Daniel Campos

Poesias

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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 233 de 248.

Soneto do vendaval

O vento suspira impiedosamente
Roça a face em face ao triste passado
Assobia e leva desvairadamente
Lendas e romances de um baú fechado

Sopra em mim mágoas perdidas e cruas
Tirando-me as vestes do sentimento
O vendaval varre e devasta as ruas
E das lembranças surge o esquecimento

Fujo, mas o amor é uma hemorragia
Das bravas que eu, pobre poeta, não venço
Tombo e me entrego e me vou à ventania

Um furacão negro envolve o meu corpo...
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Soneto dos amantes

Nossas mãos não se dão no vão se vão
Não, não podem morrer assim os traços
Não deixa desatar ao fim os laços
Não podemos nos perder num porão

Onde braços abraçam o vazio
Pés a pé não pisam sete cidades
Olhos professam o pó das saudades
Do futuro que ao seu lado esvai a fio.

E você já tonta pede outra taça
Põe uma venda negra e sob uma corda
Dança valsa enquanto o silêncio passa

Pega uma sombrinha de mãos distantes...
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Comentários (1)

Soneto dos caracóis

Delicada, a mulher sai da calçada
E passa em passos doublé por lençóis
E sobe e desce nas notas da escada
Rodopiando e sonhando em caracóis

E ela baila e ela roda e ela nos gira
Nosso mundo se volta em suas revoltas
E ela mira atira e pira na lira
Do sonho que nos pega e não nos solta

Ai, a mulher vai três passos para lá
Tonteia e desenha um coração partido
Na contradança do salão proibido

E roda como filha de oxalá...
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Soneto dos namorados

Amo! À parte toda e qualquer arte
Convicto de meu sentimento alado
Proclamo-te vênus enquanto marte
Nós, deuses das estrelas, namorados.

E enamorado de amor amiúde
Oferto-te os três anéis de saturno
Um batom de mercúrio e o que mais pude
Colher deste céu lilás que me enfurno.

As velas dos veleiros de além-mar
Todas as notas de um piano cítrico
Mais a explosão de um lírio nuclear

Eis o que venho lhe dar neste dia...
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Soneto dos pés despidos

Nus, passavam úmidos sobre a relva
Deixando o perfume das madrugadas
Caminhavam desvirginando a selva
Fechando e abrindo o destino em estradas

Passo a passo, nas bocas de um olhar
Nas costas de uma explosão de sentidos
Pelos traçados de Madagascar
Traçavam as linhas dos pés despidos

Passavam por porteiras e cancelas
Em busca de terrenos não pisados
De um coração fértil e não explorado

Como o sexo de uma virgem donzela...
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Soneto egípcio

Aquieta-se num silêncio egípcio
E milênios depois acorda e finge
Que é muda de amor, mas grita o propício
Grito ferido da ferida esfinge

Que finge o deserto em dor e se fere
Enquanto frige em si uma epidemia
A areia da impinge tatua a minha pele
Em mil e uma noites de fantasias

Nos seios o tempo finge que hiberna
Mas do seu ventre o medo brota lírico
E escorre quente pelos véus da perna

Que treme de loucura e de prazer...
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Soneto em juras

Só, morro sem ostentar o teu encanto
Sozinho, adoeço ausente a tua presença
O seu silêncio ecoa meu único canto
Você - minha cura e minha doença

Só e tão só, sou denominado - dor
Embriago-me na sonho de seu beijo
Tiro à contradança o desamor
Aspiro você, meu eterno desejo

Suplico até mesmo a sombria morte
A minha esperança não é tão forte
Ela não reflete nos olhos teus

Ajoelho, imploro-a a ser meu leito...
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Soneto em queda livre

De repente, cala o seu medo e se alonga
Em sonhos antes que o mundo lhe prive
Esqueça-se toda em qualquer milonga
E mergulhe no mundo em queda livre

E ao cair, pense e repense as estações
Do seu tempo que de triste foi inverno
Do seu rádio que arranhou duas canções
Do seu trem rosa que trilhou pro inferno

Chegava numa fumaça maria
Toda carga de uma saudade farta
Que logo chegava, partia e sumia

Mas eis a hora de voar por si próprio...
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Soneto entre o ser o se esquecer

Trêmula, a noite quente cai no dorso
Da rosa despetalada em decotes
Pega o mal e o bem-me-quer como motes
E agarra-se às vértices do pescoço

Da lua e vem o desespero de um grito,
No desejo de voltar sua unha fura
A lua de gás que a leva a toda altura
Mar alto, amor alto, alto medo aflito

E entre o momento de subir e cair
A moça na ânsia de se despedir
Joga-se ao lume da saudade rude

E entre o tempo de ser e se esquecer...
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Soneto face a face

Há uma balada aqui para nós dois
Dançarmos uma bela contradança
Seja no saara, no ártico ou na lowes
Em monte carlo. Levanta-te e trança

Seus passos bailarinos no compasso
Dos meus versos. Eu, andarilho, te peço
Que me enlace no aperto do teu laço
Cor de carne e no eu te amo mais disperso

Que há de haver na canção do amor
Que face a face vai pela rua afora
Na garganta tanta de um trovador

Que canta e pranta baixinho à meia luz...
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