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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 232 de 320.
29/07/2010 -
Capítulo 42
Sebastian se deitou e tempos depois sua consciência desperta ao lado de uma mulher, que mexe em suas energias. Trata-se de Ágata, um espírito bastante elevado. Pura, é uma das virgens que rodeiam a Mãe Santíssima. Está ali para ajudar.
O ambiente ao seu redor é formado por uma espécie de deserto, mergulhado em trevas e sons angustiantes.
- Preste atenção, nós estamos no Umbral, avisou Klaus.
Ao lado de Ágata, um grupo de samaritanos, que também são chamados de missionários, socorristas e emissários. Espíritos acostumados a sair em caravanas pelo Umbral e pela crosta terrestre a procura de quem pede auxílio. ...
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29/07/2010 -
Nada além de estrada
Eu não sou nada, nunca fui nada e jamais serei nada. Sou apenas estrada. Todos me pisam e passam por mim. Usam-me para ir daqui pra lá, de lá pra cá, de cá para acolá. Eu não tenho começo nem fim. Sou sempre um meio de seguir em frente ou voltar à trás. Sou apenas um dos tantos pedaços de mim. Nada mais.
Ora sou de piche, ora de pedra, ora de terra batida. Sou chegada e partida. Sou aclive e declive. Sou de tantas viagens, paisagens, miragens. O sol nasce e morre em meus flancos. Pessoas amam e são amadas, matam e morrem, levantam e caem ao longo da minha rota. Muitos sentem prazer quando me vêem, outros enlouquecem....
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Comentários (1)
28/07/2010 -
De detalhe em detalhe, a mulher amada
A mulher amada é repleta de detalhes. Ouso dizer que é feita de detalhe em detalhe. É o conjunto de detalhes que se dispõe ao longo das curvas femininas que suaviza sua alma, que é concreta e rígida. Seja em suas flores delgadas ou em seus rococós, a mulher amada é minuciosa e densa como toda obra à procura da perfeição. Desbancando todos os argumentos, a mulher amada é de uma beleza irreal, daquelas que só se encontram nos planos mais elevados da imaginação.
E quem está de fora, observa cada detalhe da mulher amada como objeto de contemplação ou na tentativa de descobrir o fio da meada que revele o segredo que se esconde entre o corpo, a mente e a alma desta criatura. Seus olhos são vitrais, seus lábios molhados e secos no glamour dos afrescos. Cada detalhe é uma pista ou uma forma da mulher despistar aqueles que querem desvendá-la. Por isso, a mulher se escantilha em belas artes e se divide em muitas partes, num amor aos pedaços. ...
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27/07/2010 -
Capítulo 41
No visor do celular de Sebastian reluz o número do telefone da menina que o promotor quase matou em um acidente de trânsito meses atrás.
- Oi Susana. Que surpresa. Como está?
- Sebastian, não é a Susana quem fala.
- Vocês de novo. Não estão satisfeitos com tudo o que já me fizeram de ruim. O que mais querem de mim? Seus umbralinos do inferno...
- Calma.
- Como pode ter o cinismo de pedir para que eu me acalme? Aliás, como tem a coragem de se apoderar do corpo de uma garotinha como Susana? Deixe-a em paz! ...
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27/07/2010 -
Mike
Mike, velho companheiro, eu sinto muito. Soube que você anda amuado, vivendo calado debaixo daquela mesa de madeira que não recebe mais um certo chapéu de palha. Você é o último dos muitos pastores alemães puros e mestiços que habitaram o sítio Boa Vista nos últimos cem anos. O último. Infelizmente, chegamos ao fim de um ciclo. Sua pelagem caramelo, numa mistura de preto com dourado, já ganhou inúmeros fios brancos. Principalmente perto dos olhos que me avistavam de longe, respondendo com uivos e latidos a minha presença. ...
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26/07/2010 -
Laços e fitas
Um sabiá me contou que um pintassilgo cochichou que escutou um inhambu dizer que hoje raiou, entre laços e fitas, o dia do seu aniversário. Os anjos acordaram cedo para fazer um céu turquesa com sol de batom e nuvens de crepom. A quitandeira lá de Minas vem num trem trazendo um tabuleiro cheio daqueles doces que você tanto gosta. O velho ourives espera seus dedos com uma pedra de rubi cor de pitanga. As crianças já estão correndo pela casa, querendo lhe entregar cartões e corações. Sua mãe, com sacolas de bordados, e seu pai, com um tempo guardado, estão na sala de estar. Feches os olhos e ouça o florista buzinando lá no portão. ...
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25/07/2010 -
Eles vivem
Ele vive toda vez que toca uma moda de viola no rádio, toda vez que eu pego um táxi, toda vez que eu como macarrão gelado. Ele vive toda vez que eu vejo uma roda de amigos, um velhinho e uma pracinha, uma batida de catira e alguém dando balas para criança. Ele vive toda vez que eu preciso caçar um lagarto para trazer à mesa num almoço de domingo. Ele vive toda vez que eu fico frente a frente com um jogo de bocha. Ele vive toda vez que eu escuto o som dos relógios de bolso, que eu recolho um parafuso na rua, que eu vejo Inezita Barroso na televisão. Ele vive toda vez que eu encontro uma história de pescador, que eu busco nas memórias um elogio capaz de me motivar. Ele vive toda vez que eu como doce de leite de colher, que tem arroz com frango frito em meu prato e que vejo um chinelo de dedo azul e branco caminhando por aí. Ele vive toda vez que eu olho no fundo do espelho e digo: olha eu aqui. ...
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24/07/2010 -
Maria menina Auxiliadora
Era uma menina, de treze anos, correndo pela paisagem árida à procura de seu destino. O vento empoeirado soprava ao longo de seus cabelos longos. Sua timidez pouco a pouco ia se anulando em seus olhos fortes. Seu nascimento foi uma espécie de milagre. Sempre teve um ar de santa. Tinha uma beleza diferente, feita de uma espécie de luz que nem o sol nem as estrelas eram capazes de gerar. Brincou muito pouco. Ainda na infância teve que deixar as bonecas de lado. Afinal, desde muito nova já tinha alma de mulher....
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23/07/2010 -
Queimada
Do fogaréu, sobraram as cinzas. Algumas fuligens, flutuando ao vento, ainda tentam borrar o azul do céu. A paisagem é desoladora. Sem pedir licença, as línguas de fogo varreram toda a beleza do lugar para um mundo distante e ainda desconhecido. O colorido das flores e o verde dos campos ganharam um único tom: o tom do carvão. O cheiro do mato também se transformou no perfume do carvão. Tudo se perdeu na fumaça. Tudo morreu na carcaça. Tudo se esqueceu na queimada que matou a última fada.
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22/07/2010 -
Capítulo 40
Passam-se os dias e Malena continua o tratamento à base de sono. Os médicos foram induzidos por espíritos de luz a seguirem este caminho. Desta forma, além do corpo não sofrer as intempéries ligadas à emoção, o espírito pode ser entregue ao tratamento de instrutores espirituais que vão prepará-la para enfrentar a realidade.
O modo abrupto com que acordou fez com que a mãe de Tomás não se lembrasse de nada. Além do mais, abriu os olhos e foi logo percebendo a falta do filho que trazia em seu corpo. E ainda vieram as lembranças ruins envolvendo Sebastian, o desgaste de ter se tornado parte da castigação, as intrigas plantadas pelos umbralinos......
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