10/08/2010 - Capítulo 45
Sujeito a tempestadesSebastian acorda, horas depois, ainda com o corpo cansado e coberto por marcas.
Não se lembra de nada. Apenas desperta com uma sensação boa, de tranqüilidade e alívio.
Não desconfia, mas também recebeu tratamento espiritual durante as horas que acabou de passar mergulhado no sono.
Busca o celular. Confere hora e data. Está com a sensação de que passou anos dormindo, no entanto, a passagem do tempo na crosta terrestre é diferente do tempo nos planos superiores.
Será que foi mesmo ao território das sombras? E se foi mesmo, o que ocorreu? Estava tudo previsto para ter acontecido, mas faltam-lhe recordações. Ao menos, ele está ali, consciente, o que indica que seu perispírito, caso tenha ido mesmo ao Umbral, conseguiu voltar.
Agora, se cumpriu ou não com sucesso sua tarefa ainda é uma dúvida.
Pega o telefone, liga para o hospital. A recepcionista informa que Malena continua internada. A previsão é de que receba alta ainda esta semana. Os médicos já começaram a diminuir, de forma gradativa, a medicação.
Prepara-se para ir até lá. Quer estar perto da mulher. Quem sabe ela está mais calma e, até mesmo, com saudade. Toma um banho demorado, troca de roupa, bebe um copo de leite e o celular toca. É Tomas.
Aflito, o menino diz que sua irmã saiu há dois dias e ainda não voltou. Teme pela vida da menina.
Alicia não tomou providência alguma e sua avó está acampada no hospital, ao lado de Malena. Seu pai segue sem dar notícias. Tita havia encontrado algumas garrafas de bebida e pacotes de cigarro no quarto de Micaela. De forma perversa, disse para o menino se acalmar, pois a irmã deve estar bêbada ou drogada em um canto qualquer.
Tomas ligou para a polícia, mas pensaram ser trote em razão de sua voz de criança. Chorava dizendo que espíritos haviam lhe dito que sua irmã está morta. E disseram-lhe que a culpa é do padrasto que foi se meter onde não devia. E pior, fizeram questão de frisar que os castigos só começaram.
Sebastian pede calma, assegura que Micaela está bem. Que ele não vai permitir que nada de mal aconteça para eles. Que pode confiar nele. Que está indo ao seu encontro.
Antes de sair, olha para imagem de Nossa Senhora e pergunta:
- Será que isso não vai ter mais fim?
Ao chegar à casa de Malena encontra o menino desesperado já no portão. Tita, ao vê-lo, ameaça chamar a polícia dizendo que ele não pode entrar ali. Faz questão de lembrá-lo que sua patroa o expulsou daquela residência e que Alicia é a atual responsável pelos meninos. Para entrar ali ou falar com alguém precisa da autorização da cunhada.
Sebastian avisa que é muito bom que chame a polícia mesmo, pois está mais do que na hora de descobrirem sua ligação com Hernandez, um assassino foragido.
Ela se cala, no entanto, telefona para Alicia.
O sobrinho desce as escadas e ao se deparar com Sebastian, começa a atirar coisas contra ele. Quebra os vasos de Malena em meio a um escândalo. O próprio Tomas, diante daquela cena, repreende o primo dando-lhe alguns safanões. O menino abre um berreiro e corre alardeando que vai contar tudo para sua mãe.
Ao entrar no quarto de Micaela acompanhado do enteado, Sebastian abre armários, gavetas, procura alguma pista. As roupas dela estão ali. Não levou malas ou mochilas. Também não deve ter viajado. Seus documentos pessoais estão na caixa de costume.
O que acha são algumas folhas de papel com frases melancólicas, como se ela estivesse se despedindo da vida. No entanto, não há data. Morte, tristeza e saudade são algumas das palavras que mais se repetem naqueles escritos.
Liga o computador da menina. Pode ter alguma informação nova ali. No entanto, está protegido por senha. Sebastian tenta algumas combinações, mas não consegue acessar. Tomás também desconhece o segredo. Disse que até dias atrás a máquina estava desbloqueada.
Pergunta para o garoto como a irmã se comportou antes de sumir. Ele disse que ela vivia trancada no quarto. Não descia nem mesmo para fazer as refeições. E que não disse nada para ele antes de sair. Aliás, saiu no meio da noite, sem que ninguém percebesse.
O promotor encontra o celular de Micaela caído debaixo da cama. Está quase sem bateria, mas isso não impede que ele descubra que as últimas ligações foram feitas para o mesmo número.
Ele liga e o telefone chama, chama, chama... A bateria acaba de uma vez. Pega o carregador, coloca-o junto ao aparelho no bolso do paletó e sai pedindo confiança ao enteado.
Pede para que Tita lhe mostre as garrafas e os maços de cigarro. Ela diz que jogou todo aquele lixo fora. Ele avisa que vai contar à polícia que ela mexeu no quarto da menina, ocultando as possíveis provas de um crime.
A empregada o ignora. No entanto, treme.
Sebastian vai à polícia. Registra ocorrência. Os polícias fazem algumas perguntas e dizem que darão início às buscas imediatamente.
O promotor para em um café. Enquanto toma um chá gelado e rabisca algumas coisas num guardanapo de papel, o celular ganha um pouco de carga. Assim que consegue ligar o aparelho novamente, insiste naquele número. Três tentativas depois, uma voz atende da seguinte forma:
- Merda. Já disse para me deixar em paz, Micaela. Não quero que me ligue mais. Não vou assumir esse filho que nem sei se é meu. Aborte, se mate, desapareça, só não me ligue mais...
Sobe à garganta uma vontade de responder, de ofender, de dizer tantas coisas, no entanto, desliga de modo que o rapaz não desconfie de nada.
Ao menos, a certeza de que ele não está com a menina.
Parte para a igreja de São Miguel e, por alguns minutos, permanece sozinho em oração. Padre Mariano o espia de longe. Olha para a imagem do arcanjo e não consegue ter a mesma fé de tempos atrás. Parece que algo se quebrou. Sem saber o que aconteceu, reza por Jhaver.
Em seguida, pergunta se o sacerdote não viu Micaela por ali. Se ela não o procurou para conversar.
O padre dá as costas sem dizer nada.
Sebastian tem vontade de bater naquele homem que se diz representante de Deus, no entanto, deixa aquele lugar sem fazer ou falar nada.
Entra no carro e vai até o colégio das Escravas do Coração de Jesus. Procura irmã Ruth, mas não permitem que ele passe do portão. As madres dizem que ele não é bem-vindo ali e o segurança da escola o obriga a deixar o local. No pátio, as alunas cochicham, riem dele. O promotor virou motivo de piada.
Segue para o hospital. Valentina o destrata, diz que ele foi longe demais, que não devia confiar tanto assim em Jhaver. Que ao soltá-lo do Umbral despertou a ira de muitos espíritos ruins e que agora deve se preparar para sofrer as conseqüências. E lhe dá um conselho no intuito de que quanto mais longe estiver de sua família melhor para todos, afinal, ninguém tem culpa de sua insensatez.
Ele pede que ela o deixe conversar com Klaus ou com algum outro espírito que possa lhe informar o paradeiro de Micaela. Valentina se nega. Diz que o melhor a fazer é ele se afastar, mudar de cidade, de país. Se ele gosta mesmo de Malena precisa se distanciar para poupá-la da ira daqueles que queriam manter Jhaver preso no Umbral. E avisa que não está falando somente dos umbralinos.
O promotor insiste dizendo que a enteada está correndo perigo. Ela diz que todos estão correndo risco perto dele. Diz que a neta avisou que iria passar uns dias em Córdoba, na casa de uma amiga. Que um investigador já havia lhe procurado e que ela desmentiu tudo, dizendo que não há motivo para se preocupar. Tratava-se apenas da denúncia de um homem desesperado e bastante perigoso. Afinal, não se sabe o que ele poderia querer com a filha da sua ex-esposa.
Ele pega Valentina pelos braços e pergunta, com os dentes cerrados, o que ela pretende com essa história toda. Ela responde que só deseja salvar sua família. E que ele traiu sua confiança. Avisa que fará de um tudo para deixá-lo longe de Malena e dos outros de sua casa.
O que houve com ela? Não parece a mesma pessoa pacata que conviveu com ele nos últimos anos. Valentina está diferente, mudada de um jeito que assusta o genro.
Ele pede o nome da amiga de Micaela, o endereço, o telefone... Ela se nega.
Irritado, diz que vai ver Malena. Ela o impede. Ele a atropela e entra no quarto.
No entanto, ao abrir a porta encontra Alicia, usando jóias e roupas da irmã. Está ali porque pretende transferir Malena para uma clinica com maior segurança. Foi informada que ele esteve em sua casa e acuou a empregada e bateu em seu filho. Além do mais, quer prolongar aquele tratamento de sonoterapia.
Ele nem se importa em desmentir suas acusações e diz que não vai permitir que transfiram sua mulher dali. Ela frisa que se trata de sua ex-mulher. E mais, afirma que como não há casamento algum entre eles não existe essa questão de esposa.
Em seguida o acusa. Diz que se aproveitou do fato de Malena estar internada para traí-la. Afinal, como explicar aquelas marcas de unhas em seu pescoço.
Valentina entra com os seguranças. E alerta que a direção do hospital está avisada a não permitir mais a entrada daquele homem.
Ele ainda tenta se aproximar para beijar a face de Malena, mas recebe uma pancada na nuca.
A dor é tamanha a ponto de lhe fazer dobrar os joelhos.
Mais uma vez, Sebastian sente-se sozinho e desacreditado.
Volta ao carro e percorre alguns lugares em que Micaela gostava de visitar. Vai à casa de algumas amigas da menina. Tenta conversar com aquele homem que tudo indica ser o pai do filho da enteada.
Mas não tem sucesso.
Vai até o Centro Espírita à procura de ajuda, contudo dizem que Valentina também proibiu sua entrada naquele local.
Volta para o apartamento. Deita e tenta se concentrar. Tenta ir para algum lugar. Tenta encontrar alguma resposta.
Mas nada.
Ele liga para Susana. A mãe da menina atende ao telefone e dispara acusações contra o promotor. Ordena que ele não procure mais pela menina. Quando ele diz que Susana é médium e precisa da ajuda dela, ela se desespera e diz que vai dar queixa dele, pois está assediando sua filha, fazendo-a acreditar no que não existe. Dito isso, desliga a ligação com brutalidade.
Irritado, anda de um lado para outro. Bebe um copo de uísque.
O celular vibra. É Tomás. Diz que está de castigo no quarto escuro. Que Alicia bateu nele. Que não quer mais morar ali. E que está com muito medo, pois o quarto está cheio de espíritos dizendo que ele será o próximo a sofrer retaliações pelo resgate de Jhaver.
Sebastian sente uma sensação de impotência e pede para que o menino reze. E ele pergunta:
- Será que Deus existe mesmo?
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