10/12/2009 - Tempo que não se conta
Conta-se que já se foi o tempo em que o tempo era levado em conta. Hoje, ninguém mais planta seguindo os céus. Hoje, ninguém mais navega de acordo com as estrelas. Hoje, ninguém mais morre de acordo com o relógio biológico. Hoje, o tempo virou um imenso tic-tac, um tac-tic, um tic-tic, um tac-tac, um encontro e desencontro de ponteiros. O tempo existe e pronto. Ninguém mais o romantiza. Ninguém mais o rivaliza. Ninguém mais o imortaliza em canções atemporais.
Os temporais podem cair à vontade. O mundo já se acostumou com eles. Os seres humanos que antes de trocar de roupa olhavam para o céu entraram em extinção. Que importa o sol, a chuva e o frio se o homem é uma criatura adaptável? Perdeu-se a graça esperar pelo final de semana ou por uma data especial do calendário. Tudo passa tão rápido. O tempo se embola, dá nó e vira uma coisa só. Não há mais diferença entre terça e quinta-feira. O tempo que era único virou um tempo de massa, sem rosto e com tantos rostos...
A humanidade deixou o tempo para lá, porque ele é como a morte, existe e age por si só, independentemente de vontades paralelas. Hoje o tempo pouco importa para ter ou ser ou fazer. Antes tinha tempo para namorar, noivar, casar, desvirar donzela. Hoje, o tempo explodiu. Minutos são barracos se erguendo e caindo das favelas da mente-coração. Todos se conformaram com a ditadura temporiana e pararam de se importar com ele. Afinal, assim como a desigualdade, com a injustiça, como a fome, ele não para...
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