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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 247 de 320.
02/04/2010 -
Paixão dolorosa
Santa, puramente santa nasceu você, sexta-feira das dores. Santa feira, sexta de dor. Nasceu condenada ao silêncio e ao sacrifício. Nasceu jurada ao sofrimento vitalício. Tem o legado da proibição, da inibição, da castração de desejos e outros ensejos. Sexta de Barrabás. Sexta da vitória do Satanás, do martírio de Deus, do choro dos judeus, é assim dolorosamente sexta por quase dois mil anos. Tanto tempo faz e o vento que corre em ti, sexta-feira, ainda corta em dor de luto.
Sexta do grito de Jesus questionando o possível abandono do pai. Sexta que mata e morre na cruz. Sexta da escuridão, do roxo, da falta de luz. Sexta das dores. Sexta dos atores que encenam a paixão. A paixão de um Deus que se fez carne e morreu por nossas mãos. Sexta dos ateus e dos cristãos. Sexta do choro de Nossa Senhora, mãe e virgem dolorosa. Sexta das promessas de redenção, de ressurreição, de glória e aleluia. Sexta na qual um pássaro de fogo canta o fim do mundo na beira da tuia. ...
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01/04/2010 -
Capítulo 8
A previsão de Sebastian se confirma. Mal chega ao trabalho e seu celular começa a tocar seguidas vezes. É Malena perguntando se agora ele está feliz por estar no meio de suas colegas. Pergunta se tais mulheres são mais bonitas que ela, se tais mulheres se vestem melhor que ela e se tais mulheres transam melhor que ela.
Sebastian diz que está prestes a entrar em um julgamento importante. E ela se revolta dizendo que o marido, no mínimo, deve estar ocupado com alguma daquelas oferecidas que trabalham com ele....
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01/04/2010 -
Narciso, o pardal
Que pardal mais narcisista este. Tanto lugar para fazer ninho e ele teve que inventar de querer sua casinha bem no retrovisor do meu carro. Todo dia é assim. O bichinho se debatendo em asas querendo entrar no espelho. Talvez queira ficar perto de seu reflexo ou, em sua maluquice passariana, enxerga ali, entre seus traços, uma suposta namorada. Já virou rotina encontrar pela manhã o espelho todo riscado de seus pulinhos e o retrovisor salpicado de sujeira de pardal.
Pensei em fazer uma arapuca para pegar Narciso, o auto-admirador grego. Talvez seja esse o nome mais adequado para ele. Vai gostar de se admirar assim lá na Grécia antiga. Também já cogitei esticar um bom estilingue para dar um basta nessa novela. Mas sempre acabo ficando com pena. Se bem que nessa história toda quem tem pena é o pardal. Nem bem o dia amanhece e o bichinho já está às voltas com seu reflexo. Como Caetano diz, Narciso acha feio o que não é espelho....
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31/03/2010 -
O sol da saudade
Bufando de ardor, o sol reclinou-se até se transformar em reflexo nos óculos escuros de um senhor de cara amarrada que passava bambeando pela rua. Depois de noventa anos, já tinha dificuldade o suficiente para andar sem esbarrar nos obstáculos que a cidade grande colocava em seu caminho. Para correr o risco de morrer na próxima esquina não precisaria ser atrapalhado pelo sol. Sendo assim, o que, afinal, o astro-rei queria com ele?
Certamente, queria perguntar o segredo de sua longevidade, ou o nome de um remédio para reumatismo, ou quem ganhou o jogo de bocha ontem no parque. O que um velho fraco e cansado poderia fazer para ajudar o sol? Se é que o sol queria alguma ajuda. Talvez ele só quisesse atormentar aquele senhor que levava um jornal amassado debaixo do braço. Seja o que fosse, ele insistia em lançar raios ultravioletas contra aquele óculos esverdeados. ...
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30/03/2010 -
Capítulo 7
De repente, o choro se transforma em raiva. Ignorando Micaela, Sebastian sobe as escadas à procura de Malena, que se maquiava para ir ao trabalho. Sem maldade, ela pergunta como foi sua conversa. Ele, transtornado, passa a mão pela penteadeira e joga pentes, cremes e estojos de maquiagem ao chão.
Enquanto ela se recupera do susto, ele esbraveja dizendo que ficou sozinho em um momento difícil. Aos berros, frisa que há tempos ela o tem deixado só, desamparado, abandonado...
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30/03/2010 -
Rei dos sem reinos
Quando a noite chegar, vou-me embora. Vou-me embora para um reino sem rei. Chega de duelar, de trabalhar, de matar dragões. Chega de ser plebeu de brasão. Chega de escutar histórias de feiticeiros. Chega de viver de masmorra em masmorra. Chega de guerra e de guerrear. Chega de távolas redondas, quadradas ou triangulares. Chega de coroas e cetros dizendo para eu fazer isto e aquilo. Chega de calabouços. Chega de forjar espadas nos ossos da morte. Chega de, no meio do caminho, haver sempre um rei de pedra. ...
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29/03/2010 -
Amor querubim
Amo e de tanto amar me faço assim: um apaixonado sem fim. Quantos momentos brincando em mim, palpitando no confim de um coração querubim. Eu, anjo do amor voando pelo seu céu lilás. Tanto tempo faz do nosso primeiro beijo e o desejo continua demais como a canção fugaz: amar é bom. Amar é o som do querer mais cantando na chuva, debaixo do chuveiro, na noite turva, pela estrada, por entre as flores do canteiro e ao pé do ouvido da criatura amada.
Amo-te mais e mais, mas nunca o bastante. Amo-te como infante e com toda a enfática necessária. Amo-te de forma lunática, por entre cometas e luares. Amo-te aqui, lá, ali, acolá, em todos os lugares. Amo-te até mesmo no vácuo. E nesse amor não me empaco, pois mesmo revivendo nossas poesias, amo-te sempre à frente. Amo-te com o mesmo sentimento, mas de um modo sempre diferente. Amo-te num amor navegante: descobridor e avante. ...
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28/03/2010 -
Bingo, hoje é domingo
Bingo, hoje é domingo. Pelas ruas há uma multidão se cumprimentando, se falando, se beijando e até mesmo se amando somente porque hoje é domingo. As madames vão almoçar em restaurantes grã-finos. Os charlatões contabilizam os golpes da semana. O jardineiro tira folga enquanto espia a floração do jardim da vizinha. A mama faz aquela macorranada com bastante molho. Os padres repetem a mesma homilia ao longo de um dia repleto de missas. Os preguiçosos deitam à frente da televisão. Os bêbados encontram justificativa para uma cervejinha a mais. Os pais se esquecem da idade e brincam com as crianças. E os apaixonados vão ao cinema estalar beijos de pipoca. ...
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27/03/2010 -
Sassá e Tieta
Quando chega por volta das seis horas da manhã, no fundo da campina, um cocoricar ajuda a descortinar o negro manto da noite. O sol vai clareando aos poucos os poucos já de pé enquanto aquele galo pequeno, mas bastante invocado, dá seu recado cocoricando insistentemente. Como Peter Pan, ele não vai crescer mais. Só que ao contrário do menino das histórias infantis, Sassá Mutema não voa. Dá uns pulinhos, mas não chega a bicar os céus. Mas para que tanta cantoria?
Para anunciar o novo dia? Para despertar os dorminhocos? Para fazer bonito para Tieta? Tieta? Tieta é a galinha por qual Sassá suspira e canta apaixonado. Ela é negra, toda arrumada nas penas. Ele, meio índio, vai do azulado ao branco em seus poucos centímetros de altura. Desde que chegou ao quintal lá de casa, o casal de garnisé deu início a um encontro de telenovelas. Com a licença de Lauro César Muniz e Aguinaldo Silva, Sassá e Tieta, entre bicos e esporas, vão enredando seu romance....
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26/03/2010 -
Frutas, flores ou cera
Bodas de frutas, flores ou cera. Quatro anos degustando os sabores de sua carne e alma frutificadas. Quatro anos perfumando-me na aquarela de suas flores mil. Quatro anos amando-te com a mesma fé que escorre da cera de uma vela em chama aos pés do altar. Quatro anos de muito gosto, cor e fogo. Quatro anos de muito apetite, delicadeza e luz. Quatro anos de muito amadurecimento, plantio e crença. Crença no improvável, no impossível, no interior das coisas.
Foram poéticas tão caudalosas como manga rosa. Foram beijos de flores carnívoras. Foram romantismos se desenvolvendo a luz de velas. Foram momentos doces como a última jabuticaba de uma árvore negra. Foram instantes de plena primavera. Foram noites vivendo o prazer face à penumbra de dois corpos e mil anjos. Foram romances de estação, afrodisíacos e, quiçá, importados. Foram saudades sempre-vivas. Foram mel, zangões, rainhas e cera. ...
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