Daniel Campos

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21/06/2010 - Prece ao moribundo

Que Deus, Alá, Shiva ou alguma outra criatura superior tenha pena deste homem que depois de tanto acreditar foi desacreditado. No meio de tantos e santos este homem se vê sozinho, levando solitariamente seu caminho. Pode parecer exagero ou bobagem, mas a vida decreta sua despedida. E não há o que teimar: agora, basta caminhar para devolver seu corpo a terra e sua essência aos céus de agosto. Mesmo a contragosto de suas vontades, o moribundo parte de coração cheio e mãos vazias.

Coração cheio de sonhos incompletos, contabilizados no seu balanço de realizações e frustrações. Mãos vazias de oferendas. Não conseguiu tudo o que pleiteou. Aliás, conseguiu muito pouco. Quase nada. Voou, caiu, tropeçou e foi atropelado por um mundo nada misericordioso com os fracos. E aquele homem, embora nascesse com o brilho dos sonhadores nos olhos, fraquejou. Não teve forças para se impor, tampouco para propor uma realidade diferente. De tantos sonhos sonhados, restou a saudade do que não foi.

Nunca ninguém o entendeu para que ele pudesse deixar alguma lição como seu legado. Vai ser enterrado como outros quaisquer, como mais um fraco engolido pela terra. A ansiedade, a angústia, a aflição e outras pragas dos que carregam o signo do sentimentalismo, como sina ou castigo, pegaram-no de jeito. O choro derramado e demasiado nos últimos tempos foi a confissão de sua entrega. Espadas e escudos ao chão, peito aberto aos abutres do destino. Abutres que vão bicar aquele peito de pedra até ceifarem seu coração-menino.

Que Deus, Alá, Shiva ou alguma outra criatura superior tenha pena deste homem para que, se indigno de ser elevado na glória, possa, ao menos, ser carregado de modo a ter aliviado o peso de sua história.


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