27/03/2010 - Sassá e Tieta
Quando chega por volta das seis horas da manhã, no fundo da campina, um cocoricar ajuda a descortinar o negro manto da noite. O sol vai clareando aos poucos os poucos já de pé enquanto aquele galo pequeno, mas bastante invocado, dá seu recado cocoricando insistentemente. Como Peter Pan, ele não vai crescer mais. Só que ao contrário do menino das histórias infantis, Sassá Mutema não voa. Dá uns pulinhos, mas não chega a bicar os céus. Mas para que tanta cantoria?
Para anunciar o novo dia? Para despertar os dorminhocos? Para fazer bonito para Tieta? Tieta? Tieta é a galinha por qual Sassá suspira e canta apaixonado. Ela é negra, toda arrumada nas penas. Ele, meio índio, vai do azulado ao branco em seus poucos centímetros de altura. Desde que chegou ao quintal lá de casa, o casal de garnisé deu início a um encontro de telenovelas. Com a licença de Lauro César Muniz e Aguinaldo Silva, Sassá e Tieta, entre bicos e esporas, vão enredando seu romance.
Correm para lá, correm para cá, sobem no poleiro feito com galhas secas de uma árvore não menos seca do cerrado, entram no ninho improvisado em uma caixa de papelão, deliciam-se com quirela de milho, grilos, gafanhotos e tentam conviver pacificamente com coelhos, cachorros, periquitos e outros bichos que povoam aquele quintal. O fato é que eles não param. Parecem ter ganhado pilhas novas. Aliás, parecem dois brinquedos desses modernos, que fazem de tudo e imitam a realidade.
Durante o dia, Tieta cisca o terreiro e dá de comer a Sassá, que, como tenor, se acha importante demais para fazer tal serviço. À noite, ela se acomoda debaixo das asas do noivo para acompanhar o sol se pôr num horizonte bem avermelhado como a crista do galinho. E é no silêncio da noite, tendo a amada ao seu lado e a lua sertaneja pertinho do telhado, é que Sassá compõe seus novos cocoricós.
Comentários
ôôô bicharada em filho o que vc terá da prôxima vez kkkkk!
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