20/11/2008 - Tá tudo molhado em mim
Tá tudo chovendo em mim. Tá tudo molhado, tudo encharcado, tudo alagado em mim. Como se o meu tempo fosse um temporal de mim. A água afundou meus pensamentos, meus sentimentos foram destelhados e só me resta os acenos de um barco de jornal que passa ao meu lado. A estrada virou enxurrada. E eu esqueci meu guarda-chuva em alguma chuva passada. E se a chuva for ácida? Eu sou filho da margem plácida...
Estou cheio de lama, estou de cama, estou pra lá de quem ama. A chuva é pranto e eu to sofrendo tanto, mas tanto. A chuva tombou a plantação de sonhos que brotara em mim. A chuva deixou vermelho meu lago interior. A chuva abriu buracos no meu terreno de dentro. A chuva derrubou as flores, estragou os frutos, carregou as sementes para longe, para longe, para longe dos meus sulcos. Que horas, que horas, que horas são ò cuco?
Eu já não sei mais nada além de raios e rajadas. Os relâmpagos me deixaram no escuro. Os trovões me fizeram gritar o medo. E o vento embaralhou meus segredos. Minha poesia agora tem goteiras que gotejam uma saudade, uma cidade, uma idade, um destino à revelia. E um dia depois de outro dia, da destruição da chuva brotou um novo eu, molhado, encharcado, alagado. E agora, tá tudo nascendo, tudo crescendo, tudo fervendo em mim. Como se a minha planta fosse uma plantação de mim.
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