Daniel Campos

Texto do dia

Imprimir Enviar para amigo
02/01/2009 - Barco à deriva

E agora? Dois de janeiro. Há algum dia no ano mais sem graça do que dois de janeiro? Nem finados tem um ar mais morto do que esse dia que amanhece, entardece e anoitece em um sentimento de ressaca. E não me refiro a ressaca alcoólica, mas a uma ressaca de sonhos, expectativas, alegrias. É como se a realidade pisasse sobre nós, esmagando nosso coração pequeno. Pelo chão, só as plumas das asas de quem voou, voou, voou.

Ontem, primeiro de janeiro, tudo era festa, tudo era novo, tudo era um tempo de ir mais longe. E hoje? Hoje os cobradores já voltam as nossas portas, hoje o trabalho já nos chama de volta, hoje os medos e desesperos e preocupações banais já mordem nossos calcanhares, hoje as promessas de vida nova já se mostram perdidas, hoje tudo é velho. Aliás, hoje parece que o mundo acorda no meio de um grande ferro velho.

Ah! Como tudo é ilusório. Como um momento leve, como o vivido ontem, torna-se uma bigorna em nossas costas. Aquele verso de Cartola de que o mundo vai reduzir as nossas ilusões a pó nunca faz tanto sentido como no dia dois de janeiro. Há uma estrada deserta adiante e passados que nos empurram à frente com tridentes afiados. Ao lado, mortos e feridos. Dentre esse imenso oceano, ainda sem nome, o nosso barco segue à deriva. Ó, desbravadores e desbravados, só nos restam pedir bons ventos ao soprador.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar