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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 70 de 320.
08/02/2011 -
Cidade do Samba em chamas
De repente, as lágrimas de Pierrô lavaram a avenida antes mesmo da chegada oficial do carnaval. Sem ser convidado para a festa, o fogo chegou e queimou plumas e lantejoulas. O sapato da passista virou cinza e nem era quarta-feira. Queimaram-se tudo, da saia rodada da baiana ao estandarte da porta bandeira. Amores de carnaval, extremamente inflamáveis e guardados a sete chaves nos barracões, alimentaram o incêndio. Agora, chora a mulata o próprio destino chamando a vida de ingrata.
De algumas escolas não restou nada. Carros alegóricos foram devastados. Pandeiros e tamborins se calaram. O puxador de samba gritou para os céus mandarem chuva. Mas os deuses estavam sambando em outro terreiro. Sem máscaras os rostos ficaram expostos atravessando o enredo. Não há mais o que esconder, acabou o segredo de qualquer apresentação. A velha guarda chorou de corpo presente. Os sambistas do amanhã choraram pelo hoje. A bateria fez uma paradinha e até agora não voltou. ...
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03/12/2009 -
Cidade mulher
Toda cidade é feminina porque cada mulher é uma cidade. Basta reparar de quantas esquinas é feita uma mulher que se aproxima e se dista dos olhares que a seguem e, até mesmo, perseguem-na vida afora. Toda mulher é rica em relevo e formas geométricas. Seja no corpo ou no espírito essas mulheres são modernas, tradicionais ou futuristas. Podem ser pitorescas como cidadelas ou engenhosas como grandes megalópoles.
Independentemente se pequenina ou grande, se interiorana ou litorânea, se rural ou transcendental, a mulher tem problemas urbanos e grandiosos. Problemas diários, estruturais, ancestrais como todo e qualquer reduto de civilização. Porém, até na problemática as cidades conseguem, assim como as mulheres, serem pólos de atração física e psicológica. Quantos os que caem aos pés de uma cidade e se imaginam felizes ao lado dela, fazendo juras de amor eterno? ...
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17/01/2012 -
Cidade sem tempo
Tudo é tão rápido, tão acelerado, tão breve. A vida é um tiro de festim. Mal começa e já termina antes do fim. O tempo não para. O tempo nos cala. O tempo é tão desigual. É eterno para a dor e curto para o carnaval. O mundo gira e nos leva a girar com ele numa velocidade absurda que nos tira do eixo. O tempo é tão violento quão um murro no queixo. Não se sabe se é preciso correr do tempo, para o tempo, contra o tempo...
Ah! Tirem-me do tempo. Das garras, das presas, das ditaduras do tempo. Minha cabeça é um calendário, meu coração é um relógio. Eu não tenho asas, mas ponteiros. Tenho que estar ali no horário marcado. Tenho de chegar lá sem estar atrasado. Tenho que sair daqui num tempo combinado. Estou jurado aos segundos. O tempo que me empurra é o mesmo que me corrói. Tropeço como folha ao vento enquanto a ferrugem me dói. ...
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05/08/2010 -
Cidade sitiada
Pelos cantos dessa cidade há criaturas sem juízo. Há nascimentos doloridos, vidas rasgando a carne como as pontas de um siso. Há um excesso de indecisos e de sentimentos imprecisos. Há um riso despropositado, sem razão de existir. E há muito prejuízo nisso tudo. A vontade maior é a de abandonar essa cidade, rumar para longe, remar para oceanos de tesouros distantes, para as montanhas dos monges, para o reino dos gigantes dos pés de feijão e das galinhas dos ovos de ouro.
Por essa cidade marcada pela tragédia, é preciso inventar um novo romantismo. Algo que fuja do cinismo dos falsos corações que dizem que amam e mantém o amor preso nos grilhões. Canalhas. Há uma horda de canalhas povoando as cidades de Deus e do Demônio. Há uma ilusão brotando em cada esquina. Há mentiras caindo do céu. Há um levante de ignorantes tomando os ares. Há mulheres vivendo de alface. Há pelo menos um bandido em seu encalce. ...
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16/02/2011 -
Cidade solidão
A solidão é um sentimento negativo por natureza e em permanente construção. Não só pelos acessos em péssimo estado de conservação, pela sensação de noite eterna, pelas paisagens de uma guerra civil e pelas falas decadentes da época em que se flertou com a felicidade, mas também por toda uma tentativa de reerguer-se depois da separação. Separação de algo, de alguém ou, até mesmo, de si próprio. Quem nunca foi obrigado a se separar de sonhos ou projetos?
A solidão é um campo espesso, infinito e ao mesmo tempo claustrofóbico. Tem tonalidades sombrias e temperaturas frias. É o último lugar que se escolheria num roteiro turístico. Ali, em solidão, a vida é falha e pouco convidativa, melhor dizendo, é uma vida degenerativa. Solitários são como ilhas navegando no meio do oceano da multidão. Ilhas que não se comunicam, tampouco interagem com o ambiente. Apenas flutuam no vazio, exterior ou interior. ...
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05/08/2013 -
Cidadela
Um tapete verde sem fim que se estende para depois de onde a vista alcança. Rios largos que se acham mar. Casinhas pequeninas distantes do corre-corre dos grandes centros. Pessoas que vivem da terra, para a terra e a terra. Braseiros que levantam um perfume de dar água na boca. Território que guarda o sangue e a honra de seus conquistadores. Cantorias do silêncio. O relógio trabalha como antigamente. Namoros provincianos pelas praças centenárias. Corações coloniais com toques modernistas.
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02/11/2012 -
Ciganos de Alma
Lembre-se de quem se foi, de quem partiu, de quem não está mais entre nós. Lembre-se de quem se despediu, de quem sumiu, de quem subiu. Lembre-se dos abraços que hoje lhe faltam. Lembre-se dos laços que hoje ainda lhes mantêm unidos. Lembre-se dos traços de um rosto que ficaram marcados no fundo da sua retina. Lembre-se dos passos que hoje trilham outros caminhos. Lembre-se de que uvas viram taças de vinho, flores viram cortes de linho, que o silêncio das árvores vira cantoria nas cordas do pinho. ...
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15/11/2015 -
Cigarra cantou chuva
A cigarra cantou e a chuva chamou pra perto de nós. Cigarra quando canta nuvem de chuva se alevanta. A cigarra cantou e o chão molhou, e o rio correu, e a árvore verdejou. Cigarra quando canta a chuva é certa, a chuva é tanta. A cigarra cantou e o aguaceiro se esparramou pela roça que deus caipira abençoou. Cigarra quando canta a terra de junta almoça e janta. A cigarra cantou e o céu chorou sobre todos nós. Cigarra quando canta criança dorme de manta. A cigarra cantou e o cachorro rolou na lama, o sabiá pulou na laranjeira e a galinha da cama de palha não levantou. Cigarra quando canta bole com as trovoadas e os olhos do lavrador pela invernada se encanta. A cigarra cantou chuva e o céu pretejou, relampeou e a água rolou.
Comentários (2)
07/07/2011 -
Cinco ou mais sentidos
Eu quero sentir o perfume de um limão galego, ver as roupas quarando no quintal, ouvir um canário da terra conversando com um canário do reino, saborear um sorvete macio, falar com um cupido na linguagem do arco e flecha, tocar a flor da pele de uma flor...
Eu quero cheirar o cangote da lua cheia, enxergar o que há por trás dos olhos de uma mulher, escutar o que diz um criado mudo, mordiscar a boca da noite, dialogar com quem já se foi, deslizar as mãos sobre as costas oceânicas da criatura atlântica......
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21/04/2012 -
Cinquenta e duas Brasílias
Já são cinquenta e duas Brasílias circulando pelo planalto central do país. Cinquenta e duas mulheres tão distintas quão complementares.
A Brasília musa de poetas e aventureiros como Juscelino Kubitschek. A Brasília que seduz almas políticas com todo seu sex appeal. A Brasília metrópole com tantos problemas e conflitos internos. A Brasília desenvolvimentista, ora saidinha ora tímida. A Brasília que se veste de estrelas. A Brasília que adora uma conversa de barzinho.
A Brasília que abusa das curvas perfeitas. A Brasília queimada de sol que adora um banho de chuva. A Brasília escandalosa sempre se alimentando de fofocas e denúncias. A Brasília perfumada pelas cores dos ipês. A Brasília que faz piquenique no parque. A Brasília que namora às margens do lago Paranoá. A Brasília revolucionária em estética e conteúdo. ...
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