Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 62 de 320.

11/07/2010 - Carta a Vinícius

Caro poetinha,

Sinto em lhe informar, mas se estivesse aqui, com a alma encarcerada num corpo físico, limitado à vida mundana, não escreveria com a facilidade característica. Com todo respeito ao fato de que estaria quase completando cem anos se a morte não ousasse lhe visitar naquele trágico julho de 1980, o obstáculo o qual me refiro não tem relação alguma com a idade.

Sua Excelência, pois foi nomeado ministro de primeria classe, era um descobridor do universo feminino. Um poeta do mistério. Com delicadeza e tato aguçado, explorava o território feminino tanto na superfície estética quanto na profundidade da dialética que há em cada mulher. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

07/02/2010 - Carta ao Saci

Caro Saci-Pererê,

Eu sei que o senhor anda muito ocupado com essas coisas de folclore, mas alguém que lhe quer bem precisa dos seus serviços. E não falo de dar nó em crista de cavalo, tampouco fazer redemoinho no meio do quintal. O senhor precisa, na verdade, usar todo feitiço que há nesse cachimbo que leva na boca para ajudar quem tanto ajudou a mantê-lo vivo por anos e anos de descrença. Pode vir sem medo. Graças aos causos contados incontáveis vezes todos nós já estão mais do que acostumados com a sua presença. Ninguém vai se assustar ou lhe importunar. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

12/06/2016 - Carta de amor à amada mulher amada

Hoje em dia, infelizmente, as cartas de amor estão em desuso. Já foram superadas por e-mail, sms, whatsapp. O romantismo se perdeu. Ninguém mais sequer ouve falar de carta de amor. Mas eu sigo na contramão. Aliás, eu sigo o meu coração. Então... segue minha carta de amor:

Amada mulher amada,

Já se vão dias, meses, anos com a certeza de que nosso encontro não foi em vão. Tanto já trocamos, cruzamos e doamos olhares um ao outro, mas toda vez que nos encontramos é como se revivêssemos a nossa paixão à primeira vista. Nosso amor é irrefutável. Sabemos o que o outro está sentindo só pela respiração. E não sei como isso é possível, mas podemos sentir a respiração um do outro mesmo distante fisicamente. Você concorda comigo desde sempre que nosso amor não é de agora, não é somente dessa vida. Nosso amor não cabe em apenas uma vida. E eu tenho uma felicidade imensa em poder ter sido seu em outras existências. Há algo forte, misterioso e mágico nos unindo. Somente em seu corpo me completo. Somente em seus braços me realizo. Somente em seus olhos encontro o meu caminho. Meus passos são os seus passos. E meus traços já estão misturados aos seus. Você é a minha mulher amada para valer em todos os sentidos. Você é a minha inspiração, a minha transpiração, a minha fusão com tudo o que busco, sonho, semeio. Sempre tive uma inquietude em relação ao amor e, desde que me conheço, procuro você. Procurei você nos livros, nas revistas, na televisão, nas músicas, nas ruas, nas outras mulheres. E quando finalmente a encontrei eu tive a certeza de que nunca havíamos nos deixado. Tudo se religou, tudo se acendeu, tudo se iluminou naquela primeira troca de olhares. Nos achamos, nos perdemos, nos reencontramos, nos falamos, nos beijamos, nos aninhamos, nos alinhamos, nos perpetuamos um no outro, outro no um. Mais uma vez, de dois nós fizemos um... contrariando a física que ficou ciumosa da nossa química. Nós temos um eletromagnetismo que nos conduz inevitavelmente um para o outro. Nós temos um universo de possibilidades, mas só acontecemos de fato um no outro. Nós nos misturamos lá atrás, há milênios, e nunca deixamos de nos atrair. Nossas ondas estão entrelaçadas. Quanticamente falando, nossos átomos vibram na mesma sintonia. E estamos juntos desde as cavernas rumando para as estrelas. Impossível negar o que sentimos. Não dá para esconder, tampouco disfarçar nosso casamento de almas. Podemos errar, tomar estradas opostas, ignorar o óbvio, mas quando menos percebemos estamos ali novamente um para o outro dispostos a consertar, a acertar, a perdoar, a fazer valer essa existência. Não podemos nos adiar mais. Precisamos ir em frente. E eu só sigo em frente se for com você. Porque é você que dá sentido para a minha estrada. Porque é você que coloca cor em tudo o que eu vejo. Porque é você que me faz querer ser melhor. Por você eu rompo os limites, ultrapasso as barreiras, refaço as fronteiras do meu mundo, aliás, do nosso mundo, para tudo se dar da forma mais perfeita. Porque você me faz ir ao encontro da perfeição não poupando esforços ou sonhos. Você me coloca em movimento mesmo quando eu não quero mais nada a não ser o sossego do seu colo quente e o céu que há na sua boca úmida. Você é a minha mulher amada, a minha namorada, a minha esposa, a minha amante, a minha metade, a minha certeza do que sou e de pra onde vou, pois você não é somente o tesouro que garimpo, mas o pedaço que falta do meu mapa para encontrar tudo o que preciso. Que esta carta de amor navegue em uma garrafa pelos mares piratas ou em uma cápsula pelo universo dos astronautas até chegar a você, mulher amada, minha causa e minhas consequências. Estou pronto, mais uma vez, para lutar pelo que somos e somos um. Eu ainda podia falar tanto, mas vou terminar com o que desejo para nós dois nessa trajetória conjunta evolutiva das cavernas às estrelas: que o amor vença!


Comentários (7)

20/04/2010 - Carta endereçada à Lady Laura

Lady Laura,

O tempo passou e seu filho Zunga continuou sempre menino. Um menino que na hora do desespero continua gritando por você. O homem dos carrões, dos brotos, das jovens tardes de domingo continua lhe pedindo para que o abrace, para que o leve de volta para casa, para que lhe conte uma história bonita e o faça dormir. Se fosse dono de um último pedido, certamente Roberto Carlos quereria ouvir sua voz mais uma vez. Mais do que nunca, hoje ele se lembra das vezes que você lhe pediu para aproveitar o tempo, pois ele era só um menino. Um menino jovem, de vanguarda, enfim, da jovem guarda. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

22/03/2010 - Carta póstuma a um avô

Sete dias se passaram. Tempo suficiente para um canteiro semeado de alface germinar. Tempo curto demais para colher as folhas de uma boa salada. Sete dias. O tempo de vida de uma mosca. Mas quem se interessa pela vida de uma mosca? Sete dias. Tempo o bastante para se curar uma gripe. Tempo demais para uma rosa. Tempo de menos para um espinho. Sete dias. Sete novas manhãs. Sete jantares. Sete voltas da Terra em torno de si mesma. Para os girassóis, sete giros. Para os vivos, sete dias a menos. Para os mortos, sete saudades. Para Deus, o tempo necessário para criar o mundo e ainda contemplar sua criação. ...
continuar a ler


Comentários (2)

Cartas e cigarros

Deixou as cartas sobre a mesa e saiu à procura de um cigarro. Um cigarro de pirilume. Um cigarro de lua. Um cigarro de ópio. Um cigarro de si. Ela saiu pelas ruas esfumaçadas e encontrou, em cada esquina, uma ilusão mascarada e um futuro com a cara mais amarrada. Saiu atrás de um cigarro. Procurou nas bocas dos bêbados, dos porteiros, dos taxistas, das prostitutas, dos cafetões, dos garçons, dos policiais, dos violeiros, dos cozinheiros, dos pedintes e dos ouvintes daquela música que ela nunca escutou, mas que alguém havia feito para ela. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

10/07/2016 - Cartas na mesa

As cartas estão todas na mesa. O que falta para declarar o vencedor? Não há espaço para blefe. A mão dita o destino ou o destino dita a mão? Pra que nervosismo? O jogo é franco. Sorte ou azar, isso não existe quando há amor de verdade. Pois o amor de verdade superar sorte e azar a cada lance. Não há vez para superstição. É ou não é. Confia na sua mão. O coração é o destino ou o destino é o coração? Deixa o coração agir que tudo se ilumina, tudo se encaixa, tudo se resolve. As cartas gêmeas sempre se acham, sempre se casam, sempre superar quaisquer outras. Não há o que temer quando se tem a certeza de que o amor sempre vence.


Comentar Seja o primeiro a comentar

01/02/2011 - Cartas para Julieta

Julieta, como uma dessas santas de altar ou tal qual atriz de novela das oito, recebe cartas e mais cartas diariamente. A mocinha que enfrentou tudo e todos por conta de um grande amor foi transformada ao longo dos séculos em uma espécie de referência feminina para assuntos do coração. Transformou-se em esperança, em milagreira, em oráculo. Cartas de vários tamanhos e línguas são deixadas todos os dias por entre as pedras da parede que sustenta o mais famoso balcão da história. O balcão de Julieta e dos amores impossíveis. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

25/04/2010 - Cartilha amorosa

Ama à parte de qualidades ou defeitos. Ama defendendo o direito de amar. Ama sem fazer contas ou regras. Ama em desobediência à razão. Ama numa espécie de magnetismo capaz de atrair até você uma progressão aritmética ou geométrica, como preferir, de amor. Ama ouvindo o que diz o horóscopo quando este lhe for favorável, mas ama, sobretudo, seguindo as estrelas do céu e do mar. Ama num jogo, num vai e vem, um aconchego que não sossega.

Ama sem importar se ela é romântica, simbolista ou modernista. Ama sem perguntar se ela conhece aquela do Chico Buarque. Ama pelos olhares ainda não vistos, ama pelos cheiros ainda não sentidos, ama pelas palavras ainda não ditas. Ama pelo mistério. Ama pele a pele, olho a olho, língua a língua. Ama pedindo paz e exigindo tempestades cíclicas para afastar um possível tédio. Ama provocando e se deixando provocar. Ama sem conhecimento prévio, mas sempre fazendo uma fezinha em suas previsões. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

09/10/2015 - Casa aberta

A minha casa está sempre de portas abertas. A minha asa sempre leva mais um meus voos. Como sempre quis que se doassem a mim eu me doo. O meu coração em chamas é a minha oferta. Vai me chama. Cai me ama. Trai me acama. Sai da lama. Amai ó dama. Eu continuo o mesmo apaixonado. Eu contínuo futuro do passado. Eu e a ao meu lado a saudade do que não foi. A lua me dá oi, olá, adeus. E eu procuro deus pelos meus labirintos. Eu sou o que sinto. E sinto muito pelo que não houve entre nós. Que as marcas dos lençóis fossem as marcas dos corações. O meu tempo está em seus grilhões. Quem sabe numa nova vida, pois essa já deu em despedida. Ave ferida. Nave partida. Base perdida. Se eu ainda acredito nas estrelas? Posso vê-las, mas não posso tê-las pra mim brincando, iluminando meu jardim. Toca clarinete. Sobre a minha mesa o banquete do fim. É tanto sentimento. Quem vai querer? Quem vai comer? Quem vai poder? Que seja bem-vinda a sua realeza o tempo. O tempo... ...
continuar a ler


Comentários (1)

Primeira   Anterior   60  61  62  63  64   Seguinte   Ultima