06/01/2009 - Os reis magos e um pé de jatobá
Era um, eram dois, eram três reis magos. Reis caminhando nos rastros de uma estrela. Meu avô contava de uma grande festa de reis, feita no sítio, embaixo de um grande jatobazeiro. Eu não participei de nenhuma festa aos santos reis, embora eu tenha comido daqueles jatobás e visto seu tronco, seu galho, sua copa ao chão depois de um vento mais forte que seu cerne. Parece que com aquela árvore caíram também os santos reis. Por mais estranho que pareça, aquele jatobazeiro ao chão, exalava um cheiro de incenso, mirra e ouro.
Assim como no natal e ano-novo, a festa de Belchior, Baltazar e Gaspar era motivo de muita celebração, união e fartura. Não entendo como uma tradição desse porte acabou da noite para o dia. Foi culpa do papai-noel. Nos tempos mais antigos, existia a figura da Bifana, uma velha, que no dia de Reis saía pelas ruas entregando presentes para as crianças que tinham sido boas durante o ano que passou. Não havia distribuição de presentes no natal, só no dia dos reis magos. Sai Bifana, que faz parte dos costumes mediterrâneos, dos nossos antepassados, e entra o papai-noel, uma criação inglesa.
Com esse assalto cultural, perdemos uma grande festa. Hoje, até se trabalha normalmente no dia dos magos do Oriente. Uma falta de respeito tamanha para quem viveu, ao menos por história, essa tradição. E eu posso ser considerado o abismo dessa quebra, já que no ambiente rural esse costume foi resguardado por um tempo a mais. Meu bisavô, meu avô, minha mãe participaram dessa festa. Eu sou o primeiro na linha de descendência que não sei o que é festejar o Dia de Reis. Será que é preciso eu plantar um novo pé de jatobá?
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