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Encontrados 372 textos. Exibindo página 26 de 38.
22/10/2010 -
A invenção ou não do horário de verão
O primeiro dos sintomas visíveis é uma constante abrição de boca, como se a criatura em questão tivesse sido tomada por um quebranto daqueles. Olhos pesados, com quilos e quilos de areia sobre eles. Uma sensação de que se acordou no dia errado, na hora errada, no lugar errado. Parece que lua e sol se desentenderam, burlando as regras de seu platônico e milenar matrimônio. Uma vontade súbita de dormir ou ao menos cochilar. Um desejo contínuo de não se ir a lugar algum. Preguiça deixa de ser pecado para ser uma condição existencial. ...
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16/10/2010 -
A mulher de Damasco
A mulher de Damasco não é uma mulher fruta rica em fibras, com poucas calorias e que se oferece de forma seca ou fresca. Pelo contrário, a mulher de Damasco guarda em si o sal e o amargor de milênios de conflitos por território, liberdade e religião. Encontrar o doce da mulher de Damasco é uma tarefa difícil e perigosa, que pode levar o aventureiro à morte. Afinal, a mulher de Damasco fica 680 metros acima do nível do mar e é cercada por desertos e cordilheiras. Para conquistá-la é preciso muito suor, além de resistir ao clima semi-árido que ela impõe aos seus supostos conquistadores. Além disso, ao invés de um céu azul mediterrâneo, a mulher de Damasco é sempre envolta de uma estranha neblina, nublando atos e pensamentos alheios....
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08/10/2010 -
Adeus Dafne
Se for mesmo verdade essa história de que espíritos humanos reencarnam em cachorros como parte do processo de evolução, principalmente no que diz respeito à purificação, Deus escolheu uma menininha bem espevitada para habitar o corpo de Dafne, uma Cocker que passou de forma meteórica por este planeta vira-lata, recheado de injustiças e fatos que fogem a nossa compreensão. Dafne chegou como paixão à primeira vista da minha esposa, uma espécie de presente de final de ano. De lá pra cá, foram onze meses de convivência agitada. ...
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01/10/2010 -
Amor e hortelã
O amor é hortelã. A comparação pode parecer estranha, mas existe muita coisa em comum entre o sentimento-maior e a planta citada há pouco. O amor tem efeitos medicinais, estéticos, holísticos assim como a hortelã. Assim como o amor, a hortelã tem muitos nomes e variações, como hortelã-brava (todo amor tem sua bravura), hortelã-doce (todo amor tem sua doçura), hortelã-pimenta (todo amor arde e esquenta). O amor, seguindo o comparativo com a hortelã, é simples. Pode acontecer em qualquer quintal, em qualquer jardim, em qualquer cozinha. ...
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30/09/2010 -
A vida é a vida e...
A vida é a vida e nada mais. Aos que sonham, a possibilidade de viver um pouco fora da realidade. Aos que tudo aceitam, a certeza de um sofrimento menor. Ou seja, todo sonho tem um preço, toda resignação tem um bônus. Sonhar é encantador, no entanto, a dor que surge ao acordar é algo insuportável, explicação para inúmeros suicídios e crises de depressão. Ninguém pode viver absolutamente de sonhos. O sonho é chama que se apaga, é luz que fraqueja, é estrada que cessa.
Viver sonhando é viver negando a própria existência. É sempre querer mais, é nunca se dar por contente, é ir pra trás quando se quer ir pra frente. O sonho é deveras bonito, mas o ser que sonha é definitivamente ausente. Ausente de concretude, ausente de solidez, ausente de plenitude. Quem sonha sempre tem medo de acordar. Por isso, por detrás do sonho, a vida é a vida e nada mais. Já para os céticos, que levam dia após dia sem criar expectativas, viver é uma conta sem graça, porém satisfatória. ...
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26/09/2010 -
A naturalidade da mulher amada
Não existe sinal de solenidade nem de formalidades na mulher amada. Ela é de uma espontaneidade típica do amor verdadeiro. Para além do mistério natural, ela tem olhos arejados e iluminados, fonte eterna da renascença. Por entre os silêncios da mulher amada, corre um certo burburinho. Dizem que esse barulho provém da mistura de dois coros: o dos anjos adorando a criação e o dos demônios marmanjos entoado a partir de cantadas baratas. Entre o céu e o inferno, no centro de uma bagunça metodicamente ordenada, está a mulher amada. Nem santa, nem pecadora, mas tudo ao mesmo tempo. ...
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25/09/2010 -
A lua, o sol e as expressões populares
Pra inglês ou não ver, os burros deram n’água. O sol entrou com o pé direito e a lua foi dormir com uma baita dor-de-cotovelo. Os poetas fizeram vaquinha para comprar lunetas e outros apetrechos, mas se frustraram: o romance acabou em pizza. E o amor, guardado a sete chaves, chorou lágrimas de crocodilo. Agora, sóis e luas podem parar de rasgar seda e tirar os cavalos da chuva. Chuva e sol, casamento de espanhol. Sol e chuva, casamento de viúva. Viúva, a lua, escureceu entre estrelas lá pras bandas de onde Judas perdeu as botas. Na casa da mãe Joana, o sol ficou pensando na morte da bezerra jurando de pés juntos que tudo se resolveria no próximo eclipse. ...
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24/09/2010 -
Auxiliar, o verbo de hoje
Pelos caminhos certos e tortuosos, tenha certeza de que Auxiliadora é o escudo que lhe protege de todos os males temporais ou atemporais, é a força que lhe anima a seguir, é a casa de portas sempre abertas. Auxiliadora é a chama que não se apaga, o cântico que não cessa e a semente que sempre vinga. Ela é santa e mãe daqueles que foram lavados pelo sangue de seu filho. Ela é santa e rainha daqueles que conquistam o reino dos céus. Ela é santíssima, puríssima, altíssima... flor que nunca se despetala, rio que nunca seca, profecia que não silencia. ...
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23/09/2010 -
A frustração da primavera
Assim como as roupas dependuradas no varal, a lua cheia já não é tão branca assim. E o pior é que ela não foi pichada por algum apaixonado num ato de total desespero. Ela está fosca, como que coberta por uma camada de fuligem. Perdeu o brilho característico e agora adoece caída no céu. As estrelas foram todas queimadas. Não sobrou uma sequer para contar histórias sobre as constelações de aquário, de touro, de leão... O céu é de uma escuridão suja, como que coberto por cinzas. É isso, a noite virou uma eterna quarta-feira de cinzas, tão nostálgica quão triste das fantasias passadas. ...
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13/09/2010 -
Ai que coceira
Coça que coça que coça que coça. Será pó de mico? Mas cadê os macacos? O vento soprou. O fogo queimou. A mata acabou. Coça que coça que coça. Olha as unhas da moça coçando as costas do moço. Será cobreiro? Mas cadê as cobras? Elas não foram expulsas do paraíso? A coceira serpenteia e vai fazendo o corpo chacoalhar como guizo de cascavel. Coça que coça que coça que coça. Será coceira de nervoso, de molecagem ou de idoso? Prurido ou comichão, que coceira cruel. Coça que coça. Será terçol? E onde eu arranjo três luas? ...
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