13/11/2008 - Chover em paz
A tarde vai caindo e com ela, uma chuva inesperada. Uma chuva fina, fria, bailarina. Cai em pontas, mas como uma delicadeza capaz de arrancar aplausos. Aos poucos, o sol torna-se negro e cede espaço para a água. Agora, não sei se ele deixa o tablado por ato de cavalheirismo ou por medo de se molhar. O fato é que aos poucos a chuva vai calando a rua, entre o concreto e o imaginário, dando um ar daqueles filmes europeus ao nosso tropicalismo.
Com a mudança de clima, as sombrinhas e guarda-chuvas aparecem às pencas. E o que era para dar mais cor e classe ao espetáculo das águas torna-se um ato melancólico. As sombrinhas trombam uma nas outras, as varetas dos guarda-chuvas espetam o rosto alheio, a água acumulada é chacoalhada em cima dos outros passantes... Um verdadeiro circo de horrores acaba com a beleza da chuva entardecida que, envergonhada, vai embora.
O governo precisa ditar uma lei que traga de volta as aulas de boas maneiras e etiqueta às escolas. Deve ser obrigatório aprender, por exemplo, a abrir, empunhar e fechar uma sombrinha com elegância e respeito ao próximo. Definitivamente, o grande problema do mundo é a humanidade. Algo deu errado no projeto divino para que essa desordem tomasse conta de tudo e de todos. É uma pena que nem mesmo a chuva pode mais chover em paz.
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