Daniel Campos

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Encontrados 372 textos. Exibindo página 27 de 38.

01/09/2010 - Ao sul do equador

Não existe milagre ao sul do equador. Abaixo da linha imaginária que divide o mundo não há muita expectativa. Há um leque de assassinos à solta e um ladrão de galinhas detrás das grades. Há milhares de focos de queimada transformando o verde em cinza. Há uma indústria produzindo promessas e mais promessas que jamais serão cumpridas. Há incontáveis escândalos públicos e privados. Há uma mulher que apanha e cala. Há uma criança que perdeu a fé no sonho. Há valas e mais valas onde se enterra o orgulho e o respeito e a esperança. ...
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30/08/2010 - Amor lilás

No topo da montanha que se ergue acima das ondas de um mar lilás, quero lhe contar o que habita neste meu coração de rapaz. Como é bom mergulhar na simplicidade dos seus olhos que são como janelas que se abrem para a luz enquanto a saudade fugaz se afoga no oceano lilás. Nada como ficar nesse ambiente costeiro, fazendo do seu corpo o meu veleiro de ilusões carnais, espirituais, transcendentais... Vamos correr para o cais. Vamos percorrer os arrozais.

E como o romance não pode parar, vamos pegar a primeira asa delta e sobrevoar uma ilha subtropical, a cidade literal e a linha que divide o bem e o mal. Vamos nos amar entre campos verdejantes, pavões e pinturas num crepúsculo lilás. Vamos ouvir atenciosamente as canções que o vento traz aos nossos ouvidos embebidos do som do mar. Já mandei encher a banheira no terraço com água lilás só pra gente ver a mudança do ciclo lunar. ...
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25/08/2010 - A gripe chegou para ficar

A gripe chegou e você não está mais aqui para me trazer um punhado de folhas de guaco. A gripe chegou e eu fiquei sem aquele conhaque com mel de jataí e limão siciliano que você sabia preparar tão bem. A gripe chegou e não há mais os ovos caipiras das suas carijós para eu engolir de forma crua, com uma pitada de sal, antes de um copo de leite morno. Você não está mais aqui para me ensinar receitas, simpatias e benzeduras dos antigos para eu afastar essa gripe, fechar meu corpo e seguir em frente. ...
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24/08/2010 - A lenda do alecrim

Maria. Maria das flores de cheiro. Maria, rainha dos jardins. Maria das pétalas delicadas e coloridas. Maria das rosas do santo rosário. Quantos os que não deixam galhas ou vasos de flores aos teus pés. Flores para agradar Maria. Flores para abrir os caminhos rumo a Maria. Flores para agradecer Maria como paga de promessas. Flores mensageiras de pedidos e preces, de sentimentos e fé.

Eu, neste dia, procuro pelos alecrins de Maria. Ah! Como eu desejo um campo repleto de alecrins para ficar próximo da Altíssima. Ao contrário de plantar soja, algodão ou alfazema, se tivesse terras plantaria alecrins. Alecrins para te ofertar, ò Maria. E não me cansaria de repetir, por incontáveis vezes, ao vento ou aos caminhantes, a lenda do alecrim: ...
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16/08/2010 - Amor em compota

O meu amor cabe num vidro de compota. Exótico como uma compota de cambuci, butiá e uvaia. Romântico como uma compota de abóbora. Amor em creme, geléia, gelatina e calda. Combina doce e azedinho, texturas distintas, distribuído em uma taça e oferecido à criatura amada, coroando o sabor que há em nossos beijos. E quem tem amor de compota não precisa de petit gãteau nem de tarte tatin. Compota de sabores e aromas da mata.

Frutas, cravo e canela. Açúcar cristal. Fervuras e banhos-marias. Mexe para lá, mexe para cá e todo o resultado dessa mexida é guardado em vidros. E nosso amor se conserva por muito tempo quando o acondicionamos da forma correta. Amor em pedaços de figos, laranjas, mamão verde, pêssegos, cerejas, peras, goiaba... Tudo bem feitinho num amor caudaloso, doce e encorpado do jeito que o coração gosta. ...
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08/08/2010 - A estrada e os pais

O meu pai dista do meu Dia dos Pais quilômetros, tempos a fio. Há um asfalto, interminável e negro, repleto de curvas e declives, separando-nos de um abraço. Os aviões que cruzam o céu agostino, tão azul quão seco, não me levam, tampouco o trazem para perto. Há uma série de acontecimentos, momentos e pensamentos passados envolvendo eu e meu pai se misturando em mim. Coisas ditas e não ditas se alvoroçando em mim. E a voz cavalga, já nem tão firme assim, pelas espirais do telefone.

Não há presentes, almoços ou outras tradições familiares entre eu e meu pai no dia de hoje. Apenas um cumprimento e uma saudação através de uma ligação telefônica. Hoje ele não vai me ensinar nada, não vai me levar a lugar algum, não vai me oferecer algo para comer ou beber. O tempo nos separa e hoje tudo é engolido a seco. Seco como o vento agostino que me traz lembranças, agradáveis ou não. Mas se eu o conheço, ao menos um pouco, sei que agora ele está ouvindo esta música, lendo o trecho deste livro, enquanto esconde os olhos embaçados atrás das lentes dos óculos....
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03/08/2010 - Anti-Deus

O homem que vai, a mulher que trai, o santo que cai. Ginga daqui, pinga dali, a cruz vira de ponta cabeça. As interpretações do evangelho e o prazer do pecador. O destemor de Deus. A sede de vingança. A loucura e a matança. A criança nascida do fogo. O uivo do lobo. O estouro da pólvora, a dor da fome, o filho sem nome. O pessimista, o egoísta, o vigarista. A paixão ganhando a lâmina, o corte e a ponta de uma faca, de uma espada. É a mula que empaca. É a mão que maltrata.

O desejo de matar e de ser morto. O caminho torto. O ponto solto. A judiação e a falta de perdão. O revés da compaixão. O arroto e o aborto. A vela da escuridão. As chibatadas e as adagas cortando e transpassando o peito alheio. A falta de freio. O braço e o reio. O fim antes do meio. Os amores bandidos, caídos, esquecidos, subnutridos, desvalidos, perdidos, desmerecidos, falidos, não socorridos, não vividos, não correspondidos... ...
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16/07/2010 - A madurez da mulher amada

Entre uma estação e outra, a mulher amada pode surpreender pela madurez de sua fruta, notada pela exuberância de elementos maduros, com o rosado e o perfume característicos, ao longo de seu corpo e espírito. Nesta fase, que pode durar um dia ou anos a fio, o ritmo da mulher amada tem outra compreensão do tempo e uma fineza e elegância dignas de sua missão: fazer apaixonar.

Na boca alheia, os lábios da mulher amada pedem uma espera longa. Entre o equilíbrio e a austeridade, os olhos de ameixas pretas têm uma maciez e um brilho sempre úmido. Tem um toque floral no aroma, bastante envolvente. De seus poros emanam notas de um marmelo cuidadosamente tostado na madeira. Caudalosa em seus atos e pensamentos, ela está sempre pronta a inebriar. ...
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13/07/2010 - A copa de Paul

Passados os trinta e um dias da overdose futebolística, uma única certeza: quem ganhou a copa foi o polvo alemão. Paul, apelidado de Nostradamus, conseguiu prever os resultados decisivos da Fifa World Cup South Africa. Com nove cérebros e uma intuição digna do reino feminino, o molusco colocou a ciência em xeque e provou o fascínio da humanidade pela instituição do mistério. Ao contrário dos estádios sulafricanos, o olhar coletivo se voltou ao aquário marinho de Oberhausen, na Alemanha, casa do polvo de origem inglesa. ...
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19/06/2010 - A era da fragilidade

Das relações econômicas às amorosas, vivemos a era da fragilidade. Tudo se quebra e se rompe e se desmancha com extrema facilidade. Contratos e beijos são voláteis. Hoje são e amanhã já não estão. Os índices das bolsas e o grau dos sentimentos se alteram numa velocidade absurda. Nunca se observou tantos corações partidos. Os divórcios batem recordes. Palavras dadas, declaradas, juradas somem no ar evaporando como fumaça. O duradouro é um tesouro raríssimo de ser encontrado e, conseqüentemente, roubado. ...
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