Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 31 textos de janeiro de 2009. Exibindo página 3 de 4.

11/01/2009 - O tempo que divide

Entre o vento da serra e as folhas rosadas que se misturam ao chão, um homem pára diante de uma porteira fechada. Com olhos de engenharia, observa aquelas tábuas paralelas e diagonais de madeira avermelhada e começa a conversar com alguém. Embora só exista ele e a porteira, ele insiste...

- Quantas vidas se encontram e se separam aqui. Quantas despedidas, quantas partidas, quantas chegadas, quantas estradas e pegadas nascem e morrem aqui. É como se essa porteira fosse sua morada, não é tempo? É aqui que você se faz mais forte. Muitos pensam em relógios, em ventos, em calendários para lhe definir... mas nada se parece melhor com você do que essa porteira. Porteira vermelha, estradeira, traiçoeira. É como se esse monte de tábuas fosse como a folha de um livro que eu nunca li, causando medo e desejo. Quantos destinos que se dividem por essa arquitetura tão simples quão complexa. Ah! Talvez deus, ao se indignar com suas travessuras, decidiu lhe aprisionar no corpo de uma porteira. Ou talvez o demônio, o diabo dos sete infernos, amaldiçoou o mundo com essas porteiras temporais. Aqui, por essa madeira, corre o seu veio, o seu veio tempo. Se divino ou se diabólico, o que importa é que este veio não pára de correr. E são tantas velhices, crendices, tragédias, epopéias, doenças, dores e amores correndo neste veio que desafia a cerne do mundo. ...
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10/01/2009 - Amor em champanhe

Não há hora para beber champanhe. Para quem brindou na virada do ano, sinto informar, mas os brindes já passaram. E certos brindes têm data de validade. Se não há casamento, inauguração de barco, camarote de show... por que razão tomar champanhe? Se não há piscina turmalina, noite de núpcias ou de confirmação dos votos de amor por que razão tomar champanhe? Por que ir ao encontro daquelas borbulhas que roçam e se enroscam na garganta querendo estourar um cântico novo? Será um canto de amor? Champanhe, champanhe, champanhe......
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09/01/2009 - Onde está o sol

A chuva escorre trêmula e fria pelos vitrais das catedrais. Os pardais já se esconderam. Os cardeais já se benzeram. Os casais já se envolveram ainda mais. A chuva é cadente como as estrelas que há tempos não vejo pelos pontos cardeais. Não há um pio lá fora, só o arrepio do frio e o barulho da chuva. E eu visto seu corpo, como a mão veste a luva. As janelas estão fechadas, as portas estão trancadas, as alamedas estão alagadas de sonho e medo, de flor e desassossego.

A chuva cai obliquamente e desesperadamente eu lhe procuro, sou veleiro em mar bravio à procura de um rio seguro. E onde está o farol? Onde está o sol? Onde está seu assovio em lá bemol? Onde está o sol? Onde está o seu short-doll? Onde está o sol? E se a nuvem fosse feita de uva, choveria vinho. Vinho branco, vinho tinto. E se a nuvem fosse feita de mulher, choveria pranto. Encanto e canto. E se a chuva fosse feita de apaixonados, choveria lado a lado eu e você, você e eu. ...
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08/01/2009 - Podem gritar os profetas

Que terra santa é essa que se derrama em sangue? Será que o cordeiro tem que sangrar para sempre? E que céu da anunciação é esse, riscado em todo momento por mísseis luminosos. Será que tudo vai se acabar? Judeus e árabes deveriam se acasalar e se amar e multiplicar no milagre do pão uma raça única. Onde estão os camelos se por entre os tornozelos do dia eu só vejo tanques de guerra? Berra de dor porque dois mil anos depois a humanidade ainda erra e se encerra.

Será um canibalismo incontrolável esse desejo de se alimentar da morte alheia. Onde está Jesus? Onde está Jeová? Onde está Moisés? Já mataram todos!? E por que os tanques ainda avançam, por que os helicópteros ainda bombardeiam, por que as tropas ainda marcham? O rei dos judeus já foi para a cruz, e o que mais querem os filhos de Herodes? Chega de sangue, chega de dor, chega de destruição. Deus não tem limites, fronteiras e não cabe em uma nação. ...
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07/01/2009 - Sambalelê

"Samba, samba, sambalelê, Pisa na barra da saia, ô lelê". Ary Barroso se equivocou. Ao escrever os versos "Isto aqui, ô ô, é um pouquinho de Brasil iá iá, um Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz", devia ter feito "Isto aqui, ê ê, é um sambalelê". Nem bem começamos o ano e só se fala em carnaval. Os políticos, os artistas, os intelectuais, a elite está de férias. E o único som que se escuta é a cuíca roncando, anunciando o carnaval.

Não sei de onde se tirou essa idéia de que é preciso esperar o carnaval passar para colocar o país para funcionar. Talvez imaginem que Herodes esperou os blocos de Jerusalém passarem para crucificar Cristo. Será que o desenvolvimento nacional, com suas ações e seus debates, depende do requebrado das mulatas? Deixa a fome de lado, ô lelê, deixa o tráfico de lado, ô lelê , deixa a crise de lado e sambalelê de cá, sambalelê de lá....
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06/01/2009 - Os reis magos e um pé de jatobá

Era um, eram dois, eram três reis magos. Reis caminhando nos rastros de uma estrela. Meu avô contava de uma grande festa de reis, feita no sítio, embaixo de um grande jatobazeiro. Eu não participei de nenhuma festa aos santos reis, embora eu tenha comido daqueles jatobás e visto seu tronco, seu galho, sua copa ao chão depois de um vento mais forte que seu cerne. Parece que com aquela árvore caíram também os santos reis. Por mais estranho que pareça, aquele jatobazeiro ao chão, exalava um cheiro de incenso, mirra e ouro. ...
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05/01/2009 - O Papa Figo

Nem lobisomem, nem chupa-cabra, quem está à solta é o papa figo. E, embora ele não tenha aparência de monstro, só as orelhas mais compridas do que o habitual, é bom ter medo dele. Tremam, tremam, tremam de pavor do papa figo. Ele sofre de uma maldição e, para aliviar suas dores, precisa se alimentar de fígado humano. O ano nem começou e o que tem de gente por aí querendo comer o nosso fígado não é brincadeira.

Eles atendem pelos nomes de IPVA, de IPTU, de DPVAT... isso sem contar no material escolar das crianças, nos reajustes do aluguel, do condomínio, do telefone, do gás, da gasolina, da luz, do pão nosso de cada dia. Todo começo de ano é bom andar com os bolsos e bolsas costurados. Afinal, o papa figo quer devorar o nosso fígado. E atenção! Ele costuma atrair suas vítimas com a velha lábia de sempre, prometendo isso e aquilo. ...
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04/01/2009 - Entre o céu e a guerra

O cenário é desértico e chuvoso, com direito a relâmpagos e trovoadas ao fundo.

O relógio, que não existe ali, avança para além das cinco horas da tarde.

Por entre a lama que borra sua bota e arames farpados capazes de rasgar até a alma, ou o que ainda resta dela, um homem caminha empunhando um rifle e o peso de tantas mortes nas costas. Ele vem fardado, rasgado, triturado em sonhos e medos.

- Ó deus, ó deus, por que me abandonou? Por que me deixou matar tantas pessoas, por que me fez calar tantos corações? Será que eu sou uma espécie de justiceiro? Será que sou seu anjo ou o demônio que fugiu pelas portas do fundo do céu. Ah deus, por que tinha de ser eu? Agora, caminho por esses campos com o gosto da morte entre meus dentes podres e minha língua que esqueceu como se pronuncia o amor. E eu me alimento da morte alheia como um corvo agourento. Ah! Deus, agora, por onde quer que vá, eu vou levar esse gosto de pecado comigo. E isso é um vício, é um viço que gruda e não sai da gente. Pecar, pecar, pecar. Eu não quero a salvação, a redenção, o perdão, eu quero o pecado. Ah! Deus, ò deus, dá-me o pecado. Eu quero pecar. ...
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03/01/2009 - Escada evolutiva

Diante dessa nova caminhada, mais do que arrumar a mochila e preparar o fôlego, é necessário compreender as dificuldades do caminho. Já dizia Emmanuel, o espírito que guiou boa parte dos passos do médium Chico Xavier, que a dificuldade é exercício de aperfeiçoamento. Para o desencarnado, que, com certeza, tem um nível de sabedoria muito mais elevado do que os que caminham por essa terra, os obstáculos são desafios para a melhora da resistência.

Mas por que falo tudo isso? Simples, porque temos de estar cientes de que uma dura caminhada nos espera. Fazemos planos, traçamos metas, pedimos paz, felicidade, sucesso, mas não podemos nos esquecer de que temos de ser fortes para vencer tudo o que nos espera. Nessa escala evolutiva do espírito, as dificuldades da vida não devem ser negadas ou excomungadas, mas trabalhadas de modo a resultar algo de bom. ...
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02/01/2009 - Barco à deriva

E agora? Dois de janeiro. Há algum dia no ano mais sem graça do que dois de janeiro? Nem finados tem um ar mais morto do que esse dia que amanhece, entardece e anoitece em um sentimento de ressaca. E não me refiro a ressaca alcoólica, mas a uma ressaca de sonhos, expectativas, alegrias. É como se a realidade pisasse sobre nós, esmagando nosso coração pequeno. Pelo chão, só as plumas das asas de quem voou, voou, voou.

Ontem, primeiro de janeiro, tudo era festa, tudo era novo, tudo era um tempo de ir mais longe. E hoje? Hoje os cobradores já voltam as nossas portas, hoje o trabalho já nos chama de volta, hoje os medos e desesperos e preocupações banais já mordem nossos calcanhares, hoje as promessas de vida nova já se mostram perdidas, hoje tudo é velho. Aliás, hoje parece que o mundo acorda no meio de um grande ferro velho....
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