04/12/2009 - Dá um tempo, tempo
Tenho andado em dívida com o tempo. Muitas cobranças e pouca coisa oferecida em troca. E pior, maldigo-o a todo instante. Isso sem falar que tenho sempre um pé atrás com ele, além, é claro, de tentar agarrá-lo sempre. Posso dizer que sou uma pedra no sapato do tempo. Vivo importunando-o com minha mania de quer mais e mais do que ele pode me ofertar. Pechincho demais, chego a ser chato com os ponteiros. E fazer o quê? É a vida que está em jogo.
Tento quase que diariamente flexionar o tempo, esticando o dia, empurrando a noite para debaixo do tapete. Chego a atrasar o relógio para ter a sensação de que fui agraciado com alguns minutos a mais. Pura ilusão. O tempo é arrogante e turrão, não se dispõe a conversar, tampouco fazer um acordo de cavalheiros. Para ele, sou apenas mais um. Mais um de seus escravos. Lá fora há uma multidão de pessoas acorrentadas, torturadas, condenadas ao tempo.
Em compensação, o ócio por mais criativo que seja não é bem-visto pelo tempo. Ou seja, a minha proposta, para o senhor das horas, é indecente. Viver de forma anárquica, sem levar em conta dias e noites é absurdo na visão temporal da coisa. Eu tinha que lhe oferecer a minha alma, afinal não há nada mais demoníaco que o tempo. No entanto, depois de tantas desavenças, estou em baixa na cotação do tempo.
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