Daniel Campos

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08/02/2011 - Cidade do Samba em chamas

De repente, as lágrimas de Pierrô lavaram a avenida antes mesmo da chegada oficial do carnaval. Sem ser convidado para a festa, o fogo chegou e queimou plumas e lantejoulas. O sapato da passista virou cinza e nem era quarta-feira. Queimaram-se tudo, da saia rodada da baiana ao estandarte da porta bandeira. Amores de carnaval, extremamente inflamáveis e guardados a sete chaves nos barracões, alimentaram o incêndio. Agora, chora a mulata o próprio destino chamando a vida de ingrata.

De algumas escolas não restou nada. Carros alegóricos foram devastados. Pandeiros e tamborins se calaram. O puxador de samba gritou para os céus mandarem chuva. Mas os deuses estavam sambando em outro terreiro. Sem máscaras os rostos ficaram expostos atravessando o enredo. Não há mais o que esconder, acabou o segredo de qualquer apresentação. A velha guarda chorou de corpo presente. Os sambistas do amanhã choraram pelo hoje. A bateria fez uma paradinha e até agora não voltou.

O malandro durão que nunca foi de chorar, tirou sereno dos olhos. O destaque queimou em grande estilo, como queima o sol. O carnavalesco teve um infarto fulminante. O mestre de bateria desafinou. A comissão de frente chegou tarde quase que fechando o incêndio. O que era colorido ganhou um dos diversos matizes de cinza. E agora cabe aos sambistas de coração desfilarem pela Sapucaí com os pés no chão e o corpo nu com a mesma garra de um fla-flu.


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