Daniel Campos

Prosas

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11/12/2009 - 1980, o começo do fim

O clima desandou em 1980. É isso que os especialistas em impactos da mudança climática concluíram depois de anos de estudo. Para o bem ou para o mal, nasci exatamente no ano em que o aquecimento global aportou no mundo. Sem querer ser pretensioso, será que meu nascimento foi o responsável pelo início do processo irreversível de alteração das temperaturas terrenas. De 1980 para cá, tudo, em matéria de clima, piorou.

E agora? Posso ser condenado. Mas eu não tive intenção. Que importa tudo isso, quem vai acreditar em mim. Dos ursos polares do Ártico aos esquimós do Antártico todos querem a minha pele. Serei linchado pelos ambientalistas e torturado pelos naturebas. A imprensa, hipócrita como sempre, tratar-me-á como a escória da sociedade. Se eu tiver sorte de escapar dos atentados e açoites, viverei para o resto de meus dias com outro nome, rosto e profissão. ...
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10/12/2009 - Tempo que não se conta

Conta-se que já se foi o tempo em que o tempo era levado em conta. Hoje, ninguém mais planta seguindo os céus. Hoje, ninguém mais navega de acordo com as estrelas. Hoje, ninguém mais morre de acordo com o relógio biológico. Hoje, o tempo virou um imenso tic-tac, um tac-tic, um tic-tic, um tac-tac, um encontro e desencontro de ponteiros. O tempo existe e pronto. Ninguém mais o romantiza. Ninguém mais o rivaliza. Ninguém mais o imortaliza em canções atemporais.

Os temporais podem cair à vontade. O mundo já se acostumou com eles. Os seres humanos que antes de trocar de roupa olhavam para o céu entraram em extinção. Que importa o sol, a chuva e o frio se o homem é uma criatura adaptável? Perdeu-se a graça esperar pelo final de semana ou por uma data especial do calendário. Tudo passa tão rápido. O tempo se embola, dá nó e vira uma coisa só. Não há mais diferença entre terça e quinta-feira. O tempo que era único virou um tempo de massa, sem rosto e com tantos rostos......
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09/12/2009 - Movimento perturbador

Como é perturbador conviver com o sofrimento. O quão perturba ter as mãos atadas diante da dor alheia. Dor que não se sabe. Dor que não tem remédio. Dor que instiga e castiga na mesma proporção. Você quer ajudar e não pode. É impedido por uma série de limitações físicas, psicológicas e espirituais. E quanto maior a proximidade, maior a cumplicidade da dor. As lágrimas se multiplicam, passam a correr em outros rostos. Reza-se e, nesse processo, ganha-se ou se perde mais fé.

Quer conhecer um ser humano? Coloque uma doença em sua casa. Com a sutileza de uma gota a mais em um copo d’água, a rotina se rompe dando espaço à perturbação. Questionamentos sobre vida e morte são filmes em constante exibição em sua cabeça. Tenta-se fazer de um tudo, e o tudo quase sempre é nada. De esforço em esforço chega-se à exaustão, mas ainda é pouco. Doer diante de uma dor que habita outro corpo que não o seu é um sentimento indelicado, que, de fato, perturba....
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08/12/2009 - O tempo e Cauby

Quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João, ouço a voz grave e aveludada de um cantor que viveu dias de pop-star, provocando gritos e suspiros, apresentando-se no pequeno palco de um bar. Há cinco anos, às segundas-feiras, Cauby Peixoto lota o Bar Brahma em São Paulo, um dos últimos redutos da boemia paulistana. O autor de “Conceição”, aos 78 anos de idade e mais de 60 de carreira, está longe dos grandes palcos. Culpa do futuro que nos atrai e depois nos massacra, transformando-nos em passado. ...
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07/12/2009 - Os sinos não chegam ao Afeganistão

O final de ano chega com várias promessas, embora a maioria delas seja bastante antiga. Há muitas bocas falando em amor, paz, prosperidade. Há pessoas enfeitando árvores, paquerando presentes, planejando ceias. Tudo gira em torno de confraternização, de união, de paixão. Papais e mamães-noéis se abraçam pelas praças num abraço confidente. A cidade se ilumina. O novo tempo surge como redentor, capaz de perdoar todos os pecados de humanidade que, sobretudo, erra.

Paralelamente, trocando coros de jingle bells por palavras de ordem, exércitos marcham no e para o Afeganistão. O território destruído, improdutivo de sonhos, vai substituindo os fogos de artifício pelo barulho dos canhões. Pobres afegões que acreditaram nas promessas de paz de presidentes, de líderes mundiais, de seus ancestrais. O final do ano é apenas a continuidade de uma guerra constante e, quiçá, eterna. Dizem as lendas que o Afeganistão nasceu do ventre da guerra....
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06/12/2009 - O assovio e o vento

Depois de muitos anos o vento voltou a assoviar em meus ouvidos. Um assovio que mais se assemelha ao uivo dos lombos. Assovio que medra as crianças que urinam na roupa, os cães que se escondem e os velhos que se põem a rezar. Pelos campos de selva e pedra, o assovio chega a cortar feito lâmina imaterial. Vento ultra-sônico. Vento folclórico. Vento arteiro que gosta de assustar. Vento de ventanias e outras estripulias. Vento de assovios que correm como rios em noite de tempestade.

O vento assovia como um anúncio maléfico, como um prenúncio de final dos tempos. Que venham as cavalarias. Que venham santos e arcanjos com suas armaduras prontos a desafiar os demônios de plantão. É isso que o vento nos faz pensar ao assoviar feito um louco pelas ruas tortas do vale das sombras. O assovio arrepia, dá calafrios e um tremor na espinha. O que, depois de tantos anos, o vento quer comigo? Será que quer me pedir ou me cobrar alguma coisa?...
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05/12/2009 - Doce amor

Amor, doce amor, coloca em mim suas asas e me leva a um vôo cego pelos confins do infinito amar. De colherada em colherada, alimenta-me dessa canção que mistura prazer e sofreguidão. Mas uma sofreguidão bem quista pelos meus apelos. Deixa-me respirar seu ar, sonhar e me afogar em seus cabelos. Quero invadir seus espelhos, tatuar em mim seu escaravelho e morder, feito cão vira-lata, seus tornozelos.

Amor, doce amor, lava meu eu de toda insegurança, ensina-me a ser, mais uma vez, criança tão ingênua quão pura de amar. Leva para longe todos os fantasmas que gostam de assombrar aqueles que acreditam no gostar. Não permita que o passado se apodere do presente, que toda construção desabe num de repente, que o fruto negue a semente, tampouco que a solidão se agigante numa última tentativa de não morrer....
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04/12/2009 - Dá um tempo, tempo

Tenho andado em dívida com o tempo. Muitas cobranças e pouca coisa oferecida em troca. E pior, maldigo-o a todo instante. Isso sem falar que tenho sempre um pé atrás com ele, além, é claro, de tentar agarrá-lo sempre. Posso dizer que sou uma pedra no sapato do tempo. Vivo importunando-o com minha mania de quer mais e mais do que ele pode me ofertar. Pechincho demais, chego a ser chato com os ponteiros. E fazer o quê? É a vida que está em jogo.

Tento quase que diariamente flexionar o tempo, esticando o dia, empurrando a noite para debaixo do tapete. Chego a atrasar o relógio para ter a sensação de que fui agraciado com alguns minutos a mais. Pura ilusão. O tempo é arrogante e turrão, não se dispõe a conversar, tampouco fazer um acordo de cavalheiros. Para ele, sou apenas mais um. Mais um de seus escravos. Lá fora há uma multidão de pessoas acorrentadas, torturadas, condenadas ao tempo. ...
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03/12/2009 - Cidade mulher

Toda cidade é feminina porque cada mulher é uma cidade. Basta reparar de quantas esquinas é feita uma mulher que se aproxima e se dista dos olhares que a seguem e, até mesmo, perseguem-na vida afora. Toda mulher é rica em relevo e formas geométricas. Seja no corpo ou no espírito essas mulheres são modernas, tradicionais ou futuristas. Podem ser pitorescas como cidadelas ou engenhosas como grandes megalópoles.

Independentemente se pequenina ou grande, se interiorana ou litorânea, se rural ou transcendental, a mulher tem problemas urbanos e grandiosos. Problemas diários, estruturais, ancestrais como todo e qualquer reduto de civilização. Porém, até na problemática as cidades conseguem, assim como as mulheres, serem pólos de atração física e psicológica. Quantos os que caem aos pés de uma cidade e se imaginam felizes ao lado dela, fazendo juras de amor eterno? ...
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02/12/2009 - Tarja preta

Atualmente, para se manter vivo é necessário ser um “tarja preta”, ou seja, viver sob medicação pesada. Antidepressivo. Antiestressante. Antioxidante. Antipilantragem. Antifalcatrua. Antiroubo. Antiradioativo. Antisequestro. Antipromessapolítica. Antidesemprego. Antienchente. Antiditadura. Antiinflamatório. Antispam. Antibiótico. Antiloucura. Antimiséria. Anticobrança. Antisusto. Antiescândalo. Anticorrupção. Antitelemarketing. Antiapagão. Antipaparazzi. Antipopulismo.

A falta de medicamento assim como as contra-indicações e reações são absurdas, principalmente no que se refere à bula. É um risco tomar a medicação tarjada de negro e outro não ingerir os ben(mal)ditos remédios. As farmácias são o negócio mais lucrativo do momento. Além da tarja negra, há o mercado negro. Comprimidos vendidos sem prescrição médica. Comprimidos piratas. Comprimidos medicinais ou veneno em cápsulas? ...
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