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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 234 de 320.
14/07/2010 -
Sopros do tempo
Muitos de meus textos nasceram ao som de um trompete, de um saxofone, de um clarinete. Foi como se a inspiração se manifestasse por meio de sopros. Lembro de passar longas horas em meu quarto ouvindo parte da coleção de discos de meu pai. Aqueles álbuns dedicados à música brasileira instrumental sempre me provocaram. Muito do que escrevi, naquelas ocasiões, foi no sentido de preencher aquela falta de voz. Saindo do meu quarto e ganhando o mundo, o vento me soprava canções de sax, a chuva caia dedilhada no braço de um violão e a estrada se alongava em feitio de um solo de piston....
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13/07/2010 -
A copa de Paul
Passados os trinta e um dias da overdose futebolística, uma única certeza: quem ganhou a copa foi o polvo alemão. Paul, apelidado de Nostradamus, conseguiu prever os resultados decisivos da Fifa World Cup South Africa. Com nove cérebros e uma intuição digna do reino feminino, o molusco colocou a ciência em xeque e provou o fascínio da humanidade pela instituição do mistério. Ao contrário dos estádios sulafricanos, o olhar coletivo se voltou ao aquário marinho de Oberhausen, na Alemanha, casa do polvo de origem inglesa. ...
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13/07/2010 -
Capítulo 37
Diante dos olhos de ágata de Malena, Sebastian ri, chora, treme, soluça, formiga, enfim, é alvejado por uma série de descargas emocionais. E é assim, atordoado, que segura na mão de sua bela adormecida há quase vinte dias e agradece a São Miguel. Mal sabe ele que naquele encontro de Jhaver com o arcanjo, o anjo castigador não recuou um milímetro sequer de sua posição. E mais, desafiou as ordens de um Deus, não menos castigador, e aceitou enfrentar as conseqüências.
Foi graças ao aviso de Jhaver que um levante de luz comandado por seu Klaus conseguiu deter a invasão dos umbralinos ao Hospital da Cura, protegendo o espírito de Malena e muitos outros. Como a investida foi grande, malfeitores conseguiram levar alguns espíritos em recuperação de volta às sombras. Mas se eles tivessem conseguido pegar Malena, Gastón e outros iluminados em recuperação, certamente o prejuízo seria muito maior....
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12/07/2010 -
Grilagem
Era só o que faltava: grilos falantes e cantantes invadiram minha casa. Na cozinha, na sala, no banheiro, no quarto... No sapato, na geladeira, no guarda-roupa. Há uma epidemia de grilos. Os orientais dizem que eles são sinônimos de boa-sorte. Por alguns minutos tudo é festa, mas confesso que ficar sem dormir por conta deles é, no mínimo, um atestado de azar. Mau-humor, indisposição, náuseas. Que cantoria de uma nota só é essa pelo amor de Deus?
De onde vieram os insetos ortópteros, da subordem ensifera, da damília dos grilídeos? Será que vieram das nuvens ou das ferrugens do chão. Mas aqui só tem plantação de sonhos e mais nada. Não sei se gostam de sonhar, mas agora que eles acharam direitinho a minha estrada só resta pedir ajuda às fadas, aos duendes, aos elfos... É um reco-reco nascendo sem parar desses bichos esverdeados. Minha esposa já arrumou as malas......
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11/07/2010 -
Carta a Vinícius
Caro poetinha,
Sinto em lhe informar, mas se estivesse aqui, com a alma encarcerada num corpo físico, limitado à vida mundana, não escreveria com a facilidade característica. Com todo respeito ao fato de que estaria quase completando cem anos se a morte não ousasse lhe visitar naquele trágico julho de 1980, o obstáculo o qual me refiro não tem relação alguma com a idade.
Sua Excelência, pois foi nomeado ministro de primeria classe, era um descobridor do universo feminino. Um poeta do mistério. Com delicadeza e tato aguçado, explorava o território feminino tanto na superfície estética quanto na profundidade da dialética que há em cada mulher. ...
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10/07/2010 -
Dália de carne
Adélia era uma mulher que cultivava dálias no complexo de jardins que mantinha na frente de sua casa. O único lugar em que me deparei com essas flores graúdas e coloridas foi naquele canteiro que tinha um coqueiro no centro e cacos de azulejo vermelho, azul e amarelo dispostos num mosaico ao longo do passeio. Depois da morte de Adélia nunca mais encontrei as tais dálias. É uma pena eu não ter ficado com sementes ou com algumas batatas daquela planta-mãe. Nem mesmo as pétalas eu me lembrei de guardar dentro de um livro. Assim como Adélia, as dálias desapareceram das minhas vistas. ...
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09/07/2010 -
Não há, ó gente, oh não...
Com a bola no pé, queria ser Pelé ou Mané. Com o lápis na mão, queria ser Drummond. Na beleza que há na fé, queria ser madre Tereza de Calcutá. Na contracena que tal ser Ayrton Senna. No adiantar da prosa, queria ser Guimarães Rosa. Diante da mulher de olhos de cais ai se eu falasse como Vinicius de Moraes. Seja nos palcos de Amsterdã ou de Taiwan, queria ser Paulo Autran. E se a vida me desse o afago de ser por alguns minutos Mário Lago? Agora, se eu pudesse perder a cabeça como Joana D’Arc viveria de canção em canção como Chico Buarque. ...
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08/07/2010 -
Beijo de avelã
Era para ser mais um amor adolescente desses feitos de arroubos e levezas da estação. No entanto, como num texto de Shakespeare, a paixão ganhou contornos de tragédia. E então do romantismo inocente de um beijo no pátio da escola, fez-se o pânico. Para além dos característicos e inofensivos tremores de pernas e arrepios, a jovem britânica começou a ter dificuldades de respirar e ganhar um inchaço crescente no rosto.
Sem entender aquela cena, como se vivesse um script paralelo, o garoto entrou em desespero. Não. Não havia nada de premeditado naquilo. Era tão vítima como ela. Como poderia saber que ao comer uma barra de cereal, o sabor das avelãs impregnaria seus lábios a ponto de envenenar a namorada durante um leve e doce beijo. O escritor do destino teria de ser cruel demais para findar assim uma história de amor. ...
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08/07/2010 -
Capítulo 36
Sebastian está no hospital, debruçado em recordações sobre o corpo de Malena. A saudade de ouvir sua voz, entre abraços e beijos, num buquê de palavras e sentidos o faz reviver cenas e acontecimentos. Embora o cinema de seus pensamentos reprisasse a todo instante as brigas, principalmente a última, responsável por desencadear aquela situação, ele se esvai dos capítulos negativos e se deixa levar pelas páginas que pode viver feliz ao lado daquela mulher.
Ao longo daqueles intensos anos de relacionamento, jamais haviam ficado tanto tempo sem se falar. Aquela separação forçada foi o maior silêncio existente entre os dois. Antes dela, distanciamento parecido só a da solidão angustiante e apaixonante na ocasião do flerte. Um momento de encontros e desencontros, de segredos e descobertas, de certezas e dúvidas. Como que num palco particular, sem platéia e efeitos de luz, diz baixinho o monólogo sobre o início da história de um casal....
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07/07/2010 -
No fundo do seu íntimo
Entre o canhão e a escuridão, no fundo do seu íntimo, existe uma canção de amor. Pode acreditar, esta melodia existe e o verso não é assim tão triste como se acredita. Há sempre tempo e espaço para amar e viver esse amor independentemente de hora e lugar. Um romance de três segundos e um beijo de seis meses podem ter a mesma duração na intensidade poética de se compreender as coisas do coração. Pois então, cante avante o refrão de modo que espante do leito do peito a fria e vazia solidão.
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