Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 235 de 320.

06/07/2010 - Capítulo 35

Em uma planície deserta, doze anjos vestidos com cores frias conversam num clima de animosidade. No centro daquele círculo, Jhaver comanda uma reunião com seus pares. A ordem dos castigadores está inteiramente presente com seus doze representantes. O mesmo número dos apóstolos de Cristo. No entanto, pela primeira vez em muitos anos, o senhor dos castigos vê sua liderança ameaçada.

Assim como outras hierarquias de anjos, os castigadores também ambicionam o posto mais alto da ordem que integram. Mais poder, mais status ou mais proximidade com Deus? Independentemente do discurso e da pretensão de cada um, eles pressionam, insuflam, fazem de um tudo para tentar ocupar a cadeira de Jhaver. ...
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06/07/2010 - País cara de pau

Todos pintam o rosto. Todos falam com gosto. Todos levantam uma bandeira. Todos se esquecem da canseira. Todos viram técnicos. Todos têm palpites proféticos. Todos falam mal da mãe do seu juiz. Todos vivem por um triz. Todos se reúnem com todos. Todos vão do céu ao lodo. Todos têm um feitiço particular. Todos bebem de bar em bar. Todos têm suas crenças. Todos têm suas exigências. Todos se esforçam para cantar o hino nacional. Todos se esquecem do mundo real.

Todos entram no gramado. Todos dizem: isso ta certo, aquilo ta errado. Todos têm um motivo para comemorar. Todos querem apostar. Todos comem pipoca com coca-cola na frente de uma tv japonesa e ainda dizem que são nacionalistas. Todos são anônimos e artistas. Todos têm uma receita infalível. Todos se unem para combater o mesmo pesadelo terrível. Todos têm uma escalação na cabeça. Todos têm no coração o desejo de vença. ...
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05/07/2010 - Virgens de Copacabana

A mulher precisa voltar, precisa voltar às origens para não se olvidar, por uma semana sequer, das virgens de Copacabana. Ondas que nascem no eclipse do oceano e se levantam do ventre do mar como um apocalipse nuclear. Com força e beleza femininas, as ondas correm pelas vistas como meninas descalças avançando, sem perceber, sem querer, em cristas de valsa. O perfume das ondas é brisa que o pássaro leva em suas asas, é a melodia que um piano traz ao rádio da nossa casa, é a poesia que extravasa na maresia. ...
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04/07/2010 - Toada da porteira da estrada

Lá no alto da porteira, num galho da velha cumeeira, mora um pássaro preto que assovia bonito toda vez que vê moça fagueira romper o estradão. Conta uma lenda cabocla que ele era Dito de Benedito, moço bonito e de muitas posses, cobiçado na região. Tava de casamento marcado com uma morena de olhos de brasa quando se apaixonou pela filha de um tropeiro. Numa noite de lua prateada o coração do peão balançou e da aliança de noivado até a casa, que já tava toda montada, tudo se perdeu pela estrada. ...
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03/07/2010 - De grão em grão

É de assovio em assovio que um pássaro faz sua canção. É de tijolo em tijolo que o homem ergue sua construção. É de ponto em ponto que a mulher compõe suas rendas. É de centímetro em centímetro que ela seduz através de suas fendas. É de milho em milho que a galinha enche o papo. É de passo em passo que se molda um sapato. É de gota em gota que se enche um copo. É de zoom em zoom que se acha o foco. É de tronco em tronco que se faz um arvoredo. É de mão em mão que se passa um segredo.

É de beijo em beijo que se escreve uma novela. É de barraco em barraco que se monta uma favela. É de rua em rua que se trança uma cidade. É de ausência em ausência que se faz saudade. É de procura em procura que algo se acha. É de memória em memória que se fecha uma caixa. É de botão em botão que se chega à nudez. É de desespero em desespero que se alcança a insensatez. É de rosa em rosa que a primavera visita um jardim. É de rama em rama que se alastra o amendoim. ...
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02/07/2010 - Redação de um órfão

Minha mãe morreu quando eu tinha quatro meses. Ou melhor, foi morta. Brutalmente morta. Não consigo me lembrar de seu rosto, de sua voz, de seu perfume. É como se eu nunca tivesse tido uma mãe. Arrancaram-me dela quando eu ainda nem sabia quem eu era. Tiraram-me de seus afagos, de seu leite, de suas expectativas. Só a conheci por fotografias. Aliás, há muitas imagens de minha mãe nos arquivos de jornais, revistas, televisão e internet. Minha mãe era modelo, mas, pelo que já li sobre ela, sua morte teve uma repercussão muito maior do que sua carreira. ...
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01/07/2010 - Capítulo 34

Dezessete dias se passaram desde que Malena foi internada e, para a angústia de todos, ela continua em estado de coma. Os médicos não sabem explicar muita coisa, mas dizem que ela pode acordar a qualquer momento. É preciso paciência. No entanto, já há quem fale em eutanásia. Mas o promotor dessa vez não pensa em aliviar o sofrimento da paciente ou dos familiares. Mais do que querer fugir de novas castigações, ele tem plena esperança de que a mulher vai despertar e se livrar de tubos e sondas.
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01/07/2010 - Sem mais rodeios

O peão, com chapéu moldado a cabeça, debruça seu olhar estremecido sobre a arena vazia. A terra remexida ainda geme castigada pelas pisadas dos bois. As musas do rodeio já se foram. As luzes dos refletores baixaram. E o narrador deixou o silêncio pairando no ar. Nossa Senhora apareceu para recolher o que sobrou das preces elevadas a ela. Longe dali, alguns comemoram ou lamentam o resultado num copo de cerveja. Há quem dance, festeje, abrace, beije, mas aquele peão não consegue fazer nada disso tendo os olhos presos à arena. É como se sua história de títulos fosse sepultada naquele chão junto à coragem e à vontade de continuar. ...
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30/06/2010 - Divagações a respeito da mulher amada

O sentimento, em primeiro lugar. Logo em seguida, o conflito entre esperanças e angústias de tempos passados e vindouros. Só depois, a técnica. Eis o script perfeito para a apresentação, ou melhor, a montagem da mulher amada. É de valiosa importância ficar atento à ordem das palavras ditas ou não ditas pela boca, feita de carne e silêncio, da mulher que confessa amar ao mesmo tempo em que se permite ser amada. Essa ordem lhe levará à infância, às paixões juvenis e aos sonhos futuros da mulher amada, que é tão precisa quão dedicada ao seu construtivismo amoroso. ...
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29/06/2010 - Capítulo 33

Ao descer ao túmulo, o caixão contendo o corpo de Gastón é envolto pela ternura de Celeste, que quebra o silêncio de lágrimas e cabeças baixas:

- Meu pai, eu sei que por causa de seu grau evolutivo e do seu merecimento, foi socorrido de imediato por nossos irmãos, no momento da passagem, sendo levado ao plano espiritual adequado ao trabalho que desenvolveu aqui entre nós. Eu tenho certeza de que o senhor, agora, está sob os cuidados de espíritos de luz que lhe receberam em sua viagem de volta. Mesmo sabendo que o que enterramos agora é só o seu corpo, carne e matéria, e que seu espírito retornou a nossa casa, que a nossa oração e o nosso sentimento sincero possam lhe auxiliar em sua readaptação. ...
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