Daniel Campos

Prosas

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16/05/2010 - Catherine na Ratolândia

Atendendo a pedidos, publico hoje mais uma história infantil. Bom domingo!

Catherine, uma francesinha de franjinha na testa, passava seus dias esperando pela volta do pai, um marinheiro que, a pedido do rei, partiu, há mais de um ano, em busca de terras distantes. Ela tinha três anos, mas era arteira como só. Sonhava com o dia em que seu pai entraria por aquela porta e, depois de um abraço, contaria histórias de sereias e princesas do mar. Mas enquanto esse dia não chegava, brincava com os barquinhos que sua mãe fazia dobrando papel colorido. ...
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Causos de mogi-mirim

Mais um causo para o folclore de Mogi-Mirim: o dia em que o governador veio para a cidade e o povo não viu. A cidade (a elite da cidade), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o clima de festa. Embora não vi o governador, (assim como mais de 99% da população eu também não fui convidado), ficaram algumas dúvidas:

Quem veio para Mogi-Mirim foi o governador ou o governador que é candidato a governador? Pode parecer a mesma coisa, mas são duas coisas completamente diferentes, principalmente em política em pleno ano de eleições. Neste ano em que não faltam campanhas políticas, é bom lembrar que somos vistos como votos e não como pessoas. ...
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22/01/2012 - Cavaleira do vento

Ela cavalga em noite de tempestade como um raio no meio da noite. Cavalga a pelo e em certas horas é o próprio cavalo. Cavalga com uma espada nas mãos. Uma espada de fogo. Aliás, cavalga quente, suando de prazer. Cavalga como uma lenda feita de carne. Cavalga coroada de rubis. Cavalga como um clarão vermelho flamejando a escuridão. Cavalga movida pela fúria, pela paixão, pelo ciúme. Cavalga sem destino, mas sabendo perfeitamente onde vai chegar.

Ela cavalga no ritmo dos tambores que batem do outro lado do oceano. Cavalga numa passada firme e decidida. Cavalga calando bocas, firmando sua verdade, levando e deixando saudade. Cavalga conduzindo o rumo, a forma e a intensidade do vento. Furacões e vendavais, brisas e tufões, surgem de seu galope. O coração passa em trote. Mulher do ar. Do ar em movimento. Cavalga em terras, céus, mares e corpos. Cavalga em linha reta, sempre em frente, como o próprio tempo que nasce de seus cascos. ...
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15/07/2015 - Cavaleiro da paixão

Minha viola não toca por esmola. Minha poesia não rima com mais-valia. O meu canto não é por dinheiro. Eu amo e me doo por inteiro. Escrevo não para estar entre os dez mais, mas para mexer com o amor dos já e futuros casais. Minhas palavras não imploram por ouvidos, aplausos, olhares. Meus poemas são cupidos que mesmo sem notar estão pelos ares. Eu não quero nada em troca, mas é tão bom saber que meu verso provoca um beijo, um encontro, um reencontro, um desejo. Eu combato a solidão sendo cavaleiro da paixão. E não há paga para um amor verdadeiro, espontâneo e que ata como nó de marinheiro.


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16/06/2013 - Cavalga

Cavalga pelos campos da ilusão. Cavalga pelos amores de cordel. Cavalga pelas ruas de paralelepípedo. Cavalga pelo céu selvagem. Cavalga pela trilha secreta. Cavalga por entre as bicicletas. Cavalga como se não existisse mais nada além de sua montaria. Cavalga em alto-relevo. Cavalga pela paisagem de valsa, de marcha, de frevo. Cavalga como quem assovia uma canção da juventude. Cavalga doce mesmo quando rude. Cavalga amando e desarmando a cavalaria.

Cavalga pela lua amarela de São Jorge. Cavalga abrindo e fechando janelas. Cavalga numa crescente. Cavalga pelas esquinas meninas. Cavalga pelos destinos meninos. Cavalga pelo nascente e pelo poente. Cavalga sem adereços. Cavalga de uma forma sem preço. Cavalga fazendo sua própria estrada. Cavalga com apreço. Cavalga faiscando. Cavalga enfeitiçando. Cavalga revirando a terra como se fosse enxada. Cavalga procurando corações montados e, quiçá, alados.


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19/04/2015 - Cavalheirismo

Eu nunca estive tão perto de ser tão longe. Vivo com os pés no chão e com a cabeça nas nuvens. Meu coração se entrega ao tempo e não acumula ferrugem. Tenho tantas palavras gritando, gemendo, sussurrando e se casando com o meu silêncio de monge. Não tenho medo da morte e mesmo nas horas mais complicadas me considero um homem de sorte, lançado à própria estrada. Não caibo em cova rasa, sou pássaro com nove pares de asa. Estou além do aquém. Sou nó cego e desatado também. Não sigo só, não mesmo. Vou a eito e a esmo. Sou fanfarra fazendo algazarra vencendo na marra toda e qualquer amarra. Sou distante sendo perto, sou gigante ainda feto. Meu teto são as constelações, meu corpo é feito de sótãos e porões. Sigo quebrando grilhões, desencantando solidões, venerando paixões. Sou o aço que se dobra para a flor num cavalheirismo sem pavor de pieguismo, pois no fim das contas, como bailarina que mesmo tonta se equilibra e roda em suas pontas, minha sina é o amor.


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06/09/2008 - Cavalo de aço

Sábado cheira à roça. Aquela terra que tatua a nossa pele, aquele mato que se alastra feito fogo por nossos olhos, aquela solidão interiorana tão bem quista. Ah! E os cavalos de nuvem, de pêlo e de aço galopando campo afora. Nada como montar e domar um trator, desbravando caminhos com seu peito forte. Pelos discos do arado, a terra vai se revirando e fósseis de um tempo ainda não vivido vão ganhando a luz que passa pelas frestas do chapéu de palha. Vez ou outra, o vento lambe mais forte, o trator pula feito burro xucro e a palha do chapéu flutua léguas e léguas pelo ar. ...
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29/10/2011 - Cem anos de Nelson Cavaquinho

Cem anos daquele que viu os barracos como castelos. Cem anos daquele que nunca viu uma criança nascer sorrindo. Cem anos daquele que pisava em folhas secas. Cem anos daquele que em seu jardim só colheu saudade. Cem anos daquele que percorreu os degraus da vida. Cem anos daquele que atrasava o relógio para enganar a morte. Cem anos daquele que queria roubar as gotas de luar dos olhos da criatura amada. Cem anos daquele cuja voz rouca ainda arranha nossos ouvidos.

Cem anos daquele rei vadio. Cem anos daquele que descobriu que nem todos são amigos. Cem anos daquele que sabia que um palhaço chorava por alguém que não o amava. Cem anos daquele soldado do samba. Cem anos daquele que nos contou como é o pranto de um poeta. Cem anos daquele que não queria vingança. Cem anos daquele que descobriu outra afinação e outro jeito de tocar violão. Cem anos do parceiro de bambas como Cartola, de Guilherme de Brito, de Zé Keti. Cem anos do boêmio que passou quatro noites sem comer ou dormir, apenas bebendo. ...
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11/10/2008 - Cem anos de um mundo tirado da cartola

Era uma vez um mágico franzino e negro, que andava com um chapéu-coco de construção em construção, de boteco em boteco, de acorde em acorde. Subia morro, arrastava sandália na periferia, olhava o mundo da janela de um barraco. Sua mágica era realmente boa, merecedora de aplausos. Afinal, vinha gente bronzeada lá da zona sul para ouvir as rimas e os arranjos daquele homem que pouco estudou. Até mesmo os intelectuais da canção se renderam a sua magia. E da cartola daquele mágico chamado Angenor de Oliveira nasciam uma flor, uma escola, uma favela, uma poesia, um jeito diferente de ver, de fazer e de viver o mundo......
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10/04/2010 - Cem dias

Ainda é nítido o estouro das rolhas de champanhe marcando a virada do ano. Ainda é possível sentir as borbulhas do vinho fermentado estourando pelos lábios. Ainda é permitido sonhar com um tempo diferente. No entanto, alcançamos hoje o centésimo dia do ano. Parece que foi ontem, mas já se passaram cem dias. Eis o choque e o susto e a agonia. Cem dias se passaram. E não adianta sair correndo, atropelando seus afazeres, pois não conseguirá fazer em algumas horas o que não fez em cem longos dias.
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