Daniel Campos

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31/12/2009 - É preciso ficar nu

Hoje é o último de muitos dias. O ideal seria passar o dia de hoje nu. Nu de roupas, pensamentos e sentimentos. Ah! Como seria bom se fossemos como os armários que podem ser completamente esvaziados. Hoje precisamos de uma arrumação. Tirar de si todo sim, todo talvez, todo não. Ficar completamente vazio. Hoje é um dia que não se devia ganhar nada, apenas dar. Afinal, hoje é o dia do desprendimento, do desligamento, do divórcio do velho com o novo. Hoje não existe presente, apenas um vácuo entre dois tempos vorazes e impiedosos. ...
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30/12/2009 - Não adianta

Não adianta trancar a porta do quarto. Eu tenho a chave. Não adianta vestir tantas roupas. Eu gosto de lhe despir peça por peça. Não adianta se calar. Eu sei falar a sua língua. Não adianta ir dormir cedo. Eu perco o sono. Não adianta falar mal de mim. Eu relevo críticas. Não adianta me envenenar. Eu não caio. Não adianta gritar. Eu me faço de surdo. Não adianta tentar me convencer. Eu sou de opinião.

Não adianta me bater. Eu agüento. Não adianta me rogar praga. Eu não acredito. Não adianta mentir. Eu não me iluso. Não adianta jogar. Eu ganho. Não adianta me difamar. Eu não me importo. Não adianta fugir. Eu lhe acho. Não adianta desconversar. Eu volto ao assunto. Não adianta desmaiar. Eu lhe acordo. Não adianta me morder. Eu não grito. Não adianta me desanimar. Eu não desisto. Não adianta adiar. Eu espero. ...
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29/12/2009 - Os meandros da manhã

Quando a manhã chegar eu hei de querer acordar junto a ti. E antes de qualquer palavra, vou ruborizar as maçãs de seu rosto com uma xícara de sol coado daquele jeito que você gosta. Ao contrário de lhe trazer jornais com aquelas notícias gastas e, quase sempre, inconvenientes, vou ler, ao pé de seu ouvido, alguns trechos de Garcia Marquez. E as uvas, ao invés de serem oferecidas em bandejas, serão dispostas sobre os lençóis de modo que possamos fazer nosso vinho matinal.

Já pedi para os pássaros que insistem em pousar na amendoeira cantarem uma sonata ou um soneto. Como eles vêem ensaiando às escondidas há meses, mais precisamente na rua de baixo, creio que vai se surpreender com o resultado. Também já encomendei um corte de seda javanesa para você se vestir para o verão. As janelas estarão devidamente entreabertas, de modo que você descubra o dia de hoje bem devagar, sem sustos ou quebras de expectativa. ...
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28/12/2009 - Sem perguntas

Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas. Agora precisamos entrar em acordo se queremos saber para onde vamos, quem somos, o que sentimos ou se vamos viver tudo isso sem perguntas. Afinal, as respostas surgem naturalmente, não precisam ser provocadas ou pré-fabricadas. Questionários só desgastam, estressam, violentam todo e qualquer relacionamento. Amor não é vestibular, mas vale uma dica: pressuposto de amar é não desconfiar.

Nenhuma pergunta acontece por acontecer. Todas têm segundas intenções e a maioria, um quê de veneno. Quem pergunta, duvida. E dúvida é o combustível perfeito para a derrocada de qualquer relação a dois. O vírus da incerteza, em termos de estragos, é pior do que o ato em si. Se existe um codinome para demônios, sem dúvida é “dúvida”. Então, pra que interrogar? Não basta viver um amor, será preciso sabê-lo? Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas disfarçado de buraco negro, pronto a sugar os amantes....
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27/12/2009 - Bordeaux já!

Meu amor pegue o primeiro avião porque quero lhe encontrar em Bordeaux. Quero lhe amar provincianamente, em uma França bem menos badalada. Quero lhe pegar pela mão e correr meninamente pela planície de Aquitânia, país das águas. Quem sabe a gente vai além dos rios Garrone e Dordgone e chegamos às estações de esqui dos Pirineus. Vamos nos perder pelas parreiras. Vamos visitar os châteaux e provar várias safras.

Vamos nos esbaldar nesse clima temperado, passear pelo Bosque de Landes. Vamos namorar sobre os terroirs, que foram plantados há dois mil anos pelos romanos, quando conquistaram os celtas. Vamos trabalhar uma batalha amorosa e relembrar que ali foi Palco da Guerra dos Cem Anos. Vamos caminhar por sobre um mar de garrafas vazias que alimentaram começos e finais de outras paixões....
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26/12/2009 - Estou

Estou em casa, estou no ar, estou no seu plexo solar. Estou na torneira, estou na nuvem e na ribanceira. Estou na roupa, estou na janela, estou na sua boca. Estou no jardim, estou no agito, estou na bala de festim. Estou no gargalo, estou no papel, estou pra lá do seu céu. Estou no buraco, estou no papo, estou no fato. Estou na pergunta, estou na garganta, estou aos pés da santa. Estou no chafariz, estou na ponta, estou no desejo de lhe ver feliz. Estou na enciclopédia, estou na monotonia, estou na sua tragédia. ...
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25/12/2009 - Um Natal eterno

Que o Natal não seja somente uma data, mas um tempo. Que os presentes não sejam perecíveis, ou melhor, que vão além do período terreno. Que as árvores continuem enfeitadas e respeitadas. Que o bom velhinho continue andando por aí. Que as luzes se multipliquem. Que a mesa seja farta todos os dias. Que um trenó puxado por renas seja o pretexto para dizer que o sonho existe. Que sempre haja um motivo para um abraço e um sorriso. Que se comemorem cada nascimento como sendo único. Que o espírito natalino dê frutos, sementes e novas flores. Que saibamos seguir as estrelas para além da noite de Natal. Que se compreenda o sentido do dia de hoje aplicando-o nos demais. Que ninguém, daqui por diante, sinta-se sozinho. Que a vida tenha finalmente seu sentido redimensionado. Que os anjos, hoje e sempre, digam amém ao amor em todas as suas variações. ...
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24/12/2009 - Filho do seu auxílio

Quando eu lhe vi pela primeira vez, não tive dúvidas: cai aos seus pés. Foi como se depois de tanto caminhar eu encontrasse conforto para aliviar o peso do mundo que acumulei ao longo dos anos. Foi mágico. Só nós dois e uma igreja sem paredes, ladeada por um céu tão infinito quão azul. E eu lhe vi vestida desse mesmo azul com tons de vermelho. E eu lhe vi tão perto como nunca dantes havia visto em lugar ou tempo algum.

Eu, mesmo sem saber falar como falam os anjos, falei. Na verdade, eu me entreguei de paixão enquanto a alma crescia a ponto de não caber dentro da carne. Sem suportar o fluxo de energia que me envolvia, desprendi-me de todas as amarras e lastros. Fechei os olhos e me deixei levar. Era sentimento e formigamento por todo corpo. De repente, dos olhos brotaram lágrimas e da boca, soluços. ...
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23/12/2009 - Senhora dos amores

Pelo amor de quem nos tem amor, piedade dos que amam e amam demais, ò senhora dos amores. Eu, filho amoral, peço clemência nos autos da solidão mais que carnal. Socorrei-nos dos demônios da ingratidão e de toda aflição conjugal. Não permita, por favor, ò senhora dos apaixonados, que a humanidade sofra a dor e as dores da saudade. Que suas graças intercedam por nós, amantes convictos, não nos deixando aflitos com nossos corações em carne viva. Priva-nos do medo incisivo e do desamparo afetivo a partir do mais bonito conceito que há: o amor sabiá, que assovia em nossos ouvidos com a fúria dos cupidos. ...
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22/12/2009 - Meu tempo é quando

Vinícius de Moraes costumava dizer de forma sintética: "meu tempo é quando". Com licença do poeta, vou aprofundar o tema, afinal, meu tempo é quando... Meu tempo é quando o amor vinga. Meu tempo é quando a solidão encontra seu par. Meu tempo é quando o prazer não se envergonha de dar e receber prazer. Meu tempo é quando a morte me esquece. Meu tempo é quando outro corpo me aquece. Meu tempo é quando o destino tece novo caminho e, sem qualquer carinho, o pisa. Meu tempo é quando a razão contemporiza. ...
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