Falatório
O sol ardia e gemia e subia e caia em nossos corpos febris. Um falatório sobre qualquer coisa que não fosse o sol. Ninguém esperava pela lua. Falava-se em mercado, em pesquisa, em credibilidade, só não se falava mesmo das coisas simples da vida. Uma sensação de falta de ar, embora alguns ventiladores ousassem imitar um vento que não existia. Uma gente se aglomerava e se confundia. Parecia que seus passos tinham as mesmas expressões e o mesmo desenho daquele sonho em rascunho. As flores secas queriam dizer algo que não se entendia. As luzes frias embaçavam os olhos que já acostumavam a não ver muito além.
De repente, faz-se o inesperado.
Saltos equilibristas descem a escada. Como podia se equilibrar naqueles saltos? E tinha um balançado. E tinha graça. E tinha beleza. Os cabelos escorriam corriam fugiam pelas costas que se oferecia como calda em posta. O rosto fugia dos padrões. Tinha um que de um adeus inacabado. De repente, o tema era política. O vento, as luzes, as flores, os rostos eram falsos. A mulher não sobrevivera muito tempo naquele cenário. Se é que existia de fato alguma mulher e algum cenário. O delírio. O calor. O falatório continuava. Quem sabe ela aparecesse. Quem sabe mais tarde. Quem sabe quando a lua trouxesse um pouco de si.
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