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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 137 de 320.
Globalização: cooperação ou privatização?
Teoricamente, globalização implica na queda de fronteiras (econômica/ política/ social) existentes pelo mundo. Num primeiro momento pode-se pensar num povo sem fome, sem guerra, com sorrisos estampados nos lábios em vista de um enorme pacto social de cooperação. Entretanto, a globalização se vende como uma proposta de paraíso perdido e age violentamente como uma nova colonização.
Quem controla a globalização são os países desenvolvidos. Eles, os donos da "cultura dominante", impõe as suas vontades ao resto do planeta. É como se o mundo fosse ditado pelas mãos de meia dúzia de ditadores. O exemplo concreto é o discurso que envolve a ALCA (Associação de Livre Comércio das Américas). Fala-se de união, mas nas entrelinhas do discurso de Bush esconde-se uma Cuba que ficará de fora da associação e um protecionismo voltado para os produtos americanos. Irão vender milhões de litros de Coca-Cola, de lanches do Mc?Donalds, de carros da Ford ao longo do continente americano, mas continuarão as inúmeras restrições relacionadas aos produtos de outros países no território do Tio Sam. E é assim com a França, a Inglaterra, a Alemanha... ...
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14/02/2011 -
Gosto de você
Eu gosto de você exatamente assim, como que feita sob medida para mim. Gosto de cada fragrância que nasce em sua pele, em seus pelos, em suas entranhas. Gosto de seus saltos, de seus tatos, de suas manhas, e das suas tramas, do seu jeito de andar, de parar, de pousar sobre a cama. Gosto de sua aristocracia, da sua multidão, da sua poesia-coração, da maneira que encontrou para ser felina e dama na mesma canção.
Eu gosto de você sem tirar nem por: metade ódio metade amor. Gosto das paisagens concretas ou abstratas, conhecidas ou inéditas que surgem em seus olhos de condor. Gosto do seu açúcar e do seu veneno, eu gosto de você assim nenhum quilo a menos, nenhum centímetro a mais. Gosto de você como um barco gosta do cais, sempre por perto. Gosto de você como se gosta de um sonho predileto....
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27/01/2016 -
Gosto inédito
Por mais que eu ame um filme, jamais consigo vê-lo uma segunda vez. Livros, a não ser que eu tenha esquecido a história, também não gosto de repetir. E se eu esqueci a história é porque não vale a pena ler outra vez. Há tanto a ser visto ou lido que não me conformo em perder tempo vendo o mesmo do mesmo. Passo longe do Vale a Pena Ver de Novo. Música boa já ouço mais de uma vez, no entanto, nunca na mesma sequência e sem necessidade de haver imagens. Ou seja, DVDs também vejo, com atenção, apenas uma vez. Nas seguintes, o DVD vira CD. Se puder, jamais faço o mesmo caminho, a mesma viagem, a mesma ordem das coisas. Repetindo o prato principal hei de mudar, ao menos, os acompanhamentos ou a apresentação. Há de haver algo diferente, novo, inédito. Por isso, considero a vida mágica: nascemos, vivemos e morremos sempre de um jeito único. Podemos ter inúmeras reencarnações, mas as formas como chegamos ao mundo, como interagimos com ele e nos despedimos se diferem das anteriores. E o amor? Nunca se ama da mesma maneira. Os beijos, as ligações, o sexo têm identidade própria. E por mais que amanhã vamos amanhecer aparentemente igual hoje, seremos diferentes. Estaremos mais velhos por dentro e por fora e isso conta. O dia é novo e nós também. Quando nos dermos conta disso o mundo será diferente e a vida completamente mágica. O “eu-hoje” morre hoje. Amanhã, serei outro eu. E com isso um reino de possibilidades se abre ao meu favor. A orquídea floresce uma vez por ano e a cada floração, por mais idêntica que possa parecer, as flores são diferentes. O trem que parte não é o mesmo que chega. A goiaba do mesmo pé, inclusive da mesma galha, nunca tem o mesmo sabor. O sorriso sempre tem uma envergadura diferente, assim como a intensidade do olhar. A coloração do céu se altera sem que percebamos. O mundo roda e gira sem parar alterando sem que atentemos para os detalhes causados por esses giros e rodopios. O mar nunca produz a mesma onda. Luas e sóis nunca são os mesmos. O sol que se põe jamais retorna ao céu. A lua nova é literalmente nova, porém cada minguante, crescente e cheia também são novas cada vez que despontam. Pode seguir uma receita à risca, um bolo, uma torta, um pudim nunca ficam iguaizinhos ao passado. Algo pode ser muito parecido, nunca igual. Por isso, amo os vira-latas que na mesma cria trazem exemplares tão diferentes uns dos outros. O espaço muda a todo instante. Num piscar de olho tudo já não é como foi anteriormente. O tempo está agindo, transformando, evoluindo tudo e todos de forma constante, permanente e incorruptível. Ninguém dobra o tempo, mas, querendo ou não, de uma forma ou de outra, dobramo-nos a ele e badalamos como relógios que se atrasam, adiantam e acertam o horário às vezes. Perfeito mesmo, em sua precisão, só o tempo. Nós, inéditos a cada fração de segundo, vamos buscando o novo quando o novo já está em nós, ou melhor, já somos nós.
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08/03/2014 -
Graças a mulher amada
Quando estou perto da mulher amada tudo faz sentido mesmo o que não há sentido. O que não tinha cor imediatamente ganha tonalidades vívidas. Detalhes, até então ignorados, são percebidos e louvados. E em poucos segundos surge um turbilhão de vontades que se rende a um olhar bobo apaixonado. Queria correr, saltar, voar, fazer estripulias e acrobacias, mas fico ali abobado de tanto amar. E me sinto irremediavelmente bem em sentir esse abobamento. Depois dos trinta, coloco-me a reviver a adolescência e até a infância sob a luz desta mulher que nasce a cada segundo na certeza de ser eterna. Sem cerimônia, o amor vai acontecendo de modo que tudo em mim se refestela. Há brilhos por todos os lados. O amor é dito de forma explícita ora por palavras ora por silêncios. Sonhos e mais sonhos, uma multidão deles, pede-me para – com ela – ser sonhados em primeiro lugar. E depois de tantos anos de vida ainda consegue com uma facilidade extrema me fazer sentir uma série de sensações inéditas. E o melhor é que tudo o que é imaginado é possível de ser vivido, pois o amor, suas causas e conseqüências.
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12/01/2011 -
Grama recém-cortada
O barulho daquelas máquinas cortadoras de grama enerva os miolos. Um barulho rasgado, desafinado e, muitas vezes, engasgado. São notas longas, acordes estridentes. E o pior é que quase nunca surgem desacompanhadas. São duas, quatro, seis máquinas gritando ao mesmo tempo aparando os enormes gramados que se esparramam lá fora. Levando esses braços de corte, homens vestidos com macacões grossos, óculos de proteção, botas e quase nada de dinheiro no bolso. As lâminas vão decepando a grama, sem dó ou piedade, a ponto de tombá-la num jardim sem rosas ou violetas. ...
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18/02/2011 -
Grand-Ópera
Quero pegar o trem que me leve para o mês que vem. Quero pegar a rua que me leve para lua. Quero pegar o a trilha que me leve para deserta ilha. Quero pegar o caminho que me leve para um bom vinho. Quero pegar a estrada que me leve à criatura amada. Quero pegar a direção que me leve a uma paixão. Quero pegar a nave espacial que me leve a outro astral. Quero pegar o cavalo de aço que me leve às flores de março. Quero pegar o submarino que me leve ao feminino.
Quero pegar a vela que me leve a outra janela. Quero pegar o nevoeiro que me leve ao meu eu mais inteiro. Quero pegar a vereda que me leve ao bicho da seda. Quero pegar o balão que me leve à próxima estação. Quero pegar a via que me leve ao mundo de fantasia. Quero pegar o destino que me leve ao tempo de menino. Quero pegar o vento que me leve ao rebento. Quero pegar a cruz que me leve à luz. Quero pegar o avião que me leve para o anjo coração....
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12/11/2009 -
Grande Deus
Que mundo nós teremos daqui a alguns anos? Eu sei que não é sua culpa, grande Deus, mas não há como eu não lhe preocupar. Os especialistas em diagnosticar o final dos tempos dizem que o planeta entrará em colapso em 2025, ano em que três bilhões de pessoas não terão acesso à água potável. Ao contrário de um dilúvio, uma desertificação consumirá o mundo que nos cerca.
Quantos sofrerão de sede, desidratação e outras doenças físicas, emocionais e sociais? Afinal, o cordão dos excluídos, que já conta com um número absurdo de integrantes, somar-se-á aos 200 milhões de refugiados climáticos que terão de correr em busca de água, de alimento, de vida. ...
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Grão de mostarda
Era um rosto ou uma parede aquilo que se equilibrava sobre seu pescoço? Essa era a pergunta que andava na cabeça dos bêbados de sol, de fome e de outros tóxicos. Um rosto duro instransponível homogêneo. Como se ela tivesse nascido da muralha da china. Nenhuma maquiagem. Nenhuma expressão. Só uma longa extensão de nada com coisa alguma. Assim, ela corria por entre as mesas de um restaurante de duas, no máximo, três estrelas.
O lugar era condizente com o rosto daquela mulher. Enquanto escondia o rosto, misturando boca, nariz e olhos num mesmo plano, sem profundidade ou relevo, levava seu umbigo sempre à mostra. Não tinha piercings, tatuagens ou qualquer outro marketing. Só o umbigo. E embora pequenino, perdido naquela falta de barriga, surgia como um estrondo diante dos olhos desavisados. Pudera, aquele umbigo tinha mais expressão que seus olhos. ...
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Grávida
Grávida, ela teria o andar equilibrista de sempre. Grávida, ela caminharia um pouco mais devagar. Grávida, existira o cuidado, o zelo, mas os saltos teriam a mesma altura. Grávida, ela traria os últimos botões desabotoados. Grávida, os cabelos viriam presos, não sei por qual razão, mas viriam presos. Grávida, ela passaria a conversar ainda mais consigo mesmo. Grávida, os sobressaltos seriam mais raros. Grávida, misturar-se-ia à barriga numa cena digna de filme europeu. Grávida, ela se pegaria lendo as mesmas páginas de um romance qualquer. Grávida, ela ficaria horas a fio, tentando adivinhar o sexo do bebê, a partir de seus movimentos, embora tivesse a resposta na ponta da língua. Grávida, encher-se-ia de segredos. Grávida, ela iria mergulhar ainda mais em si. Grávida, ela teria todos os motivos e justificativas para deixar escapar uma lágrima. Grávida, ela seria manhosa. Grávida, tantos sonhos seriam gerados com a criança. Grávida, ela procuraria um lugar para se esconder longe de qualquer civilização. Grávida, ela se fingiria carente. Grávida, ela acreditaria em fadas. Grávida, ela dançaria com a barriga, escondida de qualquer testemunha, uma música que há tempos não ouvia. Quem sabe Phill Colins. Grávida, a feminilidade lambuzaria os seus lábios. Grávida, seus sorrisos seriam ainda mais longos. Grávida, ela teria vontade de tantas coisas que não existem. Grávida, ela iria deixar ser tocada pelo sol. Grávida, ela pediria conselhos para a lua. Grávida, ela se tornaria mais arisca. Grávida, ela faria visitas a tantas portas que ela mesma havia trancado. Grávida, ela se sentiria mais forte. Grávida, as contrações não seriam maiores do que nenhuma outra dor. Grávida, o parto seria calmo, sem gritos ou gemidos. Grávida, o maior medo seria ver o bebê deixar o seu corpo. Grávida, agarraria a criança, como sempre tentou agarrar o mundo. No entanto, mesmo com unhas compridas, o bebê escaparia e deixaria a despedida em suas mãos. Grávida, ela se entregaria aos sonhos....
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13/11/2015 -
Grife ainda...
Não vou mais ao cinema. Não peço mais pizza nem guaraná. Não compro nada sem antes consultar os teoremas. Não voo mais. Não ando demais pra não achar pedágio. Não ligo o rádio, escuto de graça o sabiá. Não compro mais livros. Não como uma colher a mais do que me mantém vivo. Não sei mais o que é um banho de rei. Não passo nem perto do teatro pra não cair na tentação de espiar ao menos um ato. Não compro mais camisa, meia ou calça. Não pago para andar na praça. Não tomo mais café. Não custeio a minha fé. Não aposto mais em jogos de azar. Não me dou ao desfrute sequer um torresmo de bar. Não tenho ar condicionado. Não tenho outra viagem senão para o meu passado. Não me rendo às grifes. Não me vendo ainda, grife ainda.... ...
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