Daniel Campos

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05/08/2010 - Cidade sitiada

Pelos cantos dessa cidade há criaturas sem juízo. Há nascimentos doloridos, vidas rasgando a carne como as pontas de um siso. Há um excesso de indecisos e de sentimentos imprecisos. Há um riso despropositado, sem razão de existir. E há muito prejuízo nisso tudo. A vontade maior é a de abandonar essa cidade, rumar para longe, remar para oceanos de tesouros distantes, para as montanhas dos monges, para o reino dos gigantes dos pés de feijão e das galinhas dos ovos de ouro.

Por essa cidade marcada pela tragédia, é preciso inventar um novo romantismo. Algo que fuja do cinismo dos falsos corações que dizem que amam e mantém o amor preso nos grilhões. Canalhas. Há uma horda de canalhas povoando as cidades de Deus e do Demônio. Há uma ilusão brotando em cada esquina. Há mentiras caindo do céu. Há um levante de ignorantes tomando os ares. Há mulheres vivendo de alface. Há pelo menos um bandido em seu encalce.

Pelos cantos dessa cidade há amantes jurando água. Há quem oferte flores de mágoa. Há quem recheie bombons com licores e rancores. Há quem dance entre uma rasteira e outra. Há quem ame só porque está de bobeira. Há quem acredite que a teoria e a prática do amor leve à canseira. Há quem queira viver os privilégios do amor sem ter a menor disposição de viver em uma pedreira. Porque amar é quebrar pedras em busca de um coração cada vez mais lapidado, apropriado a se render ao prazer e ao sofrer do amor.


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