16/02/2011 - Cidade solidão
A solidão é um sentimento negativo por natureza e em permanente construção. Não só pelos acessos em péssimo estado de conservação, pela sensação de noite eterna, pelas paisagens de uma guerra civil e pelas falas decadentes da época em que se flertou com a felicidade, mas também por toda uma tentativa de reerguer-se depois da separação. Separação de algo, de alguém ou, até mesmo, de si próprio. Quem nunca foi obrigado a se separar de sonhos ou projetos?
A solidão é um campo espesso, infinito e ao mesmo tempo claustrofóbico. Tem tonalidades sombrias e temperaturas frias. É o último lugar que se escolheria num roteiro turístico. Ali, em solidão, a vida é falha e pouco convidativa, melhor dizendo, é uma vida degenerativa. Solitários são como ilhas navegando no meio do oceano da multidão. Ilhas que não se comunicam, tampouco interagem com o ambiente. Apenas flutuam no vazio, exterior ou interior.
O resultado de tudo isso é que a solidão é uma cidade inexplorada, pois o habitante deste mundo o renega a todo instante. E quanto mais se tenta fugir dele mais uma força centrífuga ou centrípeta puxa o habitante deste estado desumano para o profundo do fundo da solidão. E a dor, por mais incrível que isto possa parecer, transforma-se em arte nos olhos cabisbaixos e lacrimosos dos solitários. Uma arte que grita, mas não consegue romper a solidão que a produz.
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