25/06/2010 - Cheirar e ser cheirado
Meu pai sempre teve o costume de, ao passar perto de um pé de limão, arrancar um e levar no bolso. Dizia que era por conta do cheiro. Vez ou outra cutucava o fruto e aquele perfume cítrico invadia o ambiente. Pois bem, eis que, inspirado em sua atitude, decidi colocar uma manga, madura e rosa, em minha mesa de trabalho. Que bom poder escrever sentindo o cheiro de pomar. Fechar os olhos e me ver correndo pelo meio daquelas árvores que fazem nascer de seus galhos frutas de época.
Como andar com um fruto no bolso é um tanto desconfortável, resolvi colocar raspas de limão e laranja no bolso. Parece que levo uma árvore dentro de mim. Dando vazão ao romantismo, arrumei um prato com morangos e uvas na cabeceira da cama. Além de mordiscar as frutas entre beijos, a essência de sedução que essas frutas emanam durante a noite é algo digno de bons sonhos. Uma boa penca de banana é salutar para dar um quê de quitanda na cozinha. São tantos aromas e receitas de prazer.
Os cheiros podem nos fazer voltar ao passado, projetar um futuro e mergulhar nos sentidos do presente. Uma réstia de alho dependurada, uma cebola dourando no fundo da panela, o café passando lentamente por um coador de pano. Isso sem falar do cheiro verde, de um caju e de uma caixa de chocolates. Sol e lua usam fragrâncias completamente diferentes. E o que dizer daquele perfume que só existe no pescoço da mulher amada? Definitivamente, somos feitos para cheirar e ser cheirados.
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