Daniel Campos

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10/04/2010 - Cem dias

Ainda é nítido o estouro das rolhas de champanhe marcando a virada do ano. Ainda é possível sentir as borbulhas do vinho fermentado estourando pelos lábios. Ainda é permitido sonhar com um tempo diferente. No entanto, alcançamos hoje o centésimo dia do ano. Parece que foi ontem, mas já se passaram cem dias. Eis o choque e o susto e a agonia. Cem dias se passaram. E não adianta sair correndo, atropelando seus afazeres, pois não conseguirá fazer em algumas horas o que não fez em cem longos dias.

Seja sincero: até agora conseguiu cumprir quantas promessas de ano-novo? Mudou de vida ou, pelo menos, de caminho? Não! Não adianta tentar emplacar a desculpa de que férias, carnaval e páscoa lhe atrapalharam. Ao menos um dos cem dias deve ter, em algum momento, sorrido para você. Afinal, os ventos mudam de direção constantemente. E se um dia sopram contra, em outro ventam a favor empurrando esperanças e desejos. Ao longo desses cem dias, cem beijos?

Quantas teorias dariam para ser transformadas em prática durante cem dias? Para muitas lavouras, cem dias é prazo suficiente para boas colheitas. Um período cabalístico, propício ao cultivo de carinhos e outros mimos. Após cem dias carregando as pedras da realidade, há de ter encontrado ao menos uma poesia soterrada. Quantos nascimentos, dentro e fora de você, eclodiram ao longo de cem dias? Certamente um número muito maior do que o de mortes e perdas. E só por isso esses um, dois, três,..., cem dias eram para ter valido a pena.

Observação do autor: Dia 10 de abril é o 100º dia do ano no calendário gregoriano.


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