09/08/2010 - Morar em Monte Carlo
Quando acordo e olho pela varanda as ruas de Monte Carlo parecem tão estreitas a ponto de fazer meus olhos correrem para a Baia de Mônaco. E eu fico ali, ancorado em um daqueles iates boa parte da manhã. Não tenho vontade de ir ou vir, apenas de ficar mais um pouco assim distante de mim. Distante do glamour, do luxo, das celebridades que exibem roupas, jóias e corpos a cada esquina. E gosto de passar devagar por cada reta, por cada curva. Afinal, Mônaco vai muito além da Fórmula-1. É tudo e ao mesmo tempo lugar algum.
Desde que decidi morar no principado fujo das corridas de automóveis, das competições de boxe e tênis, das apresentações de moda, dos eventos culturais. Tornei-me uma espécie de ermitão monegasco, que vive, e vive por viver, a simplicidade das coisas. As roletas do cassino, a igreja de São Nicolas, a especulação imobiliária, o sul da França, a família Grimaldi, o Jardim Exotic, a troca de guarda do Palais do Prince, o frenesi das discotecas... Nada me apetece mais. Quero ficar internado em meu quarto, com os olhos lançados ao Mar Mediterrâneo.
Deixei de freqüentar o Circo de Monte Carlo, a Temporada de Ópera, as Veladas Folclóricas de São João, os Concertos do Palácio do Príncipe. Também me afastei dos cafés nos terraços e do movimento dos turistas que povoam as ruas apertadas de flashes fotográficos e uma mistura de línguas. Nem mesmo a Palladiene de Mônaco cantando e dançando com vestes de época atraem mais meus olhares que há muito estão perdidos entre iates e barcos intercontinentais.
Fico a espera de um resgate, de uma visita. No entanto, sei que não vou mais sair daqui, tampouco velejar em seus olhos marejados outra vez.
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