Daniel Campos

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17/01/2012 - Cidade sem tempo

Tudo é tão rápido, tão acelerado, tão breve. A vida é um tiro de festim. Mal começa e já termina antes do fim. O tempo não para. O tempo nos cala. O tempo é tão desigual. É eterno para a dor e curto para o carnaval. O mundo gira e nos leva a girar com ele numa velocidade absurda que nos tira do eixo. O tempo é tão violento quão um murro no queixo. Não se sabe se é preciso correr do tempo, para o tempo, contra o tempo...

Ah! Tirem-me do tempo. Das garras, das presas, das ditaduras do tempo. Minha cabeça é um calendário, meu coração é um relógio. Eu não tenho asas, mas ponteiros. Tenho que estar ali no horário marcado. Tenho de chegar lá sem estar atrasado. Tenho que sair daqui num tempo combinado. Estou jurado aos segundos. O tempo que me empurra é o mesmo que me corrói. Tropeço como folha ao vento enquanto a ferrugem me dói.

Estamos em guerra e o tempo não dá trégua. Nas trincheiras das horas o tempo vai me ferindo, me matando, me jogando fora. Fora de mim. Fora do mundo. Tenho prazo de validade. Sou querer e logo em seguida já sou saudade. Ah! Sou refém da realidade. Como eu queria viver numa cidade sem minutos, sem trocas de sol e de lua, sem agendas... Queria uma cidade onde ninguém soubesse contar o tempo... E que o tempo também não nos contasse...


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