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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 236 de 320.
28/06/2010 -
Jogando conversa fora
Eu já lhe falei, ò meu senhor, das tantas coisas que trago no peito? Eu já lhe contei, ò minha senhora, por que meu coração chora descompassado desse jeito? Pois bem, é tanto ciúme, amor e defeito pulsando seus pulsos e impulsos no mesmo lugar. Ah! De centenas de espinhos apenas um ignora seu destino transformando-se em flor. E depois da dor do florescer vem o vento da separação, levando uma pétala para cada canto. E pétalas não são sementes de encanto ou de pranto, são apenas pedaços de um coração frágil e inquieto. Ah! Meu amor, por favor, fica por perto....
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27/06/2010 -
Histórias de porteira
Quando abria a porteira, meus olhos se abriam para um quintal de folhas no chão e cacarejo de galinhas ciscando. Cada uma de seu jeito, mais tímida ou atirada, as frutas se dependuravam nas árvores que esperavam um ano para dar o que comer. O cachorro me olhava da soleira da porta querendo um doce enquanto um apito de trem cortava a cidade. Perto dali, o namoro seguia nos bancos de praça, o tricô em cadeiras de balanço e a prosa em goles de café. E meus ouvidos, cansados de guerra, fartavam-se dos repiques de sino que convida para as missas da padroeira. E quando o dia escurecia, as estrelas se ajuntavam e faziam no céu uma fogueira. ...
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26/06/2010 -
Quitandas mineiras
O que é que a mineira tem? O que é que mineira tem? Tem amor em pedaços, tem. Tem biscoito de polvilho tem! Canudinho de doce de leite, tem. Tem um trem que mulher alguma tem... O que é que a mineira tem? Em sua quitanda, a mineira tem biscoito de coco, bolo de maracujá, broa de milho. Tem, tem, tem. Na quitanda da mineira tem cubu, rosca de leite condensado, rosquinha amanteigada e de amendoim. A mineira tem quitute que ninguém tem. Tem docinho de criança e história de sustança, tem.
O que é que a mineira tem? O que é que a mineira tem? Tem petiscos de romances e olhar de merenda, tem. A mineira que é mineira de verdade tem conversas e flertes ao redor do fogão à lenha. Tem biscoitinhos e outras delícias regadas a um café de bule. A mineira quitandeira tem cadernos de receita (verdadeiros livros de poesia que passam de geração em geração). E a mineira das quitandas tem truques, guardados a sete chaves, que são como feitiços de quimbanda. ...
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25/06/2010 -
Cheirar e ser cheirado
Meu pai sempre teve o costume de, ao passar perto de um pé de limão, arrancar um e levar no bolso. Dizia que era por conta do cheiro. Vez ou outra cutucava o fruto e aquele perfume cítrico invadia o ambiente. Pois bem, eis que, inspirado em sua atitude, decidi colocar uma manga, madura e rosa, em minha mesa de trabalho. Que bom poder escrever sentindo o cheiro de pomar. Fechar os olhos e me ver correndo pelo meio daquelas árvores que fazem nascer de seus galhos frutas de época.
Como andar com um fruto no bolso é um tanto desconfortável, resolvi colocar raspas de limão e laranja no bolso. Parece que levo uma árvore dentro de mim. Dando vazão ao romantismo, arrumei um prato com morangos e uvas na cabeceira da cama. Além de mordiscar as frutas entre beijos, a essência de sedução que essas frutas emanam durante a noite é algo digno de bons sonhos. Uma boa penca de banana é salutar para dar um quê de quitanda na cozinha. São tantos aromas e receitas de prazer. ...
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24/06/2010 -
Capítulo 32
Será que Jhaver é inocente? Difícil de acreditar. E se não foi ele, quem promoveu tamanha barbaridade? A morte brutal de um médium, a morte literal de um anjo, a morte figurada de sua mulher. Entre os feridos, o seu casamento, a sua relação com Micaela, a sua evolução espiritual, a sua imagem. Tudo está muito confuso dentro e fora da cabeça de Sebastian.
Mas por que um anjo castigador que não precisa dar satisfações aos seus castigados se preocuparia em dizer que não fez nada? Talvez isso faça parte do plano de castigação. Dizer que nada fez para continuar fazendo. É como a construção do estereótipo amoroso de Deus enquanto Ele próprio desconstrói uma série de criaturas que diz ter criado a sua semelhança. ...
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24/06/2010 -
Sob teus pés
Sob teus pés, uma moça de olhos tristes acende uma vela e suplica pela saúde de seu pai. Sob teus pés, um velhinho, de passos miúdos, pede um pouco mais de vida. Sob teus pés, um homem levanta sua carteira de trabalho no intuito de ser agraciado com um novo emprego. Sob teus pés, uma senhora traz flores em cumprimento a uma promessa. Sob teus pés, um andarilho para em contemplação. Sob teus pés, um menino deixa um bilhetinho querendo boas notas na escola. Sob teus pés, uma menina reza um terço sonhando com um final feliz para seu amor não correspondido. ...
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23/06/2010 -
Dia nacional do choro
Chora sua tristeza, a indelicadeza do mundo e até mesmo a beleza que passa ao seu lado. Chora gritado, sincopado, enamorado, desaforado e, até mesmo, calado. Chora por dentro e for fora. Chora vindo ou indo embora. Chora pelo que perdeu e pelo que nunca achou. Chora na porta de casa, no quarto escuro, no elevador. Chora de desespero, de alegria e de dor. Chora de atropelo e fantasia. Chora um choro musical, cinematográfico, teatral. Chora um choro raso ou visceral, mas chora.
Chora de amor, por falta ou excesso de amor. Chora como já choraram tantos e como ainda não chorou alguém. Chora como prova de solidariedade e saudade. Chora diante da morte própria ou alheia. Chora individual e coletivamente. Chora do que passa na janela, da cena da novela. Chora borrado e confuso como numa aquarela. Chora no meio da rua e aos ouvidos da lua. Chora guardando ou enviando suas lágrimas em feitio de correio elegante. Chora de ira ou um choro de mentira, mas chora. ...
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22/06/2010 -
Capítulo 31
No plano superior, em um dos degraus de uma espécie de montanha desértica em meio a um profundo fundo turquesa, Jhaver, de asas abertas, testemunha os últimos acontecimentos. Dali, também acompanha, mentalmente, o que dizem e pensam outros anjos. E, segundo as falas, a briga de Sebastian com Hernández, o fato de ele ter duvidado da fidelidade de Malena e sua atitude de tentar quebrar a imagem de São Miguel em um altar de igreja indicam que ele não teve a evolução espiritual esperada e, portanto, merece os castigos. ...
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22/06/2010 -
Que falta sinto eu
Que falta sinto eu dos seus olhos verdejando essa paisagem tão seca e árida chamada realidade. Que falta sinto eu de ouvir sua voz, forte como trovão e amável como o canto dos pássaros, contando-me coisas no sopro do vento. Que falta sinto eu de poder contar com o seu incentivo, com o seu amparo, com a sua inspiração mesmo a quilômetros de distância. Que falta sinto eu de saber que aquela camisa vermelha está devidamente engomada sobre a cama, esperando seu peito para mais uma dança.
Que falta sinto eu de ser alimentado por suas histórias tão cheias de sentimento e detalhes. Que falta sinto eu de apertar sua mão áspera e ganhar um abraço daqueles capazes de afastar todos os meus inimigos. Que falta sinto eu de escutar seus conselhos e seguir seus passos como naquela brincadeira “faça tudo o que seu mestre mandar”. Que falta sinto eu de sentar-se à mesa e prosear enquanto se come uma bela polenta com frango caipira. ...
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21/06/2010 -
Prece ao moribundo
Que Deus, Alá, Shiva ou alguma outra criatura superior tenha pena deste homem que depois de tanto acreditar foi desacreditado. No meio de tantos e santos este homem se vê sozinho, levando solitariamente seu caminho. Pode parecer exagero ou bobagem, mas a vida decreta sua despedida. E não há o que teimar: agora, basta caminhar para devolver seu corpo a terra e sua essência aos céus de agosto. Mesmo a contragosto de suas vontades, o moribundo parte de coração cheio e mãos vazias.
Coração cheio de sonhos incompletos, contabilizados no seu balanço de realizações e frustrações. Mãos vazias de oferendas. Não conseguiu tudo o que pleiteou. Aliás, conseguiu muito pouco. Quase nada. Voou, caiu, tropeçou e foi atropelado por um mundo nada misericordioso com os fracos. E aquele homem, embora nascesse com o brilho dos sonhadores nos olhos, fraquejou. Não teve forças para se impor, tampouco para propor uma realidade diferente. De tantos sonhos sonhados, restou a saudade do que não foi. ...
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