Daniel Campos

Prosas

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14/08/2010 - Bordaduras no jardim

Bordaduras no jardim. Eis o que vejo quando me debruço no parapeito da janela da sua casa. Sua casa me lembra a casa da infância que não tive. Ali, vejo as flores se compondo num arranjo de pétalas e folhas como num tear daqueles que fiavam nossas ilusões. Tempos idos. Desejos esquecidos. As flores e os botões se intercalando como pontos de crochê, de tricô, de cruz. O perfume e a luz existentes ali são capazes de fazer a menina rica se apaixonar pelo jardineiro.

Pouco a pouco, meus olhares ganham a textura daqueles bordados. E eu vou ponteando pelos arbustos e folhagens de cetim em vários matizes. São cordões, caesados, pespontos, ilhoses em roseirais de tafetá. E todas as bordaduras bordadas a mão em pontos e laçadas de algodão. Entre as pedras do jardim, bordados em pedrarias de lírios. São gérberas e orquídeas e tulipas fazendo-me perder o fio da meada a ponto de me esquecer da estrada que me leva de volta. ...
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13/08/2010 - Capítulo 46

Jhaver está em fase de depuração dos fluidos mais densos que adquiriu em sua jornada como Castigador e em sua estada no Umbral.

Ainda está bastante fraco e passa a maior parte do tempo dormindo. Nas vezes em que acorda, o faz de forma bastante assustada e sempre perguntado por Sebastian. Insiste que precisa falar com o promotor. Essa agitação toda prejudica seu tratamento.

A equipe de auxílio sempre o aconselha a se desligar das suas vidas e tarefas passadas. Tentando tranqüilizá-lo, informam que Sebastian está bem. No entanto, o anjo negro sabe que isso não é verdade....
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13/08/2010 - Mangueiras em flor

Pelas ruas e quintais, as mangueiras estão todas vestidas de noiva. Desde as mais novas às centenárias, desde as grandes e frondosas às mirradas, todas querem se casar. A folhagem verde fica em segundo plano. Em cada galha, buquês e mais buquês de flores pequeninas num amarelo que tende ao branco. São mangas esperando que o vento, as abelhas ou marimbondos fecundem suas flores. E pelo ar se espalha um clima de flores de manga maduras.

E eu sou aquele menino que flerta com aquelas noivas à espera do fruto. Um fruto de lambuzar a boca. Um fruto que atenta. Um fruto que seduz. Um fruto que provoca. O perfume das mangas. A forma das mangas. O suco das mangas. A maciez das mangas. O sabor e os sabores das mangas. O doce e o sal, o glamour e a simplicidade, o calor e o arrepio na mesma fruta. A fruta que é o parto daquelas noivas floridas. ...
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12/08/2010 - Procuração

Eu não sei o que acontece atrás daquelas janelas. O prédio é tão grande e o amor lá se esconde. Onde, onde, onde está você? Eu não lhe vejo. Aqui, de fora, tudo é tão igual. O mesmo desenho, a mesma cor, a mesma decoração. Onde está você? Dê um sinal. São tantos andares e você pode estar em tantos lugares. Meus olhares se perdem, se perdem e pedem: Dê um sinal. Como posso lhe encontrar se você é só mais uma pincelada nessa aquarela de Monet. Por quê?

São cortinas e persianas ocultando seu sorriso, deixando tudo tão impreciso entre nós. O concreto, a altura e o vidro abafam sua voz me chamando. Se é que me chama não consigo ouvir seus sussurros e canções. Como achar um só coração perdido no meio de centenas de apartamentos que estão trancados em pensamentos e sentimentos particulares. Não há sinal de um gato, de um vaso de flor, de uma toalha molhada pingando os pingos do seu corpo suado de calor e prazer... ...
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11/08/2010 - Um manicômio, por favor

Procuro um manicômio, um hospício, um sanatório, enfim, um lugar onde eu possa expressar livremente as minhas loucuras. As camisas de força que nos amarram do lado de cá são bem mais agressivas do que aquelas a que estão submetidos, do lado de lá, os loucos, os doidos, os malucos. A realidade nos reprime e, nos comprime e nos oprime. Ela quer nos adequar a padrões. Ela quer nos robotizar. Ela quer nos controlar a qualquer custo.

Dia desses me falaram que eu não posso ter asas? Onde já se viu eu, pássaro dos meus sonhos, não poder voar. Toda vez que minhas asas começam a nascer e eles a arrancam. A dor de tirar parte do meu corpo não é maior do que a dor de me prenderem ao chão. Outro absurdo: dizem que o que eu vejo não é o que realmente eu vejo. Dizem que meu mundo não existe. A única coisa que é permitida enxergar é o concreto, o concreto, o concreto. ...
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10/08/2010 - Capítulo 45

Sebastian acorda, horas depois, ainda com o corpo cansado e coberto por marcas.

Não se lembra de nada. Apenas desperta com uma sensação boa, de tranqüilidade e alívio.

Não desconfia, mas também recebeu tratamento espiritual durante as horas que acabou de passar mergulhado no sono.

Busca o celular. Confere hora e data. Está com a sensação de que passou anos dormindo, no entanto, a passagem do tempo na crosta terrestre é diferente do tempo nos planos superiores. ...
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10/08/2010 - Carmelita dos pés descalços

Lá vai a carmelita dos pés descalços trilhando caminhos que só a fé é capaz de explicar. Lá vai ela com os pés ganhando espinhos e pedras, feridas e marcas daquele caminhar. Lá vai ela sem parar, caminhando nas contas de seu rosário. Os pés são só um detalhe. Na verdade, ela caminha de oração em oração. Acredita que os santos aliviam sua caminhada. E que Deus a espera ao final da estrada. Não tem contato com a realidade além dos muros. Ali, só canto e oração. Caminha, com os pés descalços, cobertos pelo negro do hábito que envolve seu corpo. ...
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09/08/2010 - Morar em Monte Carlo

Quando acordo e olho pela varanda as ruas de Monte Carlo parecem tão estreitas a ponto de fazer meus olhos correrem para a Baia de Mônaco. E eu fico ali, ancorado em um daqueles iates boa parte da manhã. Não tenho vontade de ir ou vir, apenas de ficar mais um pouco assim distante de mim. Distante do glamour, do luxo, das celebridades que exibem roupas, jóias e corpos a cada esquina. E gosto de passar devagar por cada reta, por cada curva. Afinal, Mônaco vai muito além da Fórmula-1. É tudo e ao mesmo tempo lugar algum. ...
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08/08/2010 - A estrada e os pais

O meu pai dista do meu Dia dos Pais quilômetros, tempos a fio. Há um asfalto, interminável e negro, repleto de curvas e declives, separando-nos de um abraço. Os aviões que cruzam o céu agostino, tão azul quão seco, não me levam, tampouco o trazem para perto. Há uma série de acontecimentos, momentos e pensamentos passados envolvendo eu e meu pai se misturando em mim. Coisas ditas e não ditas se alvoroçando em mim. E a voz cavalga, já nem tão firme assim, pelas espirais do telefone.

Não há presentes, almoços ou outras tradições familiares entre eu e meu pai no dia de hoje. Apenas um cumprimento e uma saudação através de uma ligação telefônica. Hoje ele não vai me ensinar nada, não vai me levar a lugar algum, não vai me oferecer algo para comer ou beber. O tempo nos separa e hoje tudo é engolido a seco. Seco como o vento agostino que me traz lembranças, agradáveis ou não. Mas se eu o conheço, ao menos um pouco, sei que agora ele está ouvindo esta música, lendo o trecho deste livro, enquanto esconde os olhos embaçados atrás das lentes dos óculos....
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07/08/2010 - Caro Adoniran,

Caro Adoniran,

Por causa do Trem das Onze você não pode ficar um pouco mais com a gente. E eu sinto até hoje por isso, pois muito tempo se vai desde o último Samba no Bexiga; Muito tempo se vai sem você. Você que me fez companhia na casa do Arnesto outro dia e que chorou comigo a poesia da Saudosa Maloca. Quantas as histórias vividas No Morro da Casa Verde, No Morro do Piolho, na Vila Esperança. Você se foi e se tornou uma espécie de cupido que fez do meu peito Tiro ao Álvaro. Ah! Como num Samba Italiano vivo apaixonado. ...
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