Daniel Campos

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22/10/2010 - A invenção ou não do horário de verão

O primeiro dos sintomas visíveis é uma constante abrição de boca, como se a criatura em questão tivesse sido tomada por um quebranto daqueles. Olhos pesados, com quilos e quilos de areia sobre eles. Uma sensação de que se acordou no dia errado, na hora errada, no lugar errado. Parece que lua e sol se desentenderam, burlando as regras de seu platônico e milenar matrimônio. Uma vontade súbita de dormir ou ao menos cochilar. Um desejo contínuo de não se ir a lugar algum. Preguiça deixa de ser pecado para ser uma condição existencial.

Náuseas e outras vertigens típicas de fuso horário. Que lugar é esse? Como vim parar aqui? Bocejos e mais bocejos entre a procissão de ensejos. Uma ou outra lágrima que não é de choro nem de contentamento escorrendo dos olhos pesados e arenosos. A fome não condiz com a hora do almoço ou do jantar. Os horários físicos e biológicos não se acertam. E daí vem uma vontade de fazer todas as coisas no momento errado. O corpo não quer sair da cama. O corpo não quer ir para a cama. O espírito fica de cama.

Tudo está mexido e revirado no planeta dos homens que quiseram brincar de ser Deus ao inventar um novo horário – um horário que não enquadra estrelas ou quaisquer outros astros; um horário que obriga flores a florescerem antes ou depois do tempo; um horário que tenta ser real quando não passa de imaginação; um horário que embaralha o calendário social, econômico, amoroso e ambiental... Definitivamente tudo está mexido e revirado no planeta dos homens que inventaram ou desinventaram o horário de verão.


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