Por enquanto, alguns papéis metálicos coloridos e dependurados em algumas ruas do centro ditam a decoração (que está mais para fevereiro, ou seja, carnaval). Dizem que a aparência de uma pessoa reflete o seu "eu" interior. Talvez a decoração "apagada" da cidade seja o reflexo da sua administração.

E não é só a cidade (espaço físico), os mogimirianos (por hora, não vou falar em Brasil para não aumentar o drama) também estão desanimados. Ando e não vejo enfeites natalinos nas casas. E os que existem são tão tímidos quanto aos que são espalhados pela cidade. As vitrines das lojas passam despercebidas aos olhos que desejam a beleza de outros natais. Pelo ritmo atual, o clima deste natal promete deixar a desejar se comparado com o visto durante a última eleição. E olha que por aqui a campanha eleitoral foi quase nada....
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Diário de um super-homem às avessas

Sei horas da manhã. Não há galos que cantam, relógios que despertam... Só há um corpo que se levanta forçado pelo hábito. Lá esta ele, olhando os cantos da casa. Cada bibelô, cada grão de poeira, cada metro de chão ou de parede. Esfrega a mão na cabeça do filho pequeno entregue ao sono, por entre os cabelos, como quem faz uma prece. Uma prece para ninguém escutar. Toma um gole amargo de café. Apanha uma sacola, a mesma de todos os dias. Passa em frente da imagem de uma santa, benze-se. Olha para os olhos fundos da mulher, por alguns segundos estáticos. Olhos que se dão como duas estátuas. Um beijo leve. Um beije breve. Um beijo e mais nada. Faz tudo sempre igual. Abre a porta, o rangido de costume, com a mesma testa franzida, nervosa. Faz tudo como se fosse pela última vez. Ela diz para ele se cuidar. Ele engole seco e sem coragem de olhar para trás, sufoca o adeus....
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Dois dedos de prosa

Fim de tarde. Fim de inverno. Fim de campanha eleitoral. Toca o telefone. Do outro lado, uma voz frágil e, ao mesmo tempo, forte:

- Daniel?!

- Sou eu...

- Não reconhece mais a voz do irmão do Henfil?

- Não acredito... Betinho! É você? Quanto tempo!

- Pois é, quanto tempo!

- Hummm deixe-me adivinhar. Você me ligou para dizer, em primeira mão, que graças a sua intervenção aí em cima, o todo-poderoso vai fazer um milagre e acabar com a fome....
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Domingo de champanhe

Hoje é domingo, mas e daí? Ontem foi sábado e amanhã será segunda, depois virá a terça, a quarta... Domingo, nada mais do que um dia qualquer. Porém um pouco mais triste, mas nada que o afaste do comum. Triste? Comum? Ninguém (ou quase ninguém) trabalha, as camas são arrumadas mais tardes, dia de bares lotados, dia de clubes, praias, campos, dia de churrascos, espaguetes, feijoadas,..., dia de lembranças.

Bons tempos aqueles em que acordávamos no amanhecer dos domingos e tomávamos café em frente à televisão. Domingos de Interlagos, de Mônacos, de Silvertones... Tempos de hino nacional, de emoções, de torcida, de Galvão Bueno, de Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil!!! ...
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Dúvidas de um cidadão

Por mais que se fale em termoelétrica, sinto que ando desinformado. Não sei se as informações são poucas, superficiais, desencontradas ou se eu estou querendo saber além do que querem contar. Talvez seja porque eu esqueci a guerra e assim, certos assuntos não conseguem passar por mim de forma despercebida. Termoelétrica?!?!

Era uma vez uma crise energética. Era uma vez. Logo logo o governo vai dá-la por encerrada e usá-la na campanha presidencial do próximo ano. "O governo que acabou com o apagão", um belo slogan, senão pelo fato de ser o mesmo governo que criou, ou melhor, deixou criar o apagão. Gostaria de esclarecer que eu não venero nenhum partido político, isto é, voto no caráter, no humano, nos projetos e não numa sigla. Dito isso, vamos em frente....
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