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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 269 de 320.
04/12/2008 -
Enlatados
"Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou. Nesses novos dias, as alegrias serão de todos é só querer. Todos nossos sonhos serão verdade"... Pára, pára, pára, como dizia minha professora de sociologia. Eu não lembro o nome dela, mas recordo-me dessa sucessão de gritos que ela encenava durante as aulas. Coitada, devia sofrer de algum tipo de fobia. Por falar nesse assunto, essa trilha da tv globo traz à tona a natalfobia. E atenção, natalfobíacos, a tal vinheta já começou...
Começou a época de fazer um balanço do que aconteceu e do que não aconteceu durante o ano. Época de fazer contas, compras e rever aqueles parentes indesejados. Época de ouvir discursos demagogos sobre solidariedade. Época dos inimigos secretos. Época de encontrar papais-noéis em cada esquina, tão felizes quão doidos para tirar aquela fantasia. Época das crianças esperarem que seus sonhos desçam por chaminés ou sejam deixados em meias. Época de mastigar aquela carne seca de peito de peru e engolir tantos sapos. Época de testemunhar os mesmos velhos especiais da televisão e sentir o gosto amargo da ilusão borbulhando no espumante. ...
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03/12/2008 -
Andar sobre brasas
Hoje é seu aniversário. Talvez o mais dolorido de todos eles. Fica difícil lhe dar os parabéns e comemorar algo diante de uma perda tão recente. Definitivamente, hoje vai faltar o abraço de sua mãe. Aliás, hoje vão faltar todos os abraços que não foram dados em momentos bobos. Hoje vai faltar uma felicidade que escapou de suas mãos como um passarinho. Ah! De fato, ela morreu como uma ave. Por maiores os golpes, ela jamais deixou de abrir as asas e, mais do que voar, tentar salvaguardar o mundo sobre elas. E você sempre fez parte deste mundo. Hoje você vai sentir vontade de dar o primeiro pedaço de bolo para uma pessoa que, pela primeira vez, não vai estar presente em sua festa. Hoje vai ser tarde demais para muitos desejos......
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01/12/2008 -
Serpenteia
A serpente não tem asas, mas voa pelo chão. A serpente serpenteia engolindo ratos, gentes, mundos e fundos... A serpente serpenteia serpenteando pelo estradão. E seu corpo é sua estrada. E seu corpo é sua perdição. E seu corpo é sua faca amolada. A serpente não tem dono ou razão de ser, apenas um destino: destilar o veneno coração com seu guizo sincopado, com seu gingado de olhar envenenado. A serpente caiu dos céus feito cavalo que não aceita cela, mas nem o diabo pode com ela.
A serpente é o ciúme. A serpente é o cume do amor. A serpente é o perfume do sonhador. A serpente é a cria da árvore do conhecimento, é o bem e o mal num mesmo rastro. A serpente traz a maçã entre os dentes. A serpente é o amanhã dos penitentes. A serpente é o que há de doente em mim, em ti, em nós. A serpente é o fim da inocência e a eterna queda. A serpente é a punição, a tentação, a esculhambação da humanidade, que se arrasta com saudade de um paraíso perdido, esquecido, mal-vivido. ...
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30/11/2008 -
Neve???
Espera aí, estica um pouco mais para esse lado de cá. Quem sabe se eu prender a respiração ou virar um pouco mais o braço esquerdo para oeste. Só mais alguns segundos deste contorcionismo devem bastar. Um, dois, três pulinhos. Pronto. Ficou perfeito, ou quase. Quem mandou comer todas aquelas feijoadas com torresmo. Por pouco essa roupa não entra em mim. Meu Deus, que barriga é essa. Agora só falta colar a barba. Esses pelos fajutos coçam como brotoeja das brabas. E por falar em coceira, essa peruca dá um calor. Calma, Nestor, tudo é questão de costume. Costume? Um sol do tamanho do Maracanã lá fora e eu tendo que andar de luvas, botas e gorro. Eu, reclamo, reclamo, reclamo, mas todo fim de ano me transformo em papai-noel....
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29/11/2008 -
A mulher sentada na janela
A mulher sentada na janela quer ser paisagem de si mesma. A mulher sentada na janela quer, ao mesmo tempo, se jogar dali e ser amparada. A mulher sentada na janela quer seguir junto aos carros, ônibus, caminhões, aviões. A mulher sentada na janela cobre e encobre edifícios. A mulher sentada na janela quer criar asas de pássaro. A mulher sentada na janela tem sonhos azuis. A mulher sentada na janela tem desejos de nuvem. A mulher sentada na janela, feito veneziana ao tempo, é consumida pela ferrugem. ...
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28/11/2008 -
A lua não há
Que a dona lua influencia em muitas áreas, como a maré e a plantação, eu já sabia, no entanto, olha só a previsão zodiacal para este período: lua nova em sagitário semeia agudas tensões internacionais nos próximos dias. Estamos diante de uma lua que revira as bolsas de valores, eleva a cotação do dólar e derruba os investimentos. Será que a pobre da lua vai levar a culpa por essa crise financeira? Será que ela vai ser condenada à prisão perpétua ou ao pelotão de fuzilamento? Ou será que tudo vai acabar em pizza? ...
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26/11/2008 -
Bem-casado
Mais uma vez, canto-te esse cântico que me habita e palpita sob o signo coração. Mais uma vez, sou teu soldado, a pólvora que explode ao teu lado e o teu canhão, a te defender, a te proteger, a te socorrer. Mais uma vez, mato em teu nome. Mais uma vez, sacias a minha fome. Mais uma vez, dorme enquanto sonho o dia em que a poesia será de todo dia. Mais uma vez, aporto em teu porto e cavalgo pelos teus campos como um potro que vem recém-nascido, recém-crescido, recém-querido por alguém.
Mais uma vez, bendigo o teu umbigo no meu e te abrigo, brigo-te e mordo o figo da tua boca. Mais uma vez, devoro e sou devorado por essa paixão louca. Mais uma vez, a eternidade é pouca para essa saudade que menina, alucina e fascina. Mais uma vez, estou a esquecer o mundo, sou teu rei vagabundo e teu poder de mulher. Mais uma vez, bem-te-quero e bem-me-quer. Mais uma vez, eu te espero, e berro e me incendeio como Nero. Mais uma vez, te sou, me vou, me desespero....
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25/11/2008 -
Eu quero a vida assim
Olha a multidão caminhando, chegando, gritando, querendo mais. As arquibancadas estão lotadas e todo mundo quer mais, mais do mesmo. Aplausos e vaias se confundem no refrão da mesmice. É o mesmo, do mesmo, do mesmo. É o mesmo, do mesmo, do mesmo. É só feijão com arroz, cadê o torresmo? O mundo que girava pelo mistério profundo, agora roda mecanicamente, automaticamente, comumente. A rotina é sempre igual. Até o tédio já é natural. E ainda dizem por aí que tudo isso é normal.
Eu quero revolução. Eu quero o mundo de ponta cabeça. Eu quero folia, desordem, inversão. Eu quero a outra versão da história. Eu quero que o cotidiano trinque, rache, quebre para a alegria nascer. Eu quero a inconstância do prazer. Eu quero a falta de limites do querer. Eu quero o fim dessa vida robótica. Eu quero que os sentimentos extrapolem, que os pensamentos virem pólen e que as rotinas se enrolem e rolem vida abaixo. Eu me perco, eu me acho. ...
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24/11/2008 -
Cântico de Maria
Ò minha mãe, Auxilium Christianorum, perdoa as minhas faltas, os meus descaminhos e às vezes que eu não entendi os espinhos que colocaste em meus caminhos. Sou fraco, pecador, trapo, humano-sonhador, mas olha o amor que me há a vos adorar. Eu não mereço vosso colo, mas tenha misericórdia ao me lançar este vosso olhar de dolo. Perdão, Altíssima, pelas vezes que não dobrei os joelhos, a voz e os espelhos do meu eu diante de vós. Confesso a vós o meu desespero, o meu atropelo, o meu destempero de viver sem saber sofrer. ...
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23/11/2008 -
Torre de esmeralda
Todo fim de tarde é a mesma história. Praticamente, um ritual cumprido religiosamente. Uma menina de nove anos aproveita que a mãe se perde nas contas do terço e deixa a parte central da igreja com a desculpa de brincar com as outras crianças, que correm pela pracinha de paqueras e pipoqueiros. No entanto, seus passinhos tomam outro destino - a torre da igreja. O sino está desativado há alguns anos, mas a vista da cidade dali de cima é capaz de dobrar, badalar, ensurdecer corações. Ela já havia contado. É preciso enfrentar cento e oitenta e três degraus para se chegar ao topo daquele seu castelo de cartas. ...
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