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Encontrados 301 textos. Exibindo página 24 de 31.
Soneto do bicho
Sonhar com amor dá dor na cabeça
Sonhar com mel dá urso e muito sono
Sonhar com ontem, por favor esqueça.
Sonhar com saudade dá amor sem dono
Sonhar com pássaro dá céu e loucura
Sonhar com trilha dá pé e caminhada
Sonhar com altura dá mais tontura
Sonhar com anjo da mulher alada
Sonhar com romance dá solidão
Sonhar com veneno ainda dá paixão
Sonhar com fogueira dá calafrio
Sonhar com boto dá traição no rio...
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Soneto do corpo da mulher amada
Que o corpo da minha mulher amada
Seja uma taça quente e cristalina
Capaz de nos levar de volta à estrada
Secreta dos sonhos de uma menina
Que essa taça se levante e derrame
Por bocas alheias, o mel e o morango
Que seus poros úmidos clamem: ame
E que seu sexo me voltei em um tango
Que poetas, sonhadores, réus e loucos
Venham bebê-la em sinal de amor pleno
E que o maior dos tragos, seja-me pouco
E que o fel de seu ventre cheire à sorte...
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Soneto do decoro
Ignora todo e qualquer protocolo
Quebra em dez mil pedaços o decoro
Esqueça a tentativa do teu choro
E caia no regimento do meu colo
Deixa pra trás regras e convenções
Não dê ouvidos ao que vão maldizer
Aborta a dor e se entregue ao prazer
De corromper falsas constelações
Assuma o amor como questão de ordem
E uma questão que deve ser honrada
Ao longo das trilhas da nossa estrada
Avante, enfrenta as pedras que nos mordem...
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Soneto do distante
Se amanhã tiver os mesmos olhares
Nada direi, já conheço os dizeres
O sabor esquivo dos seus prazeres
E todo o rosário dos meus pesares
Mas se vier com o silêncio restante
O que ainda pulsa num canto do quarto
Abandonado logo após o parto
Far-me-ei tão perto mesmo distante
Podemos ser milímetros a sós
Ouça o que a vida pretende de nós
Se é canção de amor ou de separação
Por favor não fale mais nada escuta...
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Soneto do éden
O seu pecado é morder a maçã
Do medo pondo fim ao paraíso
Que ainda vive da falta de juízo
Existente entre a serpente e tupã
O amor se arrasta tal cobra coral
Pelas folhas úmidas do desejo
E quebra os limites do vilarejo
Num prematuro sonho neonatal.
Por deus, o gênesis foi só o começo
Logo eva, na boléia de um caminhão,
Partiu criando outra civilização
E o único adão sonhador que conheço
No sopro azul de uma chuva de jarro...
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Soneto do efêmero
A vida virgem para conhecer
Trilhas traçadas sem nossa presença
Se acham e começam a se perder
Em tantas essências de uma só crença.
Crer na realização através da amada
Num sentimento infinito e fugaz
Vendo o sol se por na boca enluarada
Vivendo a profecia que se desfaz.
Tão logo a poesia põe-se a se findar
No leito de um desejo inacabado
Caem nossas asas e todo o sonhar.
Confesso a vida como um gozo escasso...
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Soneto do enfrentamento
Alonga-te e arrevoa pássaro poente
Migra à procura de uma ave secreta
Enquanto eu na falta de asas do poeta
Enfrento a saudade em linha de frente
Voa com seu corpo banhado de sol
Voa com seu sexo exposto e ainda deposto
Pelo medo que ainda ao meu contragosto
Raia no mar de seus olhos de farol
Voa e busca o céu de um amor que ficou
No passo no arco no barco no espaço
De um romance que ainda não terminou
Voa e procura na mais alta altitude...
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Soneto do espinhadeiro
Quem nunca caiu no fundo espinhadeiro
Da paixão, que atire o primeiro espinho
Ou que me guie mostrando-me o caminho
Que dá nas rosas do desfiladeiro
Que divide a sorte da morte. Vá
Entre os corações maduros do chão
Rasteja no escuro vão do perdão
Colha ervas e leia sua sorte no chá
Veja no desenho o futuro impróprio
O ontem que esquecemos por esquecer
E aquilo que não se pode dizer
Porque o amor ferido delira em ópio...
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Soneto do guardar-te
Guardo-te ainda estranha, sem quaisquer dimensões
Que falem de tempo ou de espaço. Infinita
E imprevisível, envolta em tantas razões
Tuas, que de entender são difíceis e bonitas.
Entre outros detalhes de sorrisos e flores
Guardo-te, plena, na mais completa clausura
E distante, perco e reencontro teus sabores
Em uma mescla de esquecimento e procura.
Guardo-te poeticamente ainda inacabada
Num sonho contínuo entre saudades e esperas...
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Soneto do habitat
Escuta: meu lugar não é aqui seu moço
Moro lá depois da curva da ponte
Lá onde acaba o arco do céu horizonte
E o vento norte nos vira o pescoço
Meu lugar, seu moço, tem sabiá e ingá
Tem estrela sereia gato e boto
Tem ferrugem de chuva e gafanhoto
E tem uma estrada que não dá lá
Tem lua cheia, meu lugar tem maré alta
Tem história de papão e de pirata
E tem roseiral aberto em espinhos
Tem ancoradouro de pesadelo...
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