Daniel Campos

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09/07/2010 - Não há, ó gente, oh não...

Com a bola no pé, queria ser Pelé ou Mané. Com o lápis na mão, queria ser Drummond. Na beleza que há na fé, queria ser madre Tereza de Calcutá. Na contracena que tal ser Ayrton Senna. No adiantar da prosa, queria ser Guimarães Rosa. Diante da mulher de olhos de cais ai se eu falasse como Vinicius de Moraes. Seja nos palcos de Amsterdã ou de Taiwan, queria ser Paulo Autran. E se a vida me desse o afago de ser por alguns minutos Mário Lago? Agora, se eu pudesse perder a cabeça como Joana D’Arc viveria de canção em canção como Chico Buarque.

Se eu fosse uma dor doendo muitos amores seria Dolores, Dolores Duran. Num afã, queria conversar com a rosa tendo ouvidos de Cartola e sentidos de Rui Barbosa. Para além do limite, queria encestar o mundo num lance de Oscar Schmidt. Se eu pudesse ser somente uma voz pediria ao céu francês para ser Jacques Brel outra vez. Agora, se fosse para viver sorrindo de dramaturgia em poesia nada melhor do que reviver Paulo Gracindo. Se eu conseguisse ser um disco de vinil, a minha escolha seria lado a lado Caetano e Gil.

Se eu fosse um passarim queria ser da família Jobim. Se eu fosse solidão queria me alimentar no violão de Nelson Cavaquinho. Se eu tivesse uma viola queria ser Paulinho rodando na vitrola. Se eu fosse silêncio no deserto seria João Gilberto. Se eu fosse mulher não sei se seria Maria Madalena ou Nazarena. Agora, se eu fosse tarde, seria uma sobretarde deveras amena, daquelas que caem aos poucos na imensidão de Ipanema. E então se eu fosse me acabar no luar do sertão seria Catulo da Paixão Cearense. Não há, ó gente, oh não...


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