Daniel Campos

Prosas

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02/11/2008 - Zé do Tacho ou Zé do Túmulo?

"Olha a goiabada! Olha a goiabada cascão! É coisa fina, senhora. É coisa que ninguém mais acha, senhor". De forma cantada e com um sorriso açucarado, Zé do Tacho chama a clientela para desfrutar de suas goiabadas na banquinha da feira. Ofício passado de pai para filho, há muitas gerações, aquele José havia completado 68 anos de doceiro no último dia 29. Para fazer justiça a Romeu e Julieta, também produzia uns queijinhos minas. Era difícil quem resistia àquela tentação. Tinha freguesia certa, mas sempre chegava alguém querendo experimentar de sua mão boa. ...
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01/11/2008 - Prece a todos os santos

Santa Mãe de Deus, Santa Virgem das virgens, Mãe, Rainha e Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós que recorremos a vós. São Miguel, arcanjo do combate e da defesa espiritual, rogai por nós. São Rafael, arcanjo da cura espiritual, rogai por nós. São Gabriel, arcanjo da anunciação, rogai por nós. Todas as ordens de anjos e santos e espíritos de luz, rogai por nós. São José, padroeiro dos que trabalham, rogai por nós. São José, padroeiro das famílias, rogai por nós. São José, padroeiro dos lírios de leite, rogai por nós. ...
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31/10/2008 - Doces ou travessuras

Um antigo celta disse-me para tomar cuidado. Com a barba por fazer e um sotaque inglês, contou-me um segredo. Na verdade, uma antiga lenda de seu povo. Segundo ele, no dia 31 de novembro, véspera do Dia de Todos os Santos e antevéspera do Dia de Finados, todos os que desencarnaram ao longo do ano vigente descem a terra à procura de corpos vivos. O propósito está em encontrar um corpo para invadir e usar pelo próximo ano.

Eu ri e ele fechou a cara, já fechada, dizendo que essa era a única forma de haver vida após a morte. A receita para não ser possuído era um tanto esdrúxula, mas dava resultado. Na noite do dia 31, é bom apagar todas as luzes de sua casa. Quanto mais fria e sem graça ela estiver, melhor para afastar os mortos. Para completar, coloque fantasias de monstros e saia pelas ruas fazendo muito barulho, na tentativa de assustar os espíritos. ...
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30/10/2008 - Olhos de peixe morto

Os olhos tristes do peixe na banca da feira são tão profundos quão o mundo que está ao nosso redor. Olhos de uma tristeza que aflora às escamas. Olhos parados, cansados de tanta guerra. Olhos vidrados, que não enxergam o anzol por detrás da isca. Olhos molhados, cujas lágrimas de sal nunca foram vistas. Olhos enlaçados por redes, cortados pela lâmina fria de um sangue que já não jorra. Olhos de peixe grelhado, ao molho, ensopado, ao azeite, assado, cru. Olhos de peixe cru. Olhos de peixe morto. ...
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29/10/2008 - Chuvareiro

No próximo temporal, vou quebrar tua sombrinha e meu guarda-chuva. No próximo temporal, vou levantar vela em plena enxurrada e convidar-te a partir. No próximo temporal, quero ser apedrejado e apedrejar na mesma proporção. No próximo temporal, vou conhecer a boca do lobo. No próximo temporal, vou chover ao vento. No próximo temporal, vou cair com as árvores. No próximo temporal, vou me revirar com as telhas. No próximo temporal, vou molhar a tua roupa, no teu varal ou no teu corpo.

No próximo temporal, vou cheirar a capim. No próximo temporal, vou fazer estátuas de barro e esperar que Deus venha soprá-las. No próximo temporal, vou atolar seu carro. No próximo temporal, vou me sujar como as crianças. No próximo temporal, quero um beijo molhado. No próximo temporal, vou inundar teu quarto, tua cama e teus sonhos mais distantes. No próximo temporal, vou chover canivete só para cortar a saudade que me corta. No próximo temporal, vou lamber-te num pé de vento e sair assoviando por aí. ...
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28/10/2008 - No meio da estrada...

No meio da estrada tinha uma vaca. No meio da estrada tinha uma vaca, uma novilha, dois bezerros e três cabritos. Parei o carro para dar passagem àquela pequena comitiva. Os animais sem pressa, batiam os cascos no chão de terra encaroçada. Olhavam para o carro e, acostumados com a civilização, ignoravam a minha presença. Pena que não havia uma máquina fotográfica ali. O registro de um Brasil caipira, de um Brasil de anos atrás, de um Brasil da minha infância ficou apenas no fundo da retina empoeirada....
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27/10/2008 - Coração partido sim

O coração tem marcas. Marcas de humilhações, marcas de desespero, marcas de dor. O coração de quem ama não é liso, perfeito, intocável. O coração de quem ama é partido para sempre. Porque o coração da criatura amada é apenas a parte de um todo, o qual se pode chamar de felicidade. Afinal, só se completa quando ao lado de outro coração. E por ser parte, de um projeto maior, dói. Dói a dor da saudade, que o marca a ferro e a fogo. Dói o silêncio de pulsar sozinho o seu pulso. Dói a intensidade do sangue jorrado. Dói de prazer. ...
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26/10/2008 - O crime do padre

Com olheiras roxas, dignas de um vampiro de ressaca, ele foi para a cama. Mas não conseguiria dormir. As últimas noites foram tomadas pelo misterioso assassinato do padre Felício. Rolava de um lado para o outro, mas a cena do pároco morto, aos pés do altar, não lhe deixava a cabeça. O fato de ser devoto de São Jorge, o santo guerreiro patrono daquela igreja, intrigava-o ainda mais. Quem teria cometido o crime e por qual razão? Triplicou o seu consumo de cigarro e passou a roer unhas. Um homem formado daquele roendo unhas? Delegado há 28 anos, poucas coisas mexeram tanto com ele quanto essa tragédia. ...
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25/10/2008 - Cenarius

Farelos de pão sobre a mesa. Um cheiro de café solto no ar. Uma aranha tecendo a teia, nas conversas que ficaram por terminar. Uma cadeira vazia chorando alguém. O silêncio do pires. A xícara ainda tonta com os lábios que pousaram ali. E um pescador tentando fisgar um pouco de tempo, de tempo, de tempo. Ah! O mundo não pára. Mesmo sem querer, continua nos levando nas pás dos teus moinhos que vão moendo vidas de mansinho.

O perfume do amor sobre a cama. Lençóis amassados, molhados de sexo e suor. Os travesseiros sufocando os últimos gemidos. As colchas cruzando suas cores. A penumbra querendo enxergar ali de si própria. As cortinas comentando como duas fofoqueiras de beira de muro. E um pescador tentando fisgar um pouco de tempo, de tempo, de tempo. Ah! O mundo não pára. Mesmo sem querer, continua nos levando nas pás dos teus moinhos que vão moendo vidas de mansinho....
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24/10/2008 - Queritude

Quero andar ao seu lado. Quero andar abraçado. Quero colocar a minha mão em seus ombros, em suas costas, em sua cintura. Quero saber da conversa das vértebras da sua coluna. Quero brincar em suas costelas. Quero sentir sua pele correndo feito rio. Quero lhe levar como em contradança. E quero que esta dança seja tango, valsa, bolero. Quero fazer de seu corpo o norte de minha bússola. E eu quero andar pelo seu norte, seja qual for o caminho. Quero me surpreender com seus arrepios. Quero sentir sua respiração em minha respiração. Quero ser siamês, de carne e alma. ...
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