Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 270 de 320.

22/11/2008 - Um portal aos seus pés

Muitos se perguntam sobre um portal mágico, cujo destino é uma outra dimensão, uma espécie de paraíso perdido, uma manjedoura de sonhos. Todos perseguem, mas ninguém dá notícia deste lugar. E todos nós temos acesso a ele e nem percebemos. Afinal, você já parou para pensar o ralo do banheiro? Esse inofensivo mecanismo instalado sob seus pés tem a missão de levar suas expectativas, suas lágrimas, seus suores, as marcas de seu corpo, seus medos, as conversas que não se calaram, o dia que passou e o que ainda não chegou para um outro mundo....
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21/11/2008 - Sofrendo enfarte ou fazendo arte

Amo amar-te e adorar-te, seja em Sartre ou em Marte, sofrendo enfarte ou fazendo arte. Amo amar e deixar esse sentimento azul me levar ao vento sul, como que querendo chegar a algum lugar, a algum altar, a algum patamar do coração onde ninguém insista no não, tampouco exista solidão. Amo amar de me querer ao teu lado por todo instante, sem pressa, sem promessa, sem flecha, mas com Eça e Di Cavalcanti. Cante, espante e siga avante neste amor a Vinícius de Moraes, que ora é amor ora é amor demais. ...
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20/11/2008 - Tá tudo molhado em mim

Tá tudo chovendo em mim. Tá tudo molhado, tudo encharcado, tudo alagado em mim. Como se o meu tempo fosse um temporal de mim. A água afundou meus pensamentos, meus sentimentos foram destelhados e só me resta os acenos de um barco de jornal que passa ao meu lado. A estrada virou enxurrada. E eu esqueci meu guarda-chuva em alguma chuva passada. E se a chuva for ácida? Eu sou filho da margem plácida...

Estou cheio de lama, estou de cama, estou pra lá de quem ama. A chuva é pranto e eu to sofrendo tanto, mas tanto. A chuva tombou a plantação de sonhos que brotara em mim. A chuva deixou vermelho meu lago interior. A chuva abriu buracos no meu terreno de dentro. A chuva derrubou as flores, estragou os frutos, carregou as sementes para longe, para longe, para longe dos meus sulcos. Que horas, que horas, que horas são ò cuco?...
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19/11/2008 - Pechincha

Para quen é que eu peço um desconto nesta minha caminhada? Será para o Criador? Um abatimento na ordem de 20 por cento das pedras que rolam em meu caminho já me livraria de muita coisa desagradável. E este pedido deve ser legal, já que nesta feira livre chamada vida vale de um tudo. Muito é adquirido, muito é perdido, muito é passado para frente, muito é trocado... Na maioria das vezes, lucra quem grita mais alto, quem tem maior poder de ilusão, quem coloca tudo em liquidação ou, simplesmente, quem apele para a instituição da pechincha....
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18/11/2008 - Cuspidor de fogo

Era só mais uma fração de segundo. Era só mais um ato banal. Era só mais um dia depois de outro dia. E aquele cuspidor de fogo não podia falhar. Na sua cabeça, as náuseas das vezes que engasgou, que se machucou, que não levou aplausos. Agora tinha de ser diferente. Olhou à platéia, à vida, às feridas e soprou. Uma chama cortou o circo, queimou a lona, acabou até com o sorriso do palhaço que já andava sem graça. As crianças se assustaram, os garotos aplaudiram e as mulheres choraram de medo e dor....
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17/11/2008 - Vidaria

Quem falou que viver era fácil, mentiu. Viver é para poucos, a maioria mesmo não passa da linha da sobrevivência. E dá-lhe chicotadas no lombo dessa gente que caminha sem ter aonde chegar. É uma gente que está pra lá do estreito de Gibraltar. Viver é carregar pedras e subir montanhas sem fim. É amar em português e sofrer em mandarim. O encontro do desencontro afim. É comer arroz, feijão e pólvora e servir de estopim para uma civilização que diz não quando diz sim. E onde está o gênio da lâmpada de Aladim? Será só de mentira, de mentira, de mentira a caminhada da nossa estrada. Vida, vida se eu a tivesse lhe daria, vidaria. ...
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16/11/2008 - De bandido a herói e de herói a bandido

Onde será que o pai escondeu meu vídeo-game? Já procurei em cima do armário da cozinha, no velho cofre que perdeu a tranca, na penteadeira da mamãe. Onde será que ele está? Estou de castigo, mas não posso ficar sem jogar. Esses três dias que fiquei longe do controle já fora o bastante. Além do mais, papai não precisa saber. Eu jogo um pouquinho e o escondo novamente, no mesmo lugar. Ele só vai voltar do trabalho no final do dia. Ainda faltam três horas e vinte e oito minutos. É o suficiente para eu matar minha vontade. Para minha sorte, mamãe foi resolver umas coisas na cidade e só vai voltar com ele. É a minha chance. Mas eu estou perdendo muito tempo. Precisava achá-lo logo. Quem sabe no guarda-roupa? Camisas, meias, cuecas, lenços, calças, cintos... Ah! Onde será que ele enfiou meu vídeo-game? Tudo porque eu tirei nota baixa na escola, matei o gato da vizinha, respondi mal aquela minha tia chata. Isso lá é motivo para me deixar sem vídeo-game? Se não bastassem as três chineladas que eu ganhei na perna, a bronca, a cara feia, eu tive que ficar sem uma das coisas que eu mais gosto. Ou seria a que eu mais gosto? Vestidos... não... essa já é a parte de mamãe do guarda roupa. Só se estiver no maleiro. Mas é muito alto. Eu não alcanço. Mas se eu pegar aquela cadeira do telefone e subir nas suas costas pode ser que dê certo. Antes tentar do que ficar sem meu joguinho. Nossa como a cadeira é pesada. Só mais um pouco, deixa-me esticar o braço. Pronto. Nossa! Mamãe vai me matar. Derrubei um monte de toalha, de roupa antiga. Também, estava tudo embolado, apertado aqui. Que bagunça. Depois, vou ter que guardar tudo. Quem sabe se eu procurar um pouco mais. Vou esticar um pouco mais meu braço. Parece que achei algo. Ta enrolado em um pano. É um pouco frio. Será meu vídeo-game? Não. É muito pequeno. Mas o que será? O que é isso. Ai meu Deus, to escorregando. Aiiiiiiiii. Cadeira traiçoeira. Ainda bem que cai em cima da cama. Mas o que é isso? Nossa mãe, isso é uma arma. Papai tem uma arma escondida em casa. Que legal. Jamais pensei que um dia pegaria numa dessas. Deve ser uma pistola automática ou será um calibre 38. Não entendo muito disso não. Deixa só o Diego me ver armado até os dentes. Vai ficar morrendo de inveja. Quero ver o Ricardo vir falar que não posso jogar no time da escola porque sou perna-de-pau. Ah! Posso fazer tantas coisas com essa arma. Nem preciso mais do vídeo-game. Agora eu sou o cara. Vou levá-la dentro da mochila e apontar para cara daquela professora idiota que foi me dedurar para meu pai. Vou acabar com ela. Melhor. Vou dar um tiro para o alto na hora do recreio e todo mundo vai ter medo de mim. Já pensou? Até o Gustavo vai se ajoelhar e pedir desculpas por ter me chamado de rato de laboratório. Só porque não sou forte e bronzeado como os meninos... Mas eles todos vão me pagar. Vou ter que agradecer muito ao meu pai por ter me dado esse presente. E ele não vai sentir nem falta se eu tomar emprestado seu revólver só um pouquinho. Estou me sentindo igual naqueles filmes que passam tarde da noite. Parece que estou ouvindo até mesmo aquela música de suspense. Vou arrepiar geral. Posso entrar naquela loja da esquina e sair de lá com a última geração do vídeo-game que eu quiser. O meu estava ultrapassado mesmo. E depois, posso pegar um monte de refrigerante, chocolate, sorvete... Mandar um taxista lá do ponto da praça me levar para o parque de diversão. Até a Aninha vai curtir esse meu poder todo e deixar o Gustavo de lado. Minha vida nunca mais será a mesma. Olhe eu lá no espelho da penteadeira da mamãe. Estou diferente, mais forte, mais bonito. Parece até que cresci um pouco mais. Virei homem. Só não posso deixar meu pai perceber que estou com o brinquedinho dele. Oh não, estão abrindo a porta. Mas quem será? Ainda não está na hora de meus pais chegarem. Será ladrão? Mas por que estou com medo? É só atirar e pronto. Vou ser herói. Vou matar o bandido que queria roubar a nossa casa. Meu pai vai me perdoar por tudo e ainda vai me colocar no colo, vai gostar de mim. Basta eu ficar calmo, apontando para a porta e esperar o momento certo. Quando a porta abrir, dou logo uns três tiros para não ter como errar. Os passos estão mais perto. Estão chegando. É um, é dois, é três... Nunca atirei, mas não deve ser difícil. Já fiz tanto isso no vídeo-game que devo estar craque. Basta pensar que é mais um daqueles carinhas do jogo que eu tenho que matar para passar de fase. Eu sei fazer isso. Eu posso. Eu consigo. E eu preciso mudar de fase. Atenção. A porta está abrindo. O suor escorre pela minha testa. Começo a tremer. Fecho os olhos e disparo. Um disparo, dois disparos... e antes do terceiro, um grito conhecido. Como é que o bandido fez para ficar com a voz do meu pai? Pausa. E agora? Estou entre o terceiro tiro e o abrir dos olhos. ...
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15/11/2008 - O mundo na barriga

Já havia passado do prazo dado pelas suas contas, pelos médicos e pela natureza. O menino estava a cada dia mais forte, cansando-lhe o corpo. A maratona de hospital-casa, casa-hospital já havia virado rotina. As dores do parto, as contrações, a eliminação de líquido eram mais que suficientes para ela acreditar no nascimento e rumar para a maternidade. No entanto, os médicos diziam que a dilatação não era aquela, que as contrações eram psicológicas, que o bebê estava bem. Coisas de primeira gravidez. Ah! Ela era mãe pela primeira vez e a culpa de tudo parecia estar nesse fato....
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14/11/2008 - Brasas e cinzas

Nada está no lugar. Tudo ficou para trás. À frente, a estrada é escura e fria. Será que eu vou ter de ir sozinho? Apocalipse. Juízo Final. Pedras na cruz. Onde está o fim de tudo isso? Quantos passageiros já passaram? Quantas estrelas cadentes já caíram? Quantos ventos já ventaram por essa estrada, doída e cega? Quem vai acreditar, nesse andarilho sem tempo nem lugar. Andarilho que anda pelos trilhos no estribilho de um verso maltrapilho de si mesmo.

Ah! Quanto tempo faz que eu amei demais e continuo amando, adorando e me entregando a esse amor terrestre. Você é o muro e eu sou o cipreste, que vai crescendo, envolvendo, sufocando, aprisionando, abraçando o mundo entre nós dois. Ah! E o mundo sem você é uma falta de lugar, é um des-porquê, é um desesperar. Minhas pegadas bóiam na falta de fé, porque não há mais de seu chão para meus pés. Meu olhar é noite eterna, procurando-te em meio à escuridão que me deixou....
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13/11/2008 - Chover em paz

A tarde vai caindo e com ela, uma chuva inesperada. Uma chuva fina, fria, bailarina. Cai em pontas, mas como uma delicadeza capaz de arrancar aplausos. Aos poucos, o sol torna-se negro e cede espaço para a água. Agora, não sei se ele deixa o tablado por ato de cavalheirismo ou por medo de se molhar. O fato é que aos poucos a chuva vai calando a rua, entre o concreto e o imaginário, dando um ar daqueles filmes europeus ao nosso tropicalismo.

Com a mudança de clima, as sombrinhas e guarda-chuvas aparecem às pencas. E o que era para dar mais cor e classe ao espetáculo das águas torna-se um ato melancólico. As sombrinhas trombam uma nas outras, as varetas dos guarda-chuvas espetam o rosto alheio, a água acumulada é chacoalhada em cima dos outros passantes... Um verdadeiro circo de horrores acaba com a beleza da chuva entardecida que, envergonhada, vai embora. ...
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