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Encontrados 301 textos. Exibindo página 25 de 31.
Soneto do juramento
Só, morro sem ostentar o teu encanto
Adoeço ausente a tua doce presença
O silêncio é o meu único e último canto
E a saudade uma falsa e urgente crença.
Da minha dor sou palco e personagem
Da ilusão das bocas nuas sou naufrago
Ao estibordo alivio ainda o dissabor
Que avança em olhar triste, negro e vago.
A alma grita doando-se para a morte
Estrelas deságuam na escuridão
Pobres palavras minhas, não são fortes.
...
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Soneto do leito
Quero um soneto que caiba no leito
Da mulher amada. Ah! Que seus sonhos
Rimem ricos com loucos devaneios
Que seus sonhos todos tenham proveito
Nas estrofes que cruzam em suas pernas
Que suas costas sejam versos dispersos
Que para o bem haja um que de perverso
E perversidão e pervirtude terna
Nisso tudo. Que os olhos calem fundo
E escorram quentes em letras vulcânicas
Pela erupção da poesia deste mundo
Da mulher amada. Que cante em coro...
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Soneto do passario
Acauã anacã manhã maracuã
Voa dançador, voa e dança do-ré-mi
Voa gurundi pra galha da avelã
Trem bem-te-vi nos chama ali piuí
Diz tagarela pinta pintaroxo
Trinca ferro trinta reis triste pia
Noite noitibó, cantoria no coxo
Curió, perto do pé da cotovia.
Bica bico de lança, canta cuco
Esgarça garça, ralha dona gralha
Sobe papa-açúcar, pula macuco
Zomba zombeteiro, voa seu chopim
Chora-chuva, foge rabo de palha...
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Soneto do pássaro de orfeu
Tudo nessa vida é só e só ilusão
Ilusão de quem tece o amanhecer
Que amanhece no dó de uma canção
Que assovia bocas de amor e sofrer
A vida é o violão que num longo braço
De aço casa em casa se põe a chorar
Porque mestre orfeu, deus ritmo compasso,
Perdeu eurídice ao samba de além-mar.
Quem canta chora o choro de um ateu
Quem chora canta o canto de rapina
Porque a música é o pássaro de orfeu
Doravante a vida é nota partida...
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Soneto do pastoreio
Falei. Foi de amor eu sei que pequei
Quanto pecado em nossa última vez
Esperei. Você se escondeu e eu me dei
Num tempo vil que depois nos desfez
Você para lá. Eu para cá. Sozinhos
E agora eu parto à procura de um parto
Buscando o segredo do pergaminho
Feito na língua do pecado. Mato
Em nome de uma tentação traidora
Que se converteu toda sedutora
Aos ouvidos de um padre inquisidor
Não sei se é exorcismo ou fio do destino...
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Soneto do perigo
Mesmo com toda a dor, todo perigo
Mesmo com toda palavra não dita
Mesmo que a solidão esteja contigo
Por maior a descrença, faz-se bonita
Mesmo que o sonho caminhe ferido
Mesmo que o medo nasça com a lua
Mesmo que o amor se dê por vencido
Por maior as barreiras, é linda nua
Se lhe faltarem asas, desce ao chão
Se lhe faltarem céus, decresce ao fundo
Do nosso mundo e encontra uma razão
Para seguir em frente face aos ventos...
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Soneto do relógio
Os ponteiros tropeçam, quase param
O sol não cede seu lugar à lua
Os bois do relógio a saudade aram
E até minha alma tarda a ficar nua
O pêndulo fraqueja em balançar
O céu cronometra o vôo das estrelas
O cão de lá rosna ansioso de uivar
E o moço chora às moças por não tê-las
As batidas do relógio não soam
O sol tenta por fogo na cidade
A tarde corre e as cigarras caçoam
E vem o silêncio e o não movimento...
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Soneto do submundo
O amor é sombra negra, o vão e o alçapão
De um tempo triste que de amor insiste
O amor é um deus ateu é o céu que não existe
É fingidor e ainda o amor é ladrão
Ladrão do despudor que dá na gente
Ah pega! Pega o ladrão que nos furta
Os sonhos de creme e geme na curta
Duração do teu suspiro poente
O amor é o melhor disfarce da morte
Morre-se por amor todos os dias
Morre-se no azar e na própria sorte
Morre-se na poeira que nos sufoca...
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Soneto do tesouro pirata
Quando eu, meu amor, descer pelas escadas
Do medo, suba à cauda de um pecado
E entre os tantos desencontros da estrada
Vamos ver quem chega primeiro ao lado
Da felicidade que foi escondida
Dentro de um baú de tesouro pirata
Lá na ilha escondida caída perdida
Onde nenhum sonho altaneiro atraca
Quem achar primeiro essa divindade
Que reparta e doe ao outro o suficiente
Pra derrubar o reino da saudade
Que navega feito a grã-capitã...
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Soneto do trem
Tem dias em que se acorda e corre aos trilhos
Dormentes e correntes da estação
Que dá lá no fundo do sol de milho
Que atiça e iça a nossa imaginação.
Corre sem despedidas nem bagagem
Corre paralelo ao trilho que escorre
Que vai e vem e vai cortando paisagem
Em destinos tortos, mortos de porre.
De repente o azul, de repente o apito
E vem o trem do sul e seus vagões
Gemendo aflito nosso amor em grito
Corre uma gente que sobe e que desce...
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