09/01/2009 - Onde está o sol
A chuva escorre trêmula e fria pelos vitrais das catedrais. Os pardais já se esconderam. Os cardeais já se benzeram. Os casais já se envolveram ainda mais. A chuva é cadente como as estrelas que há tempos não vejo pelos pontos cardeais. Não há um pio lá fora, só o arrepio do frio e o barulho da chuva. E eu visto seu corpo, como a mão veste a luva. As janelas estão fechadas, as portas estão trancadas, as alamedas estão alagadas de sonho e medo, de flor e desassossego.
A chuva cai obliquamente e desesperadamente eu lhe procuro, sou veleiro em mar bravio à procura de um rio seguro. E onde está o farol? Onde está o sol? Onde está seu assovio em lá bemol? Onde está o sol? Onde está o seu short-doll? Onde está o sol? E se a nuvem fosse feita de uva, choveria vinho. Vinho branco, vinho tinto. E se a nuvem fosse feita de mulher, choveria pranto. Encanto e canto. E se a chuva fosse feita de apaixonados, choveria lado a lado eu e você, você e eu.
A chuva caminha pelas pedras, pelos vãos, pelas frestas. Pelas pedras das pedrarias que se penduram em seu pescoço. Pelos vãos que você cria em desenhos de saudade. Pelas frestas do seu vestido, que vai às águas de Pedro, de são Pedro. Ah! Onde está o sol? O sol, o sol, o sol... Será que ele caminha pelas sombrinhas que lhe levam como barcos? Será que ele se não suportou as correntezas e se afogou nos seios das suas águas? Será que ele se molhou e se adoentou e hoje espera por seu calor.
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