01/09/2010 - Ao sul do equador
Não existe milagre ao sul do equador. Abaixo da linha imaginária que divide o mundo não há muita expectativa. Há um leque de assassinos à solta e um ladrão de galinhas detrás das grades. Há milhares de focos de queimada transformando o verde em cinza. Há uma indústria produzindo promessas e mais promessas que jamais serão cumpridas. Há incontáveis escândalos públicos e privados. Há uma mulher que apanha e cala. Há uma criança que perdeu a fé no sonho. Há valas e mais valas onde se enterra o orgulho e o respeito e a esperança.
Definitivamente, não existe milagre ao sul do equador. É o subdesenvolvimento estrutural, emocional, cultural batendo à porta. É a falta de educação, de compaixão, de salvação numa história torta. É o fim da picada, o fim da estrada, o tudo e o nada. É sempre a pessoa errada aparecendo na hora e na cena erradas. É a chacina, a esmola da esquina, a estriquinina. É a queda sem fundo, a escória do mundo, a colônia do vagabundo. É o abuso, o usocapião, a mocinha namorando o vilão.
Infelizmente, não existe milagre ao sul do equador. Não adianta cruzar os braços e esperar por milagres. Existe uma burocracia terrível em torno das coisas do céu. Há filas e mais filas para falar com alguém lá de cima. Os santos do hemisfério sul se dão ao direito de fazer greve. Tudo é adiado, postergado, empurrado com a barriga como se diz. O caminho para a luz tem uma série de pedágios e contratempos.
Comentários
Nenhum comentário.
Escreva um comentário
Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.